quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Adriana Thoma - Escrita de Amizade

Escrever uma carta para alguém a quem tanto admiro, a Ana Luiza, e contar a ela sobre o acaso da minha entrada na educação de surdos me permitiu olhar para o caminho que venho percorrendo nessa área, ao lado de tantos de vocês que participam agora desse curso. Ser lida para o grupo foi curioso: eu escrevi isso? Por que a Larisa selecionou esse trecho e não outro?
Ler a Márcia me tocou... não pude mais tirar os olhos dela quando reconheci a autoria daquela carta que já havia lido durante a semana. E fiquei feliz por não ter perdido a capacidade de me emocionar e de ser tocada por histórias de "sobrevivência" e de luta, de desafios e conquistas. Essa experiência me tocou e não serei mais a mesma quando esse curso terminar. Estou aprendendo um pouco mais com todos vocês. Obrigada por fazerem parte desse grupo e dessa escrita na amizade. Adriana

Eleonora - Valeu a pena.

Na sexta passada (17.10.08), nós encontramos outra vez na UFRGS para discutir os colegas que vieram participar. Mas não para discutir um tema, foi um encontro com quem recebeu a carta e para quem mandei a carta, nós conhecermos e conversarmos junto, foi muito legal. Foi uma pena para mim, porque não veio a pessoa para quem eu mandei e também de quem eu recebi. Eu observei o encontro dos colegas e procurei me integrar aos colegas para eu poder conversar um pouco e me esforcei, mas não me incomodei com aqueles que faltaram. Essa troca é positiva para apoiar e incentivar, poder ter essa ajuda mútua e oferecer condições para se vencer os desafios com os surdos e ouvintes numa busca de trocas de experiências, e menos negativo e sem incentivo. Gostei muito de participar do encontro na UFRGS, e do desafio que foi me integrar com quem participa em sala regular para me transmitir segurança, sentir bem a amizade e conhecer diferenças de experiências. Havia me preparado para o desafio para ajudar aos colegas a se integrar e a dedicação de ser professor de alunos surdos, além é claro, de ter que me reconhecer bastante.
Sinto-me muito bem com essa participação, e no momento não pretendo mudar nada, porque gosto de executar diferentes tarefas e em conhecer diferentes experiências dos colegas na escola.
Vale a pena.

Thaís Monteiro - Retomar o que foi feito.


A proposta de trabalho do último encontro foi interessante e está de acordo com o que propõe o curso:
MEMÓRIAS,EXPERIÊNCIAS,NARRATIVAS,ENCONTROS,APROXIMAÇÕES E TROCAS entre pessoas que tem em comum o trabalho com Surdos.Fiquei na espera para saber quem teria pego o fragmento de minha carta.Pude ler algumas cartas antes e tentava descobrir de quem se tratava aquilo que estava sendo lido.Como uma brincadeira de Amigo Secreto. Muito interessante conhecer as experiências de vida e de trabalho dos colegas. Em função do dia a dia do trabalho, das correrias, do cotidiano pouco tempo nos sobra para reflexões. A experência de escrever foi muito importânte. Retomar o que foi feito resignifica o presente,dá visibilidade e importância ao que estava guardado, adormecido. Ao mesmo tempo percebo que essas memórias e experiências mereceriam um registro. Como um diário pessoal que pudesse ser material para reflexão,avaliação, afirmação e transformação. Escrevo pouco sobre a minha prática e o último encontro desperta em mim a vontade de escrever,apesar não ser uma prática muito fácil para mim. Gostei muito de conversar com Ana Paula,que me enviou sua carta.É um amor de pessoa e uma profissional apaixonada pelo seu trabalho.
Sobre as fotos que enviei a 1ª foi em 2001 ou 2002,uma visita à Bienal com os alunos.Foi muito rico aquele momento que teve uma profissional Surda explicando as obras .A 2ª e a 4ª fotos foram comemorações do dia do Surdo em anos diferentes. A 3ª foto foi em uma exposição de arte no Santander Cultural

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ana Claudia - Fazendo parte das suas memórias

Infelizmente não tenho o que relatar sobre a leitura dos trechos das cartas já que a minha não foi lida, mas posso dizer que foi muito bacana ler um trecho das memórias do meu querido colega Gilberto.
Gilberto é um cara que eu, como muitas pessoas, admiro muito pelo seu profissionalismo e empenho na educação de surdos. Senti-me fazendo parte das suas memórias!
Ana Cláudia Ramos Cardoso.

Carla Tatiana - Espaço de Leitura

Ler sobre a trajetória de vida de um colega e ouvir a minha causou-me estranheza, pois percebi que embora tenhamos histórias de vidas diferentes, todos temos sonhos, desejos, projetos, expectativas profissionais que naquele momento nos aproximava. As experiências que vivenciamos ao longo de nossa vida são fundamentais na apresentação de uma pessoa. Saberes pessoais e profissionais se entrecruzam na construção do ser professor. E nesse espaço de leitura e reflexão, que caracterizou esse momento que passamos juntos, encontrei professores que na ânsia por continuar sua formação, estavam lá dispostos a compartilhar inúmeros saberes, construindo tantos outros conhecimentos. Essa vivência foi muito significativa para mim, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, motivando-me a continuar cada vez mais nesse constante processo de formação. Narrar e ser narrado nos produz, nos transforma, nos autoriza a ser cada vez mais contadores de nossa própria história.

Graciela Marjana - Espaço de Leitura

Ler sobre a trajetória de vida de um colega e ouvir a minha causou-me estranheza, pois percebi que embora tenhamos histórias de vidas diferentes, todos temos sonhos, desejos, projetos, expectativas profissionais que naquele momento nos aproximava. As experiências que vivenciamos ao longo de nossa vida são fundamentais na apresentação de uma pessoa. Saberes pessoais e profissionais se entrecruzam na construção do ser professor.

E nesse espaço de leitura e reflexão, que caracterizou esse momento que passamos juntos, encontrei professores que na ânsia por continuar sua formação, estavam lá dispostos a compartilhar inúmeros saberes, construindo tantos outros conhecimentos. Essa vivência foi muito significativa para mim, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, motivando-me a continuar cada vez mais nesse constante processo de formação. Narrar e ser narrado nos produz, nos transforma, nos autoriza a ser cada vez mais contadores de nossa própria história.

Sônia Mara - Não leram a minha carta

Foi muito interessante a dinâmica do último encontro.
Os fragmentos das cartas numa caixa de correio trazem certa nostalgia. Confesso que a dinâmica proposta trouxe para mim uma expectativa de que a qualquer momento eu pudesse identificar a minha carta.
Participei da atividade lendo um fragmento de uma carta e para minha surpresa, era a segunda vez que se lia frases do mesmo colega.

Acho que colocaram mais de um fragmento da mesma carta.
Em suma. Não leram a minha carta.
Sônia Mara Bonato Luisi

Karin Wentzel - As experiências escritas

Ouvir minha história na leitura de outro é

Procurar a certeza de que foi compreendido o que eu quis dizer.

Ler a história do outro,

Foi tentar colocar aquilo que passou de forma viva,

Assim como as experiências escritas

Janaína dos Santos - O que sobra para mim

Na leitura do trecho das cartas e da minha própria um misto de sentimentos me invade alma, é alegria, são emoções variadas, alívio e contentamento de saber que há pessoas que tiveram e que tem uma caminhada parecida com a minha .
E que todos em algum momento venceram seus medos para estar onde estão agora.
O que sobra para mim neste momento são muitas expectativas de trocas e aprendizagens durante este curso.

Gilberto Maia - Lembranças reforçadas

Quanto a experiência de ler e ser lido:
Reforçam-se as lembranças e é possível perceber que existe um link que torna-se presente em todos os relatos: processo de educação de surdos.
abraços Gilberto Maia

Maria Cristina Simioni - Namoro por carta.

Gostei de fazer a carta. Sou uma jovem quarentona e fui ter telefone só depois de casada, então namorei por carta... É muito bom! A escrita me organiza, me faz mais reflexiva, mais cuidadosa com as palavras. Escrever essa carta resignificou a opção pela educação de surdos e me aproximou deste novo grupo; a proposta foi suave sem rigorismos acadêmicos, um presente como no texto "Sobre a lição". Abraços, MariaCristina Simioni

Graciele Marjana - É chegado o momento

É chegado o momento: deixar vir através das palavras, palavras estas, em momentos singelas, em outros, ambíguas, palavras criadoras e indicadoras de posições, palavras inspiradoras, protagonistas de situações e emoções. A produção, por palavras, de uma carta expondo parte de minha vida, a leitura de outras tantas, e a exposição de distintos momentos, variadas experiências, formas de viver e compreender a vida possibilitaram em mim o empreendimento em mais um ato de escrita. Aproximar experiências distintas através da escrita é trazer para os orifícios da possibilidade formas de ver, de narrar, de olhar e vivenciar situações e empreendimentos com a comunidade surda.
Entendo que esses momentos iniciais, no entanto, marcantes, permitiram uma aproximação efetiva com narrativas emocionantes, de enfrentamento, de resgate e reconstrução de alguns espaços importantes na vida de cada sujeito. As exposições proferidas ofereceram a abertura para o compartilhamento, para um deixar vir, para o (des)conhecido. As diversas formas de ler, de escrever, de se expressar produziram em mim um sentimento de querer mais, de continuidade e efervescência de um porvir desejável.
Necessito ser muito sincera, estou me sentindo maravilhada em poder estar participando destas narrativas de experiências, é um momento indescritível de trocas e reencontros e de possíveis engendramentos futuros.

Graciele Marjana Kraemer

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Paula Weiss - As palavras na Carta

As palavras na carta foram colocadas através da minha sensação, da minha reflexão, das recordações... No momento em que escrevi, já estava refletindo ao mesmo tempo, pensando, olhando o passado, o presente, relembrando a cada momento, a cada dia em que estive lá... Porque hoje não existe mais a volta igual daqueles dias... É como um diário de adolescente, que anotamos tudo o que acontece a cada dia em volta de si na sociedade, e isso me pareceu ao passar as palavras na carta.
E isso é muito bom, e lembrou também que a “carta” é uma coisa que já não quase existe mais em nossas vidas, pois temos a tecnologia de emails. Lembro-me que eu me correspondia cartas a uma amiga de infância que hoje perdi completamente o contato com ela, e aqui na memórias e narrativas fez a correspondência na sala, foi uma maneira mais legal e nós aproveitamos e pudemos expressar um pouco o dia a dia de sua vida e conhecendo um pouco de seus colegas.


Paula Weiss

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Memória Fotográfica de Rosa Virgínia

Rosa Virgínia - As Mães

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Quando soube do sorteio, gostei da carta que li apresentando histórias pessoais. Lendo, entendi o tema principal da carta da Cláudia Fialho que dizia: “Graças a Deus e a minha mãe que sempre me apoiou”. Penso que posso dizer o mesmo de minha mãe. Fico feliz por minha mãe dar apoio, o que acredito ser o mesmo para surdos e ouvintes, e isto é maravilhoso.


Beijo, Rosa Virgínia



Liege- A primeira a ler

Como fui a primeira ler para o grupo, fiquei um pouco nervosa e envergonhada, mas quando meus colegas e amigos surdos me pediram para sinalizar o fragmento da carta sorteada, fiquei feliz e sinalizei tranqüilamente. Sinalizei a carta da Paula e achei muito bonito tudo o que ela escreveu pois na carta ela demonstrou a grande alegria do momento em que conheceu a Língua de Sinais.
Li um fragmento da carta da Paula e coincidentemente a Paula leu o fragmento da minha carta, fiquei surpresa ao vê-la sinalizando um pedaço do início da minha caminhada ao lado dos surdos. Achei interessante quando ela sinalizou que imaginou quem poderiam ser as irmãs gêmeas surdas descritas na carta, eu então fiz o sinal da Márcia e Fernanda e ela sinalizou que achava que eram estas mesmas.
Um abraço e atenciosamente,
Liège

Ana Luiza - Escrevendo um pequeno registro.

Oi tudo bom!

A Adriana me mandou fazer a frase, o que eu sinto perceber um pedaço de texto da carta.

Então eu fiz a frase:

Na sexta-feira encontrei com as colegas, a monitora levou uma caixa, eu sortei um pedaço do texto para apresentar a uma outra colega em língua de sinais com a intérprete fazendo a tradução da língua de sinais para língua portuguesa oral. Eu observei a atenta que quem está falando comigo do um pedaço de texto. Percebi fácil era única bem diferente profissão digitadora outra, por isso mudei de profissão e fui para a área educação, então o tempo foi passando muito rápido e até hoje sou educadora surda. Cresci na minha profissão como pedagoga e foi uma rica caminhada repleta de descobertas que vão sempre mudando de acordo com o tempo.

Beijos ,Ana

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Narrativas Docentes

Escher




Da mesma forma que aquele que remete um presente ou uma carta, o professor sempre está um pouco preocupado para saber se seu presente será aceito, se sua carta será recebida e merecerá alguma resposta. Uma vez que só se presenteia o que se ama, o professor gostaria que seu amor fosse também amado por aqueles aos quais ele o remete. E uma vez que uma carta é como parte de nós mesmos que remetemos aos que amamos, esperando resposta, o professor gostaria que essa parte de si mesmo, que dá a ler, também despertasse o amor dos que a receberão e suscitasse suas respostas. (Larrosa, 2001, p. 140)

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

domingo, 19 de outubro de 2008

Fragmentos



UMA PARTE DE MIM...
Pois bem, é necessário começar a falar... são tantas coisas, tantas alegrias e também tantas incertezas, momentos inesquecíveis, momentos de não saber o que fazer ou o que escolher, momentos...Então, nada melhor que dar início à exposição de parte de minha vida, ou melhor, de parte de mim.

Neste tempo eu estudava em escola especial para surdos pela manhã e a tarde em uma escola para ouvintes. Esta época foi muito difícil, minha mãe me disse que eu não me relacionava bem com os colegas ouvintes, a professora ouvinte escrevia no quadro – negro e eu não acompanhava o mesmo tempo das outras crianças, a professora caminhava e falava pela sala de aula ensinando, a cada dia eu perdia mais e mais em relação ao aprendizado... destas coisas eu me lembro.

Ao completar a quinta série do antigo 1º grau, tive que buscar minha escolaridade em uma escola de ouvintes, foi grande a tristeza de deixar o espaço onde cresci e pude ser compreendida como uma pessoa com capacidade de construir a própria vida.
Fui então, para escola em Guaíba onde meus pais moravam, confesso que a insegurança em relação ao desconhecido me assustava, não tinha intérprete na sala de aula mas conseguia ler, me esforçava nos estudos, fazia as tarefas sozinha e as vezes minha mãe ajudava, ela trabalhava o dia todo na escola.

Quando completei seis anos de idade, minha mãe procurou escola na cidade em que morávamos (Feira de Santana) que era uma cidade pequena na época e só encontrou a APAE para deficientes em geral. Ela não gostou, pois queria uma escola especial para surdos. Fomos então morar em Salvador onde então conseguiu uma escola especial para mim.

Os professores de área corajosamente foram se instruindo em LIBRAS, em cursos oferecidos pela PMPA em convênio com a FENEIS e atualmente trabalham sem intérpretes.

A entrada dos educandos surdos despertou a minha curiosidade e a vontade de estabelecer comunicação, por isso comecei a freqüentar os Cursos de LIBRAS, em 1.998, sem a intenção de trabalhar com surdos, apenas aprender a Língua.

No ano de 2003, apoiei a professora Fernanda no estágio da faculdade, que também era Orientação Educacional, período em que a Ulbra estava passando por momento difíceis em relação aos interpretes. Durante as atividades de apoio, eu participava dos momentos na escola Frei Pacífico junto ao Serviço de Orientação Educacional como voluntária. Foi bárbaro, pude aprender juntamente com a Fernanda como funcionava o SOE em uma escola de surdos.

Na escola tinha a competição dos alunos do time Branco contra os alunos do time Azul, eu era líder do time Branco e organizador do meu grupo, fui vencedor. Pensava em ingressar na faculdade junto com os ouvintes, mas me angustiava: “será que terei intérprete?” Perto de me formar no 2° Grau, consegui um estágio como arquivista, trabalhei ao longo de seis meses. Pensava também na possibilidade de cursar informática, pois também observava as minhas aulas de informática e gostava.

São tantas coisas, tantos acontecimentos, atravessamentos, vitórias, alguns desânimos que fica difícil de colocar tudo aqui. Há uma saudade gostosa de relembrar o que passamos juntas, e às vezes me parece fugir o que vivemos no presente. Acho que esta carta tem um tom de reencontro com os que passaram e com tudo o que passou.

Pessoas sérias, comprometidas com a educação, tive de corresponder a todo o estímulo que me davam e acho que não fiz feio. Dentro daquela escola desenvolvemos projetos importantes, saiba que até entrar de caíque na Ilha dos Marinheiros para dar aulas de reforço nós entramos. Ao final do curso, já de posse do meu certificado de conclusão, fui convidada pela Ronice a fazer uma experiência na antiga Escola Especial Concórdia. De imediato tive muito medo, pois via Ronice comunicando-se com seus pais e alunos e sua destreza na Língua de Sinais me inibiam, mais que isso me apavoravam, pois acreditava que para trabalhar com surdos tinha de ter no mínimo uma competência em Libras igual a dela.Nossaaaaaaaaaa como eu era ingênua.Até hoje depois de 20 anos não chego nem aos pés da Ronice., rsrsrsrs

Adorava levar minha irmã para escola e ver como ela ficava feliz conversando com suas colegas. Suas amigas sempre estiveram por perto em toda nossa infância e adolescência. Sempre que podia assistia as suas apresentações e festas na escola. Sempre achei que podia trabalhar nessa área, mas não tinha muitos recursos para aprender mais a não ser através dela. Mas quando ingressei na faculdade tive contato com vários surdos e isso me reacendeu a vontade de trabalhar com surdos. Comecei a fazer então, cursos de libras e trabalho voluntário de intérprete na faculdade

Quando entrei no mundo dos surdos... Foi uma porta que abriu para minha liberdade, e o meu sorriso ficou brilhante, feliz e curiosa... E ganhei muitas amizades... Foi como “correntes à solta”, nome do meu livrinho que fiz...

Adorei o curso, terminei o mesmo determinada a trabalhar na área da educação de Surdos. Passei a trabalhar na Sala de Integração e Recursos com alunos D.A e alguns Surdos incluídos no ensino regular. Não tinha experiência alguma nesta área e, nem eu nem meus alunos sabíamos Língua de Sinais. Neste momento passei a ter contato com as primeiras histórias de fracasso escolar de alunos Surdos causada por uma ‘inclusão’ que apenas excluía. Quando abriu as inscrições para o 1º concurso municipal na área da educação de Surdos, me inscrevi e passei a me preparar para as provas. Em abril de 2001 fui nomeada e assumi o trabalho no Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire.

Me formei em 2004 e sou apaixonada pela minha profissão de professora de surdos. Nas minhas aulas posso trabalhar a cultura surda, além de ser um modelo de surda adulta, posso auxiliar os meus alunos na construção da identidade surda.
Pretendo continuar atuando como professora e participando na luta em defesa dos direitos dos surdos e por uma educação de qualidade.
Sabe que os nossos nomes são parecidos?

Pretendo continuar atuando como professora e participando na luta em defesa dos direitos dos surdos e por uma educação de qualidade.
Nessa experiência, fui capturada para a educação de surdos. Mas quando voltei para casa e disse para minha mãe que faria vestibular para esse curso, ela ficou preocupada. Me disse que eu não tinha perfil, pois para ser professora era necessário muita calma, “ainda mais para ser professora de crianças surdas...”. Fiz o vestibular para área mesmo assim e entrei no curso em 1990.

A escola atendia os pais quinzenalmente. Eu freqüentava duas fonos com técnicas diferentes, o tratamento era de primeiro mundo. Alguns anos depois, passei a freqüentar uma escola para ouvintes, indicação da própria CEAL, o nome da escola era Caminho Feliz.Quando eu estava preparada para ingressar na primeira série do ensino fundamental, voltamos para o RGS, para uma cidade do interior, Arroio do Tigre perto de Sobradinho. Como vivíamos no interior, fui estudar junto com os meus irmãos mais velhos, ouvintes, em uma escola de Irmãs. Eu não consegui me alfabetizar.

Nós dois tínhamos trabalho, nos formamos na faculdade. Casamos, e depois de um tempo resolvemos ter um bebê. Depois de um tempo eu larguei o meu emprego em Esteio e passei a me dedicar somente ao Frei Pacífico, para ter mais oportunidade de estudar.

Meu primeiro contato com surdos foi na infância, tinha dois tios surdos um da família de meu pai e outra da família da minha mãe, curiosamente ambos se chamavam Mário. Um usava um aparelho num dos ouvidos, lembro que quando a família de meu pai se reunia ele sempre participava das conversas com um fone no ouvido ligado a um fio que ia até um aparelho preso na cintura, mas, numa família de origem italiana e afro seguidamente brincavam com o tio Mário. O pessoal começa a falar cada vez mais baixo e o tio ia aumentando o som do aparelho, de repente falavam bem alto e ele levava um susto ou alguém ia por trás dele e mexia no botão do volume abaixando o som. Ele xingava todo mundo, mas, tudo acaba em festa. As brincadeiras não eram só com ele, meus tios e primos mais velhos estavam sempre brincando uns com os outros.

Com três tios surdos na família, lembro que na minha infância não havia discussões sobre a educação de surdos e nem tanto, questões lingüísticas, direitos e comunidade surda. Minha família sempre preocupou-se com a escolarização, necessidades e como comunicar-se com os surdos, já que eram três numa prole de onze irmãos ouvintes.

Mas como sou persistente, consegui trabalhar onde eu deveria estar desde o começo(hoje percebo isso), pois adoro o que faço e não me imagino mais dando aula para os ouvintes.
Qdo jovem ficava fascinada vendo grupos de surdos q conversavam na rua da Praia (o que aliás motivou eu e minha melhor amiga a inventarmos sinais e fazermos um alfabeto datilológico particular)e meu conhecimento sobre povo surdo era apenas essa. Ao iniciar o trabalho no Cmet é q realmente tive contato com a comunidade surda.

Pensando no passado. Lembrei que comecei a trabalhar em uma empresa, onde desempenhava a função de digitadora, nem pensava ensinar, em ser educadora...
Na época quem governava era o Presidente Collor mudou todo a econômica, então perdi o emprego. Estavadesempregada. Minha amiga me disse que eu deveria estudar para me formar e conseguir rápido um emprego. Já era formada no 2º grau. Não tinha currículo com muita experiência, só de digitadora. Não gostava da profissão de professor/educador. Porém o conselho de minha amiga desafiava-me, pois é muito importante estudar para crescer profissionalmente e ter uma formação.

Quando era pequena eu tinha 4 anos de 1989 anos fui primeiro na escola especial Padre Réus até formou de 2007 anos complemento 18 anos nunca fui outro na escola.
Hoje primeiro vez faculdade sou estudante LETRA / LIBRAS em UFRGS.

Fui atrás do meu sonho e ingressei no Magistério, nunca me esqueço da cena do meu primeiro dia de aula, aquelas duas jovens com aparelhos auditivos sentadas nas primeiras fileiras da sala, olhando para o professor, enquanto os outros riam conversavam elas ficavam com a mesma expressão. Foi então que perguntei para uma colega: “o que acontece com elas?” e uma colega respondeu: “são surdas”! Sentei ao lado delas e comecei a escrever bilhetes, tentando ajudá-las de alguma forma, foi a primeira vez que vi a Língua de Sinais. Desde aquele dia nunca mais nos separamos, dia-a-dia fui aprendendo mais e mais sinais, e meu amor crescia por esta língua, nesta época não sabia que era uma língua, achava que era apenas uma forma de comunicação. Fiquei mais admirada ainda, quando as meninas me disseram que eram irmãs gêmeas.

OOOOiiieee td bem??Estou bem..eu vou te disse uma história da minha vida..Eu nasci em Esteio.Quando Minha a mãe estavam gravida e eu nasci hospital em Esteio e ficaram doente AMARELÃO...e ficaram surda..Eu estudava em Esteio na escola Estadual Especial Padre Reus...

Para finalizar esta breve escrita ( carta ), acredito que despedir-me, seria um tanto brusco, pois até por possuirmos “ recortes comuns “, como já mencionado, penso que estaremos a partir de agora estreitando os laços, “ procurando agulhas e linhas “ para fazermos quem sabe uma “ colcha “ de nossas histórias.

Sempre amei crianças, por isto quis muito trabalhar na área da educação.

Fiz o curso de Magistério e sabia que estava no caminho certo.

Passei por um teste vocacional no 3º ano no magistério ,que me sinalizou estar correta na escolha da área da educação para o vestibular.

Ao ingressar na faculdade de Educação Especial –Habilitação Deficientes da Áudiocomunicação – em 1990 ,logo fiz muitas amizades e senti-me muito feliz por estar em um espaço que me propiciaria novas descobertas e grandes aprendizados e experiências . Durante o curso na UFSM ( Universidade Federal de Santa Maria )eu e minhas queridas colegas Adriana ,Márcia ,Liliane e Maura sempre buscamos ampliar os conhecimentos e a atuação da educação especial em outros espaços

Então antes de assumir o grupo fui um dia de manhã para vê-los e conversar com a professora da turma. O combinado era eu voltar na quarta-feira, dia 15 de junho de 2.005, data do início da licença da professora para começar a trabalhar com a turma, ainda acompanhada por ela é claro! No dia marcado cheguei e fui subindo para o quarto andar, tentei ir conversando com os alunos usando minha parca comunicação e o tempo foi passando e a professora não chegava, o que era muito estranho, pois nada havia sido comunicado sobre sua possível ausência. Outra colega resolveu ligar para a professora e todos fomos informados que ela dera a luz no seu primeiro dia de licença! A minha primeira aula deu-se no susto de me ver sozinha tentando explicar, em LIBRAS e com gravuras, aos alunos que sua professora havia ganhado nenê. Bah!

Dos dez alunos que iniciaram o ano letivo, dois abandonaram a escola, a família pensa não valer a pena investir. Dos outros oito, só dois se caracterizam por apresentar apenas surdez. Diante deste contexto o meu orgulho se quebra e percebo que a fluência em língua de sinais é o mínimo que devo ter.

Sinto-me muito bem com o que faço, e no momento não pretendo mudar nada, porque gosto de executar diferentes tarefas e em diferentes lugares. Gosto de ser pessoa de outro mundo, porque sou surda, também ser corajosa, bonita, legal de meus amigos, trabalho, estudar na faculdade e tenho muito para aprender a fazer as coisas novas.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

De Graciele para Cássia

UMA PARTE DE MIM...
Pois bem, é necessário começar a falar... são tantas coisas, tantas alegrias e também tantas incertezas, momentos inesquecíveis, momentos de não saber o que fazer ou o que escolher, momentos...Então, nada melhor que dar início à exposição de parte de minha vida, ou melhor, de parte de mim.
Oi Cássia, tudo bem? Fiquei muito feliz em conhecê-la e partilhar um pouco de minha experiência referente à Educação de Surdos. Nasci numa cidade do interior do rio Grande do Sul, chamada Santo Cristo. Nesta cidade vivi até meus 14 anos, lá não tive nenhum contato com pessoas surdas, e sim, com pessoas com alguma deficiência mental, paralisias, e/ou pessoas que apresentam algum comprometimento mental. Assim, durante muito tempo de minha vida, entendia que as pessoas que apresentavam alguma característica física, de comunicação, de compreensão ou qualquer outra marca diferente, eram pessoas deficientes.
Perambulei durante alguns anos conhecendo cidades do Rio Grande do Sul e também do Paraná, isso decorreu principalmente em função das mudanças realizadas pela minha família e também pelos meus estudos. No entanto, em 2003 passei no curso de graduação em Educação Especial – Deficientes da Audiocomunicação em Santa Maria. Logo no início do semestre participei de projetos de pesquisa que problematizavam a relação família e criança com necessidades especiais. Também tive a alegria de ter como colega de curso um sujeito surdo.
PROJETO FAMÍLIAS: Um começo...
Durante a graduação experenciamos muitas discussões, trocas, enfrentamentos, medos, dúvidas e vivências na Educação de Surdos. A cada semestre pude me identificar mais com a escolha que havia realizado inicialmente de forma aleatória. Fui timidamente mantendo contato com a comunidade surda de Santa Maria, realizando observações na escola de surdos e discutindo alguns pontos de vista com meu colega.
No segundo semestre de 2006 realizei meu estágio curricular na Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, da cidade de Porto Alegre. Esse foi o começo de uma caminhada que venho trilhando como professora de surdos. Sinto-me em muitos momentos como que estando em frente a uma encruzilhada, ou então, num caminho obscuro, que é percorrido passo a passo no enfrentamento dos obstáculos impostos pela sociedade majoritariamente ouvinte. Entretanto, é no espaço da Educação de Surdos que pude vivenciar conhecimentos antes nunca sentidos, conviver e aprender com os surdos é para mim a essência das minhas ações neste momento.
Sinto-me realizada na minha escolha, gosto muito de trabalhar com crianças, pois elas não se cansam de questionar, bem como, não aceitam respostas efêmeras. São os sujeitos com os quais mantenho contato que me fazem colocar sob suspeita a minha prática e os discursos que cercam os surdos. As crianças surdas são pesquisadores sedentos de questões, que apresentam uma caminhada possível na conquista de uma sociedade que respeite a diferença.
Momentos...
Deixo claro, que minha experiência é, de certa forma, breve, mas ao mesmo tempo, uma experiência indescritível na minha construção de vida. Compartilho com os surdos o sonho de trocar experiências, o sonho de buscar uma educação efetiva, ampla e concreta e a felicidade de estar com eles no amanhecer de todos os dias...
Cássia, essa é minha rápida exposição, tenho certeza de que teremos ainda outros momentos para nos conhecermos melhor, um abraço amigo e até a próxima semana.
Com carinho, Graciele Marjana Kraemer.

De Claudia para Valéria

Querida amiguinha Valéria, foi muito bom ter sido você a minha amiga secreta, já conhece a minha história, mas é muito bom poder te escrever e contar a minha história de outra forma, agora através de carta.
Fiquei muito feliz em poder te mostrar alguns dos momentos da minha vida que foram e são importantes para mim até hoje, minha fofinha (você sabe que esse apelido é o símbolo da nossa grande amizade que ficou depois que você foi embora da minha escola).
Neste tempo eu estudava em escola especial para surdos pela manhã e a tarde em uma escola para ouvintes. Esta época foi muito difícil, minha mãe me disse que eu não me relacionava bem com os colegas ouvintes, a professora ouvinte escrevia no quadro – negro e eu não acompanhava o mesmo tempo das outras crianças, a professora caminhava e falava pela sala de aula ensinando, a cada dia eu perdia mais e mais em relação ao aprendizado... destas coisas eu me lembro.
Eu sabia que aquela escola para ouvintes não combinava com o meu futuro. Tive sorte, pois a minha mãe percebeu a importância da escola especial para surdos e então passei a estudar somente nesta escola. Nesta escola para surdos a minha mãe acreditava no trabalho que os professores desenvolviam, e que naquele espaço eu conseguia acompanhar as matérias trabalhadas em sala de aula. O caminho que segui deu certo, Graças a Deus e a minha mãe que sempre me apoiou.

“GRUPO GRANDES LUTADORES”

Este nome foi criado pelos surdos que estão na foto ao lado, éramos jovens e utilizávamos a língua de sinais, nós nos reuníamos e discutíamos a importância dos surdos se organizarem, discutirem e lutarem pelos seus direitos de cidadãos. Foi grande a nossa trajetória, sabíamos que éramos surdos capazes de fazer coisas maravilhosas e que podíamos lutar pelos nossos próprios sonhos. Estes sonhos conseguimos concretizar: professor, artista, político, trabalhador de alto nível, além de graduados, pós-graduados e Mestres. Na escola especial para surdos em que estudávamos, fomos pioneiros, pois lutamos junto a fundadora da escola para assumir a criação do ensino médio. A conquista do ensino médio, foi uma batalha que valeu, foi importante e marcou as nossas vidas.
FOTO DA FORMATURA DO CURSO DE PEDAGOGIA- 2008

Após o término do segundo grau na escola escola especial para surdos, fui atrás do meu sonho de ser professora. Pedi para ser auxiliar de professora com as crianças surdas, nesta mesma escola especial para surdos em que me formei, e a Direção da escola aceitou. Decidi ser auxiliar para ver se realmente queria seguir a profissão de professora. Este tempo em que permaneci auxiliar de professora foi uma grande experiência para mim. Busquei então as escolas com magistério em Porto Alegre, mas nenhuma delas me aceitou por eu ser surda, sofri preconceito. Uma vez fiz uma prova para ingressar no magistério e a supervisora do curso me disse: “como você vai estudar aqui e se formar se você depois vai lecionar para escolas com crianças ouvintes”? E eu respondi: “Eu não vou lecionar para ouvintes e sim em escolas somente com crianças surdas”. Fiquei muito angustiada com toda esta situação. Eu pensava: “o mundo não sabe que a vida é assim, que os surdos também podem se formar professores”. Por estes motivos, em 1990, fui cursar magistério em São Lepoldo e acreditei na minha capacidade, minha mãe me aconselhava em não desistir do meu sonho de ser professora... continuei lutando ... venci os obstáculos... e foi então que me tornei a primeira surda se formar no magistério. Desde então lecionei nas séries iniciais , hora conto , instrutora em Libras, e agora faz 8 anos que estou lecionando na Educação Infantil com crianças surdas em uma escola particular em Porto Alegre ( a mesma escola em que estudei por anos). Em 1999 prestei concurso para a rede estadual de ensino e passei e isto foi uma outra vitória e grande alegria... Portanto, leciono para jovens surdos na rede estadual de ensino e na rede particular de ensino, leciono para crianças surdas, ambas as escolas são especiais para surdos. A educação de surdos para mim, hoje, parece estar ligada a minha vida, presenciei muitas situações e fui construindo o meu caminho desde pequena bem como a minha identidade surda e ao longo desta jornada, nunca esqueci da minha comunidade surda e de seus direitos. Hoje em dia me sinto segura e independente, estou ficando mais tranqüila com o passar do tempo. Tenho grande orgulho de ser surda !

Formação realizada....

Tudo que eu sempre lutei, na minha opinião, conquistei. Tive grande sucesso na minha formação e concretizei o sonho de ser professora surda. Quando iniciei a minha carreira de professora, percebia que faltavam modelos de professores surdos, para tanto, fui em busca de estudos e obter conclusão como as outras pessoas ouvintes... nunca perdi a esperança. Ingressei no curso de Pedagogia, foi uma fase difícil da minha vida, pois eu parecia uma estranha, sendo uma das únicas pessoas a utilizar as mãos para se comunicar, participava pouco dos trabalhos em grupo, e me esforçava ao máximo em compreender as aulas, consegui me formar neste ano com muita luta e agora estou realizada. Prestei vestibular novamente e passei no curso de Letras/Libras-UFSM, neste curso me sinto ao contrária da primeira graduação, me sinto inspirada, me alegro com os trabalhos em grupo, todos alunos e professores utilizam e conhecem a LIBRAS, é maravilhoso ver os movimentos das mãos, todos surdos como povo surdo...

Encerro assim as páginas da minha vida, teria mais coisas para contar... caso você queira saber que coisas são essas vai ter que aparecer lá em casa e tomar chimarrão, poderemos fazer algumas fofoquinhas (risos), ver o pôr do sol, etc.

Te desejo grande sorte e felicidade, que Deus te abençoe!
Da amiga cheirosinha que te adora e não te esquece e sabe que a nossa amizade dura para sempre,
um grande abraço bem apertado,
VALEUUU! Claudia

De Ana Paula para Thaís

Oi colega Thais!

Ainda não conheço você, mas já vi você na UFRGS na apresentação dos nomes de cada um. Vou contar a minha história ... Espero que você goste!
Ao recordar minha infância, a luta durante a minha vida, para conquistar a independência, recordo quanto a Escola Frei Pacífico e os profissionais da época foram importantes neste crescimento, mostrando-me através da dedicação, religiosidade, coleguismo, cooperação e todos os reais valores da vida, da convivência em grupo, favorecendo meu amadurecimento pessoal.
Durante a gravidez, minha mãe teve rubéola fazendo com que eu nascesse surda. Meus pais descobriram a minha surdez aos meus 2 anos de idade. Aos 4 anos ingressei na Escola Frei Pacífico onde, na época, estudavam apenas meninas. Foi meu
primeiro contato com crianças surdas. Aí pude construir minha identidade surda e adquirir uma comunicação de fácil compreensão, pois, na época, utilizávamos gestos próprios de nossos familiares que nos auxiliavam, junto com a oralização, na comunicação e compreensão das palavras faladas.
Na Escola o uso do aparelho auditivo era obrigatório sendo avaliado através de nota no boletim, a freqüência do uso do mesmo. Quando tinha 8 anos, meus pais mudaram-se para Guaíba, sendo necessário então, que eu permanecesse na Escola em regime de internato como a maioria de minhas colegas.
Ao completar a quinta série do antigo 1º grau, tive que buscar minha escolaridade em uma escola de ouvintes, foi grande a tristeza de deixar o espaço onde cresci e pude ser compreendida como uma pessoa com capacidade de construir a própria vida.
Fui então, para escola em Guaíba onde meus pais moravam, confesso que a insegurança em relação ao desconhecido me assustava, não tinha intérprete na sala de aula mas conseguia ler, me esforçava nos estudos, fazia as tarefas sozinha e as vezes minha mãe ajudava, ela trabalhava o dia todo na escola. Tive ótimas experiências com professores e colegas ouvintes que sempre me respeitaram, apoiaram e incentivaram nesta caminhada. Pude, também, ensinar muito a eles, a forma de comunicação, a atenção e cuidados ao se comunicarem comigo, a importância da expressão facial e corporal manual.
Após concluir o 1º grau do Ensino Fundamental, voltei a estudar em Porto Alegre, em uma escola estadual de 2º grau no curso profissionalizante de administração de empresas. Iniciei meu primeiro emprego em uma empresa de fitas para escritórios. Mudei para Porto Alegre na residência de um casal de amigos que tinham um filho surdo. Quatro anos depois, mudei-me para um apartamento junto com duas amigas surdas, onde dividíamos todas as despesas. Na época trabalhava no Hospital de Cardiologia exercendo a função de auxiliar de digitação. A relação com os colegas era muito positiva tendo sempre o apoio e respeito de todos.
Aos 29 anos senti a necessidade de buscar uma profissão que me aproximasse mais da comunidade surda, iniciei o Curso de Magistério na Faculdade La Salle de Canoas e, ao finalizar o curso busquei a Escola Frei Pacífico para a realização do meu estágio. Fui recebida com muito carinho e apoio de todos os profissionais. As inseguranças que o estagio proporcionou foram acalmando e superando através do auxilio e incentivo do grupo, das Irmãs e Direção da Escola.
Durante o estágio, ainda permaneci atuando no Hospital de Cardiologia. Ao concluí-lo, esperei durante um ano até ser chamada pela Escola Frei Pacífico, para assumir uma turma como profissional efetiva. Aquela mensagem no meu celular me fez vibrar de alegria e emoção, o meu sonho se realizava.
Pelo fato de ter comprado meu próprio apartamento, outra grande conquista, tive um ano de alegria e trabalho, pois tentei conciliar os dois empregos. Trabalhava durante os três turnos. Infelizmente tive de optar por um dos dois caminhos, claro que optei por lecionar.
Estou completando 4 anos de trabalho na Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, sou professora das séries iniciais, leciono o Ensino Religioso nas séries finais e ainda sou instrutora de Língua de Sinais. A Escola Frei Pacífico e toda a sua equipe sempre contribuíram para minha formação como pessoa e como profissional. Tenho somente que agradecer pelo amor, pelo carinho e pelo incentivo de sempre.
Estou feliz e vibrando com nosso primeiro Curso de Licenciatura em Letras/Libras no Brasil. Está sendo um grande sucesso! Já estou no 4º semestre deste curso, sendo que esta primeira turma se formará em 2010.
Quando terminar a minha faculdade de Letras/Libras pretendo continuar como professora surda lutando pelo povo surdo para conquistar os seus direitos e a qualidade dentro na Educação dos Surdos. Espero que exista um novo curso de Pedagogia, uma Pedagogia voltada para a Educação de Surdos, na qual também pretendo ingressar. E ainda, pretendo me inscrever para o concurso da rede municipal de ensino organizado pela Prefeitura de Porto Alegre.

Contei um pouquinho da minha caminhada rumo à Educação de Surdos e espero que você tenha gostado. Com Carinho da colega Ana Paula.



quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De Rosa Virgínia para Sônia Mara

Querida amiga Sônia Mara, vou te contar um pouco da minha vida a que chamo de: “A história da construção de uma identidade surda”.

Eu não sou gaúcha, mas vivo em Porto Alegre desde os meus 14 anos, e concluí o meu 2º Grau em uma escola para pessoas surdas. Eu pertenço à classe média alta. As minhas primeiras lembranças me levam à época de meu ingresso numa escola maternal, de crianças ouvintes, na cidade onde nasci no interior de um estado nordestino.

Quando completei seis anos de idade, minha mãe procurou escola na cidade em que morávamos (Feira de Santana) que era uma cidade pequena na época e só encontrou a APAE para deficientes em geral. Ela não gostou, pois queria uma escola especial para surdos. Fomos então morar em Salvador onde então conseguiu uma escola especial para mim.

Estudei nessa escola até os treze anos de idade (até a quarta série). Na época, em Salvador não havia escolas especiais para surdos com as séries seguintes, então, meus pais e meu irmão mais velho, procuraram escolas em Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, mas acabaram por escolher a Escola Especial Concórdia em Porto Alegre onde vim estudar. Mudei-me, assim, para o Rio Grande do Sul acompanhada de meu irmão mais velho que estudava medicina e mais um outro irmão, além de uma prima que tinha uma filhinha de um ano de idade na época. Assim, recebi o apoio e o estímulo da família e estudei nessa escola até o fim do segundo grau.

Cursando Artes Visuais, a princípio não gostei de algumas das principais disciplinas do curso e isso me desmotivou bastante na época. Só vim a gostar do curso quando comecei o estágio, então passei a me interessar e até hoje aprecio muito a teoria das Artes Visuais. Pude perceber melhor as coisas quando comecei a atuar como professora na área. Via que os alunos nada conheciam acerca de artistas surdos. Aproveitava e mostrava materiais a respeito: livros, internet, filmes sobre artistas surdos e assim eles podiam conhecer e ter contato com tais informações.
Atualmente trabalho na Centro Social Marista Mario Quintano e ensino LIBRAS pelo comunidade, crianças, jovem, EJA.

Agora, fazendo um curso de pós-graduação: Pós-graduação em Pedagogia da Arte tento pesquisar o tema da “Auto-Estima Resgatada na Identidade do Artista Surdo”. Com isso, pretendo consolidar mais o trabalho que já venho realizando a nível de ensino.
Querida amiga Sônia Mara, espero que tenha gostado um pouco da minha história de vida e do que venho buscando na educação de surdos.
Abraços da Rosa Virgínia.

De Maria Cristina para Janaína

Olá Janaína,

A minha história de educadora está muito ligada com a história do meu local de trabalho, que é o CMET Paulo Freire_ Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores Paulo Freire. A criação desse Centro de EJA tem como cenário uma intensa luta da comunidade escolar no Orçamento Participativo (OP) da cidade de Porto Alegre. Localizado no centro da cidade persegue a perspectiva da Educação em Permanência, ou seja, educação para “toda a vida” como está escrito em seu Regimento.

Esse Centro é uma unidade de ensino exclusivamente para educação de jovens e adultos, que funciona nos três turnos: manhã, tarde e noite. O Serviço de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), criado em 1989 na administração do Partido dos Trabalhadores coordena o trabalho do Centro e das demais turmas de EJA que funcionam nas escolas municipais de ensino fundamental, somente no turno noite.

Antes da conquista deste prédio próprio no OP esses trabalhadores tinham aulas primeiramente em salas cedidas, e depois alugadas pela PMPA, em vários locais do centro da cidade. Foi só no ano de 2.000, depois da incansável participação dos alunos e de onze anos de existência, que mudamos para um prédio próprio.

A entrada dos surdos no Centro foi em 1998 e também resultou da participação efetiva da comunidade surda no OP.

A educação de surdos neste local começou com quinze alunos de Totalidades 1, 2 e 3, que correspondem ao início da alfabetização, e eram atendidos por um professor surdo e dois professores ouvintes com conhecimento de LIBRAS. Já no ano de 2.000 começou uma turma de Totalidade 4 e até 2.002 o Centro completou a implantação das Totalidades 5 e 6, finalizando as etapas do ensino fundamental com professores de áreas de conhecimento auxiliados por intérpretes, aqui o Centro estava atendendo setenta alunos surdos.

Os professores de área corajosamente foram se instruindo em LIBRAS, em cursos oferecidos pela PMPA em convênio com a FENEIS e atualmente trabalham sem intérpretes.

A entrada dos educandos surdos despertou a minha curiosidade e a vontade de estabelecer comunicação, por isso comecei a freqüentar os Cursos de LIBRAS, em 1.998, sem a intenção de trabalhar com surdos, apenas aprender a Língua.

Porém surgiu a necessidade de substituir uma colega que estava grávida, estávamos em 2.005, eu já havia concluído os três níveis do Curso de LIBRAS, mas nem de muito longe pensava alfabetizar educandos surdos. Muitas eram as dúvidas:

Como vou me comunicar com eles sabendo tão pouco de LIBRAS?

Como um surdo se alfabetiza no Português?

Será que poderei usar o que aprendi na alfabetização dos alunos ouvintes?

A medida em que o medo foi sendo sobreposto pela curiosidade e fui recebendo mais informações do grupo de T1 dos surdos as questões foram se modificando. Era uma turma de mais ou menos nove alunos, com outras deficiências além da surdez, tinham pouco contato com LIBRAS, usavam mais sinais próprios aprendidos em casa, vinham de escolas aonde haviam repetido muitos anos, um aluno era cadeirante, então o pânico me invadiu. Comecei um Curso de Capacitação para Trabalhar com Pessoas Surdas e por fim a colega que necessitava ser substituída, doutora em Educação e Surdez pela UFRGS, argumentou que ainda estava buscando estratégias e conhecimentos para trabalhar com esse grupo. A humildade da colega, que já acumula anos no trabalho com a educação de surdos me fez sentir vergonha da minha covardia, além é claro de colocar-me em situação de incoerência direta quando falo aos educandos sobre a necessidade de arriscar-se.

Então antes de assumir o grupo fui um dia de manhã para vê-los e conversar com a professora da turma. O combinado era eu voltar na quarta-feira, dia 15 de junho de 2.005, data do início da licença da professora para começar a trabalhar com a turma, ainda acompanhada por ela é claro! No dia marcado cheguei e fui subindo para o quarto andar, tentei ir conversando com os alunos usando minha parca comunicação e o tempo foi passando e a professora não chegava, o que era muito estranho, pois nada havia sido comunicado sobre sua possível ausência. Outra colega resolveu ligar para a professora e todos fomos informados que ela dera a luz no seu primeiro dia de licença! A minha primeira aula deu-se no susto de me ver sozinha tentando explicar, em LIBRAS e com gravuras, aos alunos que sua professora havia ganhado nenê. Bah!

Beijos e Abraços da Maria Cristina Simioni

De Lucia Helena para Marlei

Olá, Amiga Marlei!

Tudo bem com vocês?

Espero que só, alegrias e mais alegrias.

Acredito que será muito legal poder estar fazendo um relato de minha experiência na educação de surdos para você que é uma amigona de coração. Na verdade uma das minhas primeiras amigas, e não apenas colega, na escola Frei Pacífico. Será um prazer, então, poder estar contando para você a minha trajetória.

Como você já sabe a minha mãe tem autoesclerose e foi perdendo a audição após a sua primeira gestação, mais precisamente aos vinte e um anos de idade. Então, durante a minha infância, e tenho recordações mais claras do início da minha adolescência, presenciei o sofrimento dela em alguns momentos.

Acredito que, inconscientemente, isso me fez buscar e me fascinar pela educação de surdos. Lembro-me que quando estava fazendo a escolha de um curso superior, comecei a descartar as opções que eram inviáveis como o curso de medicina veterinária e medicina, por serem cursos muito concorridos.

A minha mãe insistia que eu fizesse pedagogia, então fui pesquisar todas as possibilidades de cursos da pedagogia, lembro-me que durante as minhas pesquisas descobri o curso de pedagogia educação especial com ênfase em surdez em Santa Maria, impossível pela distância, meus pais nunca aceitariam. O curso de educação especial em Porto Alegre era com ênfase em deficiência mental. Pensei, repensei e optei por fazer a pedagogia orientação educacional, por ser mais ampla e ter maiores possibilidades de mercado de trabalho e posteriormente faria a educação especial.

Ingressei no curso em 1998, durante o curso de pedagogia iniciou na faculdade o curso de Libras em 2000, fiz o possível e o impossível para poder participar. Lembro-me como se fosse hoje, a professora Ana Luiza (surda) nos ensinando os sinais básicos da Libras. Fiquei fascinada e queria mais, mas a PUC não deu continuidade nos próximos cursos. Como eu participava do DAFE (Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação) conversei com a Direção da faculdade que me orientou a fazer um abaixo assinado com o nome das pessoas interessadas. Então, fiz um painel com a propaganda do curso e organizei um documento com a assinatura das pessoas interessadas, que foram muitas, mas mesmo assim não abriram novos cursos naquela época.

No meu período de estágio, fui buscar estágio na escola Frei Pacífico. Recordo que a Ir. Elena disse que eu deveria ter todos os cursos de libras, não poderia realizar o estágio apenas com o curso básico. Então, fiz o estágio na escola Tiradentes da Brigada Militar, e fui para a FENEIS fazer os cursos intermediário (prof Ricardo) e avançado de Libras (prof Marcelo).

Ao concluir os cursos iniciei na escola Frei Pacífico, no ano de 2002, o trabalho voluntário com a Ir. Célia nas atividades do grupo de jovens e o grupo de teatro, e foi lá, no contato quase que diário com os adolescentes que aprendi a língua de sinais. A Diretora na época queria muito que eu fosse a orientadora educacional da escola, lembro que eu participava das reuniões de professores como observadora. Isso me incentivava cada vez mais a aprender a Libras e projetar o meu trabalho na educação de surdos.

No ano de 2003, apoiei a professora Fernanda no estágio da faculdade, que também era Orientação Educacional, período em que a Ulbra estava passando por momento difíceis em relação aos interpretes. Durante as atividades de apoio, eu participava dos momentos na escola Frei Pacífico junto ao Serviço de Orientação Educacional como voluntária. Foi bárbaro, pude aprender juntamente com a Fernanda como funcionava o SOE em uma escola de surdos.

No início do ano de 2004, a direção da escola então me convidou para trabalhar no Serviço de Orientação Educacional e como professora do Ensino Religioso, foi maravilhoso, apesar do grande desafio da sala de aula em uma disciplina que eu não dominava os conteúdos e com pouca fluência na Libras, mas durante todo ano recebi apoio do Serviço de Orientação Religiosa com a Ir. Rosimar, dos alunos e dos colegas professores e serviços. Foi um ano de aprendizagens significativas e muitas realizações.

Atualmente trabalho oficialmente há quatro anos na educação de surdos, seis anos se contarmos o período de trabalho voluntário.

Foram anos de grandes desafios e aprendizagens que me entusiasmaram a aprender cada vez mais sobre o sujeito surdo, a comunidade surda, e suas nuances. Ao longo do percurso pude estar junto aos surdos, na luta, na caminhada, na busca de uma melhor qualidade de vida, no desejo de uma educação emancipatória, que incentiva o protagonismo, voltada para a construção de identidades pessoais e profissionais, favorecendo a elaboração de projetos de vida que desejem o sucesso.

Na minha trajetória tenho muitas pessoas para agradecer pelo carinho e apoio durante estes anos na educação de surdos. São pessoas especiais que sustentaram e alicerçaram o meu trabalho, valorizando as minhas aprendizagens, incentivando e auxiliando nas minhas construções enquanto profissional. E a você, Marlei, que sempre foi uma grande amiga, que muitas vezes nos bastidores da vida me disse coisas bem legais que considerei e refleti para aprimorar o meu trabalho.

Neste ano de 2008 estarei concluindo o curso de Pós-graduação em Educação Sexual, que tenho certeza que será mais um desafio, principalmente na elaboração do artigo final do curso, que estou fazendo muitos estudos interessantes em relação ao sujeito surdo e sua cultura.

Atualmente, estou trabalhando com grupos de meninas no projeto da escola “Coisas de Meninas” com as alunas da 4ª série e também tenho o projeto “Feminina” com o grupo de mulheres surdas adultas na Pastoral do Surdo. Está sendo maravilhoso poder estar falando com as surdas sobre este tema, ainda tão cheios de tabus e preconceitos.

A carta ficou um pouco extensa, tentei resumir, mas não tinha como falar da minha trajetória sem lembrar dos pequenos detalhes, momentos significativos e importantes. Acredito que tinha alguns detalhes que você já conhecia e outros não.

Espero que tenhas gostado. Sei que você é uma pessoa apaixonada pela educação de surdos, assim como eu, luta por uma educação de qualidade e se incomoda com algumas situações presenciada ao longo dos percursos e percalços da experiência docente.

Desejo que você continue a sua caminhada com a mesma alegria de sempre, contagiante e que aproxima as pessoas. Desejo que você continue com a mesma criticidade com as coisas que percebes que não estão indo bem.

Desejo que esta nova vida que você está tendo seja sempre cheia de grandes alegrias e emoções. Você merece, porque você é especial.

Beijos na Manuella, no Maridão e um grande e especial em você.

De William para Janaína Santos

Querida amiga secreta Janaina Santos,

Desde pequeno sempre gostei de esportes, quando jovem joguei basquete profissional na SOGIPA junto com os ouvintes. E a cada dia tomava conhecimento dos diferentes esportes tais como natação, judô, futebol de salão, voleibol, fui tendo contato com as diferentes regras dos esportes e aprofundando os meus conhecimentos. Eu imaginava o meu futuro ensinando os esportes para os surdos e pensava que era importante estudar para trabalhar esportes próprios para os surdos. Durante as minhas aulas de Educação Física na Escola Especial Concórdia, eu observava o meu professor ouvinte, aprendia com ele e pensava:

“no futuro quero ser professor de Educação Física e ensinar os surdos”.

Na escola tinha a competição dos alunos do time Branco contra os alunos do time Azul, eu era líder do time Branco e organizador do meu grupo, fui vencedor. Pensava em ingressar na faculdade junto com os ouvintes, mas me angustiava: “será que terei intérprete?” Perto de me formar no 2° Grau, consegui um estágio como arquivista, trabalhei ao longo de seis meses. Pensava também na possibilidade de cursar informática, pois também observava as minhas aulas de informática e gostava.

Nesta mesma época de incertezas, viajei para a Venezuela para participar no Campeonato Americano de Surdos, fazia parte da seleção brasileira de basquete. Foi maravilhoso, tive contato com surdos de diferentes países, conheci outras línguas de sinais.

Fiz vestibular para Informática na ULBRA e rapidamente consegui estágio para esta mesma área. Estudei dois anos do curso de informática e depois percebi que não fazia sentido insistir em algo que eu não estava gostando. Percebi que a minha vocação era outra, pois eu só pensava nos esportes e voltei a sonhar em ser professor de Educação Física e ensinar os surdos.

Resolvi então mudar de curso e largar o meu estágio na área da informática. Ingressei no curso de Educação Física na ULBRA, sentia grande felicidade em praticar esportes. Fui monitor do CEAMA (Centro Estudo Atividade Motor Adaptado)-ULBRA dois anos. Eu ficava contente em ver tantos esportes e aprendi muito, como por exemplo, a ginástica olímpica. Percebia o quanto era importante estar cursando Educação Física, sentia que estava no caminho profissional certo. Neste mesmo período fiz o curso de instrutor da LIBRAS na FENEIS-RS o curso aconteceu ao longo de um ano, aprendi sobre cultura surda e identidade surda. Observei que os alunos participavam pouco da ginástica olímpica, conversei com a professora responsável e pedi para trabalhar com os alunos basquete, futsal e voleibol, ela me disse que precisava um projeto específico. Passei então a ensinar esses esportes, participei de um congresso brasileiro, fiquei dois anos como monitor e pela primeira vez palestrei na Universidade – ULBRA sobre a participação dos surdos em esportes.

Com o diploma de instrutor da LIBRAS nas mãos estava muito feliz e consegui diversos trabalhos nesta área. Fui felizmente chamado para ser professor de Língua de Sinais na escola Estadual Especial Padre Réus, um ano depois a Diretora da Escola me convidou para dar aula de Educação Física, aquele convite me fez relembrar o meu passado... a minha vontade de quando jovem em me tornar professor de Educação Física... que alegria ter a oportunidade de realizar o meu sonho.

Agora, eu estava em frente dos meus alunos surdos, sendo um modelo de adulto surdo a ser seguido. Somam-se seis anos como professor de Educação Física e ensinando os surdos. Treinei e incentivei os alunos da Escola Padre Réus a participarem dos jogos esportivos nas Olimpíadas dos surdos. Eu pratiquei muito com os surdos a corrida. No ensino sempre usei a língua de sinais, assim os surdos aprenderam rápido. Em competições entre escolas, ganhamos medalhas, o que deixou os surdos muito alegres. Na minha observação, vejo que hoje temos, entre a comunidade surda e sua cultura, as competições esportivas para lazer e esporte, o que é saudável.

Eu sou agora professor de Educação Física desde o maternal até o ensino médio na Escola Estadual Padre Réus. Me formei em Educação Física na ULBRA. Após formado, fui chamado pela Escola Frei Pacífico para ser professor de Língua de Sinais. Isto foi importante. Pedi a Deus que me abençoasse neste caminho, me mantivesse a esperança de bem trabalhar como profissional. Sou professor na Escola Frei Pacífico há um ano e seis meses. Fiz vestibular e passei para o curso Letras/LIBRAS em Educação à Distância na UFSC, no pólo UFSM. São quatro semestres muito importantes em minha vida. Adoro estudar e aprender. Assim, como profissional me desenvolvo em novas frentes de estudo e também tecnológicas sobre a educação dos surdos. Não paro de estudar.



De Karin para Ana Claudia


Bem, não poderia ter outra pessoa neste grupo que ao longo da minha carreira esteve tão próxima, coincidência? Talvez... Acho que escolhemos caminhos parecidos. E por isso acho que será difícil colocar de mim sem colocar de ti também, afinal foram vários momentos, dúvidas, filosofias, caminhadas, cervejas, algumas festas, conselhos e indignações compartilhadas. São tantas coisas, tantos acontecimentos, atravessamentos, vitórias, alguns desânimos que fica difícil de colocar tudo aqui. Há uma saudade gostosa de relembrar o que passamos juntas, e às vezes me parece fugir o que vivemos no presente. Acho que esta carta tem um tom de reencontro com os que passaram e com tudo o que passou.

Hoje, com este exercício, olho para trás e vejo quanta coisa que já aconteceu. Quantas pessoas me atravessaram e quantas reencontro cada vez que vão à escola, a SSRS, aos encontros das Escolas de Surdos, das formações da prefeitura e outro eventos. Pergunto-me, o que ficou para eles e o que ficou para mim? Às vezes uma saudade, às vezes um esquecimento, outras a imensa alegria de ter deixado não sei bem o que. Assim, como passaram alunos e colegas os que ficaram são os amigos.

Se fosse comparar nossa profissão com a de um engenheiro, acredito que nosso prédio parece nunca ficar pronto, sempre tem algum detalhe que ainda é possível de colocar, a eterna busca do o aprimoramento, tanto dos alunos quanto nossa.

Mas vamos ao inicio, foi a parte que consegui escrever, talvez pelo significado que teve. Inicio de principiar, de dar os primeiros passos, de ter a primeira experiência, o primeiro lugar que a recebi pelo que fazia na área da educação, e pensava que, como pagavam bem! Pensei que tivesse descoberto o melhor lugar para trabalhar e provavelmente não me importaria de me aposentar ali, quanto engano. Passou alguns meses e passou o encanto, eu também passei no vestibular em Educação Física, novas perspectivas de vida, lembro de como timidamente te contei. Ah, falando de ti agora, que surpresa ao descobrir que era casada com o nosso colega, juro que até então nunca tinha percebido.

Voltando a instituição onde foi nosso primeiro emprego, com eu era passiva, e como me faziam ser deste jeito. Lembro de uma reunião quando ninguém além da diretora falou e quando sai para tossir outra colega comentou que eu havia saído, pensei credo! Nem isso posso fazer! Comecei a ler mais a respeito das teorias na educação de surdo e me dei conta das reais possibilidades para meus alunos se continuassem ali e as minhas também. Quem sabe haveria um lugar melhor onde conseguiria ser mais professora, não tão sujeitada as loucuras e as imposições veladas de uma direção.

Guardo ótimas lembranças desta época, não tanto a respeito da vida profissional, acho que estas coisas foram deixadas por lá, mas percebo quantos colegas legais se passaram. E os alunos, hoje mulheres e homens adolescentes, lembram também com saudades da sua época de infância e da primeira professora. Dou-me conta o quão importante fui para eles e eles para a construção da minha vida profissional.

De Valéria para Carmem Regina

Minha querida amiga Carmem Regina

Fiquei muito feliz ao retirar seu nome daquele envelope, pois já nos conhecemos de longa data e tenho a certeza de que o que contarei à você ,um pequeno resumo de minha vida profissional, não será totalmente desconhecido por ti.

Alguns buscam a profissão por conveniência financeira; tenha certeza que não é o meu caso. Avaliando minha caminhada até aqui (e já se vão longos 20 anos ), posso te dizer que minha opção foi única e exclusivamente pela Vocação. Pode parecer estranho, mas o fato é que já sabia que seria professora desde os 12 anos de idade. Talvez tenha sido flechada pela forma carinhosa como fui tratada na minha primeira experiência escolar. Sim, estou fazendo referência a minha professora do Jardim de Infância (Gisela), pessoa maravilhosa, doce, de olhar fraterno... Falando nela me vem a mente seu perfume e a forma como tratava seus alunos e eu, felizmente, era um destes privilegiados que teve a sorte de ter como educadora alguém tão especial.De lá até a escolha definitiva da minha profissão foi tudo uma questão de me relacionar com as pessoas.

Falando em me relacionar não posso deixar de citar o nome de uma segunda pessoa muito importante (Ronice Muller de Quadros) que foi decisiva na minha escolha profissional na área da surdez. Fizemos o magistério juntas no Colégio Sévigné e Ronice, juntamente com Marinara outra grande amiga, me mostraram o que era disciplina para o estudo. Pessoas sérias, comprometidas com a educação, tive de corresponder a todo o estímulo que me davam e acho que não fiz feio. Dentro daquela escola desenvolvemos projetos importantes, saiba que até entrar de caíque na Ilha dos Marinheiros para dar aulas de reforço nós entramos. Ao final do curso, já de posse do meu certificado de conclusão, fui convidada pela Ronice a fazer uma experiência na antiga Escola Especial Concórdia. De imediato tive muito medo, pois via Ronice comunicando-se com seus pais e alunos e sua destreza na Língua de Sinais me inibiam, mais que isso me apavoravam, pois acreditava que para trabalhar com surdos tinha de ter no mínimo uma competência em Libras igual a dela.Nossaaaaaaaaaa como eu era ingênua.Até hoje depois de 20 anos não chego nem aos pés da Ronice., rsrsrsrs

Dentro da Especial Concórdia aprendi muito, não somente o trabalho com surdos propriamente dito, mas mais que isso, aprendi a ter ética a respeitar as pessoas, a ter amor pelo que se faz e fazer sempre bem feito. Agradeço a todas as pessoas que cruzaram meu caminho, mas como diz uma grande amiga minha: “Tudo nessa vida tem um prazo de validade”, o meu expirou e tive de me lançar em outros mares. Mares estes de um azul tão transparente que me fizeram enxergar o que antes custava a perceber. Atualmente, querida Carmem, trabalho na Escola para Surdos Frei Pacífico, um lugar único que tenho certeza é abençoado por Deus. Neste espaço tenho tido experiências muito significativas nunca antes vividas. Alegria, profissionalismo, comprometimento com a cauda dos surdos são algumas das qualidades encontradas nos excelente profissionais desta escola. Há três anos venho tendo vivências que estão mudando algumas das minhas concepções a respeito da educação de surdos. Meu maior desafio até agora foi ter trabalhado com crianças com outros comprometimentos associados a surdez e saiba que amei esta experiência.

Bem linda amiga, este foi um breve resumo da minha vida profissional, aos 41 anos e certa caminhada dentro da educação de surdos tenho uma única certeza: O que importa são as pessoas,elas e somente elas dão sentido à nossa vida. Posso te dizer que sou uma pessoa abençoada por ser realizada profissionalmente, amo meu trabalho, amo meus alunos surdos.

Um beijo carinhoso daquela que sempre lhe admirou muito.

Valéria

De Janaína Viegas para Paula

Olá Paula, esta sou eu e este é o meu sinal,vou lhe contar um pouco da minha história.

Nasci em Porto Alegre em Agosto de 1973, no ano seguinte nasceu minha irmã, Tatiana que alguns anos mais tarde soubemos da sua surdez. Como temos pouca diferença de idade sempre tive contato com a Língua de sinas, embora quando criança usávamos muita mímica para conversar.

Adorava levar minha irmã para escola e ver como ela ficava feliz conversando com suas colegas. Suas amigas sempre estiveram por perto em toda nossa infância e adolescência. Sempre que podia assistia as suas apresentações e festas na escola. Sempre achei que podia trabalhar nessa área, mas não tinha muitos recursos para aprender mais a não ser através dela. Mas quando ingressei na faculdade tive contato com vários surdos e isso me reacendeu a vontade de trabalhar com surdos. Comecei a fazer então, cursos de libras e trabalho voluntário de intérprete na faculdade. Cada dia estava mais ciente de que era isso que queria para minha vida profissional, trabalhar com surdos, aprender com os surdos, e fazia isso pensando na minha irmã, que ela iria se orgulhar de mim, pois ela foi , e é, a razão por eu amar o que faço. Apesar de fazer o trabalho voluntário na faculdade, ainda não trabalhava em nenhuma escola, apenas fiz estágios e observações em outras escolas de surdos. Até que uma intérprete, com quem aprendi muito durante as aulas onde ficava observandoa-a, me falou que estavam precisando de uma auxiliar de disciplina na escola Frei Pacífico. Como já possuía um bom conhecimento da língua de sinais fui contratada como estagiária. Foram dois anos maravilhosos em que aprendi muito com as crianças e com as professoras surdas e ouvintes. Em Janeiro de 2007 me formei no Unilasalle em Pedagogia Educação Infantil e Séries inicias, este ano foi repleto de alegria e realizações, pois fui contratada como professora da Educação Infantil.
Também trabalho no Centro Social Marista Mário Quintana em Gravataí que atende crianças e jovens, trabalho com as crianças que estudam no EMMES, com apoio pedagógico, com idade de cinco a doze anos.

Pretendo, ainda fazer o curso de intérprete, ainda não o fiz pois acho que preciso aprender mais e melhorar sempre.

Amo o que faço e faço com amor!!!!!

Abraços e até mais.

Janaina Viegas

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