Cartas 2011

Nessa página você poderá ler as cartas trocadas pelos participantes da pesquisa no ano de 2011.
As cartas se dividem em 5 seções com temas diferentes:
Cartas 01
Cartas 02Histórias e narrativas sobre alunos surdos que vivem em instituições (abrigos, hospital psiquiátrico e outros)
Cartas 03Política de Inclusão Escolar de Alunos Surdos: Atendimento Educacional Especializado (AEE), Formação de Professores e Intérprete Educacionais
Cartas 04  O ensino de Língua Portuguesa para surdos no Atendimento Educacional Especializado
Cartas 05A escrita da Língua de Sinais como produção cultural e política da comunidade surda: qual o espaço dessa escrita nos currículos escolares?

- Os nomes nas cartas foram substituídos por suas iniciais a fim de preservar a identidade dos participantes da pesquisa.
- Para facilitar sua busca por uma seção de cartas específica, pressione Ctrl+F e digite o tema que você busca.

Aproveite a leitura!


Cartas 01
Em breve!


Cartas Encontro 2
Histórias e narrativas sobre alunos surdos que vivem em instituições 
(abrigos, hospital psiquiátrico e outros)





 
De: SF.
Para: C.


Olá C.!

É um prazer encontra-lo. Conheço você á algum tempo e tenho que te dizer sinto uma profunda admiração por tua luta.
Acompanhei uma audiência pública na Assembleia Legislativa em outubro de 2010 em que fizeste um brilhante relato das experiências que tiveste em Brasília. Fiquei muito emocionada. Acompanhei tua formatura no curso de Letras Libras na UFSM em fevereiro e achei tudo muito lindo.
Mas então, cumprindo mais uma das nossas tarefas tenho uma história triste para te contar. Algum tempo atrás tivemos uma aluna, a Eloisa (nome fictício). A história dessa menina é bem estranha e triste. Não posso entrar em detalhes mais profundos, pois os mesmos me foram negados por motivos de sigilo. Os dados que obtive foram através de relatos de colegas que foram professoras da Eloisa e que sabiam os motivos que levaram a garota ser retirada da casa da mãe.
Quando ela ainda era muito jovem, por volta dos 8 ou 9 anos de idade, uma instituição que abriga crianças e adolescentes em situação de risco de Santa Cruz do Sul, por ordem judicial, recebeu a Eloisa. Segundo relatos de minhas colegas, ela foi retirada da família por que o padrasto, entre outros tipos de maus tratos físicos e psicológicos, a deixava trancada no armário. O fato foi comunicado as autoridades por conta de denúncias que foram feitas.
Até então a Eloisa não frequentava nem uma escola, provavelmente por ser surda, a família a mantinha em casa. A assistente social da instituição foi quem encaminhou a Eloisa para a escola, a única da cidade que tinha surdos. De acordo com as professoras a menina, não conhecia outros surdos, nem a Língua de Sinais. Tinha pânico de lugares fechados e surtava quando a porta da sala de aula era fechada, preferia sentar nos corredores ou então nas escadas onde chorava muito. Foi um trabalho muito difícil para as professoras, fazer a Eloisa entender que não se tratava mais da privação da sua liberdade. Sempre que podia uma ou outra professora adotava a Eloisa durante um fim de semana para que ela se sentisse mais segura.
Eloisa na escola, era uma menina muito amável, espontânea e se dava bem com todos, parecia a “mãezinha” das crianças mais pequenas da escola, pois as tratava com muito carinho. Em uma ocasião, conversando com pessoas que trabalhavam na instituição para a qual foi levada, descobrimos que, ela se sentia triste quando uma criança ou bebê abandonado saia da instituição por adoção ou por outro motivo, isso representava uma perda para ela, pois eles tinham um destino, uma família, e ela continuava lá.
O tempo foi passando até que lá se fossem mais ou menos 5 anos, tempo que a Eloisa podia ficar na instituição, pois ao completar uma determinada idade, as crianças e adolescentes não adotados que tinham famílias, voltavam para casa ou então eram removidos para outros locais. O prazo de Eloisa expirou e ela não podia mais continuar naquele local, também não tinha condições de voltar para casa em consequência de tudo que tinha acontecido.
Eloisa embora tenha sofrido com os acontecimentos, sempre teve muita saudade da mãe e talvez isso tenha sido importante na decisão voltar, tempos depois e ficar junto com mãe. Nunca soubemos que a mãe a tenha mal tratado, sabemos da sua omissão frente os atos de seu companheiro.
 A solução para Eloisa era o Abrigo para Meninas e foi para lá que ela foi levada. Continuava na escola e no abrigo, onde começaram a surgir os primeiros problemas, sempre que voltava para junto da família, não queria retornar para o abrigo. Não se sabe ao certo por que. Talvez pelo convencimento dos familiares que tinham outros interesses, um deles, no benefício que a garota recebia.
Foram muitas idas e vindas, atrasos nas voltas e uma mudança significativa no comportamento. Começou a se suspeitar inclusive do uso de drogas, pela agressividade que ela apresentava. Eloisa chegou a ser internada em uma clínica de recuperação para dependentes químicos, mas nunca tivemos a comprovação de que ela realmente fosse usuária de qualquer tipo de entorpecente. Você sabe, essas coisas não nos são reveladas.
Depois da internação, ela até tentou voltar para a escola, mas faltava muito nas aulas. Voltou definitivamente para a casa da mãe a mais ou menos 3 anos atrás. Hoje praticamente não temos mais notícias dela. Tentei contato com os responsáveis pela primeira instituição que mencionei e com o Abrigo, a casa lar onde ela morou por muito tempo, porém, me foram negadas informações, eu teria que ter uma autorização para poder investigar os arquivos onde consta mais detalhadamente essa história.
Lamento pelo sofrimento da Eloisa que, quando criança não teve liberdade para brincar ficando trancada dentro de um armário. Hoje é uma mulher que faz suas escolhas, ou não. Lamento por coisas que talvez pudéssemos ter feito e não fizemos por ela. Como saber? Não sei se conhece Cecília Meireles, ela escreveu o seguinte:
“LIBERDADE É UMA PALAVRA QUE O SONHO HUMANO ALIMENTA. NÃO HÁ NINGUÉM QUE EXPLIQUE E NINGUÉM QUE NÃO ENTENDA”.
Um grande abraço Cláudio e um olhar cheio de admiração,
SF.


De:SH.
Para: C.

Querida C.,
            Esta atividade é especialmente difícil para mim, primeiramente porque não tive ainda a experiência de trabalhar com alunos surdos que viveram ou vivem em instituições, também porque pensei que se buscasse alguma história na internet ela seria uma das muitas reproduzidas por outras colegas de curso, falar da experiência de outra colega não seria interessante, pois provavelmente ela também falaria, e por último acho que o que torna mais difícil é falar de um assunto tão tocante e certamente conheces muitas histórias ou narrativas pertinentes a este contexto. Ao tentar escrever esta carta noto que busco argumentos para justificar a falta de uma narrativa e percebo que talvez esteja fugindo, não tenho certeza, talvez se eu realmente conhecesse alguma história pudesse contá-la.
            Tive oportunidade de ler em alguns textos que, no passado os surdos em geral estavam à margem do processo educativo e muitas vezes, pelas dificuldades enfrentadas pelas famílias eram abandonados em instituições que nem sempre prestavam atendimento adequado.  Apenas posso imaginar, não de tão perto por minha condição de ouvinte, o sofrimento psíquico a que estaria submetido um@ surd@ que vivesse numa instituição, sem ter outros pares para se comunicar,  sem ser entendido e respeitado, sem ter a oportunidade de desenvolver-se como poderia, provavelmente seus sentimentos e protestos seriam mal interpretados dificultando ainda mais a sua situação.  Felizmente, nos dias de hoje, estes casos não são tão comuns, os conhecimentos sobre o mundo surdo se multiplicam e o acesso a uma educação orientada para a cultura surda é possível.
Um abraço,
SH.
    
              
             
De: SL.
Para: J.


Porto Alegre, 13 de setembro de 2011.

Olá Júlia, logo no início do curso, quando no cronograma apareceu a tarefa de escrever sobre “Histórias e narrativas sobre alunos surdos que vivem em instituições (abrigos, hospitais e outro)” fiz uma breve retrospectiva na minha vida.
Quando  estudante, nuca tive colegas institucionalizados.
Minhas primeiras experiências como professora foram numa Escola Particular e lá também não tinha.
Iniciei na Prefeitura de Porto Alegre em 1996, numa Escola Infantil como professora de jardim A  e logo em seguida fui convidada para ser vice-diretora. Nesta época tive experiências com famílias muito vulneráveis socialmente, com carências econômicas e afetivas.  O trabalho era mais fazer o resgate para que famílias não perdessem a aguarda dos filhos.
A partir do ano de 2005 fui ser assessora da Secretaria do Município de Educação de Porto Alegre no setor da Educação Especial.  Assessorava as Escolas Infantis no processo de Inclusão das crianças.
 J., eu aprendi muito e tive muitas experiências...
Uma destas experiências foi a Vitória (troquei o nome), deixada no Abrigo desde o seu nascimento. Vitória é múltipla deficiente. Vitória passou pelo processo de seleção das Escolas Infantil e conseguiu uma vaga para iniciar sua vida escolar com três anos de idade. A sua chegada na Escola mobilizou a todos. A entrevista das educadoras da Escola com as responsáveis pela menina, monitoras do abrigo, deixaram marcas – “Vitória é praticamente vegetativa, fica deitada na cama o dia todo, usa fraldas e toma mamadeira”. O desafio estava lançado para toda a Escola, juntamente com o serviço de apoio do Setor de Educação Especial da Rede.
Vitória frequentou a Escola infantil por três anos e após foi incluída na Rede regular de Ensino do Município.


Cartas Encontro 3 
 Política de Inclusão Escolar de Alunos Surdos: Atendimento Educacional Especializado (AEE), Formação de Professores e Intérprete Educacionais
- Os nomes nas cartas foram substituídos por suas iniciais a fim de preservar a identidade dos participantes da pesquisa.
                                                                                               
 
De: AL
Para: SM

Olá SM,

Para esta carta, como todas as outras cartas, antes de começar a escrever sobre o tema, me perguntava como começar? Então, lembrei-me de um trecho do livro da professora Quadros, o qual traz uma reflexão sobre a Política de Inclusão. Penso que esta citação cabe muito bem para este trabalho, uma vez que, nos faz refletir qual escola temos e qual escola oferecer para receber um aluno surdo.  Assim como, nos questiona sobre essa distância entre a prática e os parâmetros educacionais do Ministério da Educação.
Para esta carta temos o tema “Política de Inclusão Escolar” com duas implicações, a primeira, quais os movimentos e impacto destes provocam nas escolas, e o segundo, sobre o Atendimento Educacional Especializado- AEE, colocando sobre a formação de professores e intérpretes educacionais.  Ainda bem que tivemos três semanas para esta atividade, levando em consideração o tempo que temos para realizar uma análise global e individual do sistema de ensino que estamos inseridos tornando-se uma auto-avaliação sobre o nosso papel no sistema de ensino e compreensão das ações políticas e pedagógicas que vivenciamos na escola.
Nesse sentido, para o desenvolvimento desta escrita procurei trazer o meu entendimento e a prática que temos no sistema de ensino do Amazonas, afinal, é de lá que trago minha formação e experiência na educação de surdos; não sei se é muito diferente do Rio Grande do Sul, mas me diga você, depois de ler estes escritos.
Vamos rever nossas realidades, em Manaus/AM, os surdos estão em algumas escolas para surdos, sendo estas públicas (estaduais e municipais) e de organizações não-governamentais, com base na igreja católica. Nestes estabelecimentos de ensino fundamental, sem o ensino médio, os alunos ao concluírem o currículo são encaminhados para escolas de ouvintes, onde muitos desistem de estudar. Por que desistem? 
Acredito que algumas das causas da desistência dos alunos estudos seriam: a falta de intérprete de Libras; a falta de sensibilidade de professores de licenciaturas que ainda buscam a forma homogênea de sala de aula; ou a falta de organização do sistema, ainda conteudista com uma proposta de (menos) 45 minutos por aula/área de conhecimento sem recursos visuais, laboratórios, atividades diversificadas, pesquisa, com novos conceitos para se adequar à um aluno com uma língua própria, onde compreender novos conceitos de diversas áreas necessita de um ambiente mediador, neste caso estou falando também para o ouvinte. Além das causas que hoje em dia afetam qualquer jovem (ou adolescente): gravidez, trabalho no horário da aula, drogas, falta de tempo ou acompanhamento para estudos. Sem falar da educação de jovens e adultos que muitos acabam indo para esta modalidade de ensino por falta de oportunidade no sistema e estarem fora do padrão idade/série, sendo este mais um motivo de investigação.
Retornando a primeira indagação “Impactos e movimentos da política de inclusão nas escolas”, penso que o primeiro movimento seria a mudança ou a possível extinção das escolas específicas e escolas especiais para alunos surdos. Pois as experiências de inclusão no Amazonas mostram sistemas de ensino buscando fazer o que interpretam serem certos para se adequarem a legislação educacional vigente, apresentando muitos conflitos e questionamentos, sem respostas dos conselhos de educação (municipal, estadual e até no nacional), sendo estas ações individualizadas, podendo serem consideradas “experiências educacionais”.
Nesse sentido, hoje podemos apenas ter hipóteses do que acarretariam tais “impactos”. A primeira que o ensino para os alunos surdos iria melhorar com a mesma qualidade que temos para os alunos ouvintes, a segunda que iria aumentar o índice de abandono escolar, e a terceira que iria aumentar o índice de alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos.
Minha principal preocupação, para o Amazonas, com a política de inclusão é a questão da falta de nível linguístico funcional e efetivo para se comunicar e desenvolver conhecimentos nas escolas inclusivas. Geralmente, quando a inclusão acontece é de forma individual, fragilizando ainda mais a comunidade surda que se fortalece com membros, discussões, grupos de diferentes idades interagindo com a mesma língua, difundindo os sinais daquela comunidade. Sou a favor da educação bilíngue para o aluno com surdez e a oferta do AEE na modalidade de língua portuguesa e na modalidade de Libras para aquelas crianças sem língua definida e para o aprendizado gramatical correto da língua para todos surdos. Pois, o elemento crucial para o desenvolvimento linguístico não é o canal sensório motor, e sim a abundância e a riqueza do input na utilização da língua.
Portanto, em minha opinião, a inclusão estará no caminho certo, quando houver entendimento que devemos priorizar a promoção da fluência em Libras, assim como o contato com os pares, a fim de que isto seja a base para o aprendizado de outros conhecimentos que circulam no espaço escolar, de acordo com os preceitos da abordagem Bilíngüe, ou seja, os surdos  necessitam de pessoas proficientes com quem comunicar-se, a fim de vivenciar todos os usos efetivos da linguagem, oportunizando atitudes discursivas e relação interativa que favorecem o desenvolvimento e a apropriação de aspectos socioculturais e linguísticos importantes para a criação da realidade e da subjetividade.
Quanto a segunda temática, o AEE, acredito que oficialmente está bem estruturado/elaborado, no entanto, os caminhos para chegar até este recurso, assim como o preparo/qualificação dos profissionais envolvidos está devagar em relação a base legal. Em Manaus (no sistema municipal de ensino), esse ano foram abertas 3 salas multifuncionais, uma em escola especial e duas no centro de atendimento multidisciplinar, mas não direcionada as modalidade de apoio pedagógico para surdez: atendimento em Libras, atendimento de Libras e atendimento da Língua Portuguesa, e os professores direcionados a este fazer possuem especialização em Atendimento Educacional Especializado, que foi oferecida pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia pelo convênio com o PAR do MEC. No entanto, até o início deste ano, quanto a contratação ou formação de intérprete e instrutores surdos, ainda não foi providenciado.
            A inclusão escolar só é possível por meio de mudanças estruturais na escola, que ofereçam às pessoas com necessidades especiais as mesmas condições de oportunidades a que outras têm acesso, convivendo com a diversidade cultural e as diferenças individuais. Entendo que no Amazonas ainda estamos muito longe de oferecer um ensino de qualidade para os alunos surdos incluídos nas escolas de alunos ouvintes, ainda não tivemos concurso para intérpretes, ainda estamos discutindo estratégias para os alunos irem para escola em dois turnos, pois isto acarreta transporte, alimentação e áreas de lazer para oferecer a este aluno quando não estiver na sala de aula, entre outros aspectos.
            Acima de todas essas questões, acredito que o processo de inclusão fere os princípios democráticos de respeito, igualdade e liberdade, pois a pessoa com surdez não tem opção de escolha de escolarização. Sendo que, de acordo com a política inclusiva, para o surdo compreender-se como sujeito pertencente a comunidade brasileira, precisa estudar numa escola ouvinte “inclusiva”.
Como processo, a educação inclusiva está se desenvolvendo, apesar das inúmeras dificuldades que os sistemas têm enfrentado, particularmente pela complexidade dos desafios estas ações demoram a se concretizar, mas ainda estamos em tempo, uma vez que o país só irá funcionar em 2014, até a copa.

AL.
  

 
De: AD.
Para: M. 

Oi colega M, como estas? Espero que tenhas gostado da minha primeira carta, pois agora lhe escrevo novamente para falar um pouco sobre as Políticas Educacionais Inclusivas para surdos, na verdade pretendo entrelaçar esta temática com minha atuação e prática docente, uma vez que trabalho na educação inclusiva de estudantes surdos no Município de Capão da Canoa – RS.
M, falar sobre a temática da inclusão dos estudantes surdos provoca-me falar de muitas questões políticas, filosóficas, socioculturais e linguísticas, mas objetivo ser sucinta, já que as políticas públicas atuais são de abrangência para todos que tem interesse em ler e conhecê-las, não gostaria de me deter nelas de forma a analisá-las, e sim, ter nas políticas a compreensão e a base da prática educativa que desenvolvo.
Minha formação acadêmica abordou a educação de surdos no viés das escolas de surdos, assim como meu estágio, eu o realizei numa escola específica para surdos, está primeira experiência me serviu para ter a compreensão e analisar a forma de atuar no aprendizado e desenvolvimento dos sujeitos surdos, e me trouxe um conhecimento maior da língua de sinais e cultura surda. Estes aspectos fundamentam até hoje a minha atuação profissional.
Iniciei a faculdade em 1998, década em que as discussões sobre a inclusão estavam se fortalecendo e as legislações sendo ampliadas e (re)formuladas, meu contato inicial com a prática educacional inclusiva foi no ensino superior, como profissional intérprete de Libras numa instituição privada. Analiso que a instituição e seus docentes não tinham conhecimento de como conduzir o ensino dos estudantes surdos.
Será este o caminho percorrido pela maioria das instituições de ensino, matricular e depois pensar em como incluir?  Me questionei muitas vezes sobre isso, e realizei muitas vezes um paralelo com a prática e a própria teoria da política de inclusão. Mas, no decorrer de minha trajetória algumas destas questões me foram respondidas.
Quase na mesma época em que atuava como intérprete de Libras, em 2004, fiz seleção para professor substituto do curso de graduação em Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, então, a inclusão estava presente em minha atuação profissional, entretanto, de duas formas diferentes; no curso de Educação Especial, o qual eu era docente de um aluno surdo, e também como intérprete de Libras/Língua Portuguesa em outra instituição.
   M, como docente eu procurava direcionar minhas aulas com maior acessibilidade ao surdo e valorizar suas vivências e experiências como sujeito surdo, já como intérprete me sentia às vezes impotente, pois devido à neutralidade e ética exigidos por esta atuação, não podia intervir na metodologia e formas de avaliação com os acadêmicos surdos. Ou seja, vivenciava dois extremos, os quais me permitiram analisar, o que eu não deveria fazer, e o que eu poderia mudar e aprimorar em minha atuação docente.
Bem como, realizava cotidianamente, um comparação entre a teoria ministrada no curso de graduação para as licenciaturas na disciplina de Fundamentos da Educação Especial, e a prática, ainda, restrita, ou quase (in)acessível para a educação inclusiva dos surdos.
Nesta época muitas foram minhas questões, muitas foram minhas angústias sobre a inclusão dos surdos, nesta análise do sistema educacional e minha busca por uma nomeação e maior segurança profissional, prestei concursos em muitos lugares, mas na hora de assumir não sentia como se aquele seria o “meu lugar”, a minha inclusão.
No entanto, minha trajetória de vida profissional e pessoal me trouxe para outra realizada, em 2006, fui nomeada pelo município de Capão da Canoa- RS, aceitei e vim morar no litoral, iniciei desenvolver um trabalho no ensino fundamental de inclusão de estudantes surdos nas séries finais, algo novo para mim e desafiante, me senti incluída.
Então, pensar numa estrutura de trabalho que abordasse as questões pertinentes a singularidade dos surdos e incluí-los, de acordo com a política de inclusão, foi estruturar um processo educacional que deu-se de forma gradativa, pois a escola que fui destinada foi uma escola construída para incluir surdos, deficientes físicos, deficientes visuais, deficientes intelectuais, ou seja, o público alvo da educação especial.
A Escola M, possuía acessibilidade arquitetônica, alunos matriculados e duas professoras capacitadas para atuarem, no caso específico dos surdos, a professora S. ensinou Libras e incluiu os surdos nas séries inicias, eu cheguei e me integrei a equipe para fortalecer e efetivar o trabalho de inclusão, nas séries finais e estruturar o Atendimento Educacional Especializado - AEE. Realizamos na escola projetos para assegurar a inclusão dos estudantes surdos, tais como: o projeto para aquisição da Sala de Recursos Multifuncional, o projeto de ensino de Libras para os familiares dos surdos, o teatro surdo, visitações em outras instituições para a relação entre os pares surdos, estudos dirigidos entre os professores da escola, inúmeras discussões e análises de como ensinar, de como avaliar, sempre respeitando a língua e a cultura surda.
Na escola também elaboramos o Plano Político Pedagógico - PPP e o Regimento, tendo como suporte a política de inclusão, muitos professores participaram de cursos de pós-graduação em educação de surdos e de AEE através de convênios com a UFSM e UEM  (Universidade Estadual de Maringá).
A busca pela inclusão dos surdos perpassou pela formação continuada dos professores, uma escola com recursos didáticos acessíveis, professores comprometidos e o resgate dos pais, objetivando a eles acreditarem que é possível um filho estudar e exercer uma profissão, embora use uma língua diferente da sua.
Incluir os surdos é oportunizar uma educação com respeito a sua diferença linguística e cultural, é ir além da política inclusiva, é buscar o acolhimento dos surdos por parte da comunidade escolar, é trilhar um caminho que levará a formação de novos “olhares”, nova “visão” e aceitação dos surdos em prol de uma inclusão social.
M, espero que ao ler a presente carta, goste de conhecer um pouco sobre como foi efetivada a inclusão em minha trajetória docente e pessoal.
                                                                                                  AD.

 
De: E.
Para: C.

Olá C,

Sabemos que hoje em dia o forte da política educacional é a inclusão dos alunos surdos em escolas regulares junto com o AEE. Porém, contradiz o que a comunidade surda quer, que é uma escola bilíngüe para surdos. Vale lembrar que no mês de maio teve um grande movimento representando a luta pelos direitos do surdo de ter uma escola bilíngüe.
Na opinião dos ouvintes, o AEE pode ser positivo para eles, com mais horas de trabalho, com salário duplicado. Porém, os alunos “especiais” necessitam passar o dia todo na escola enquanto os “normais” voltam pra casa depois da escola e podem usufruir uma parte do dia se divertindo com os colegas. No ponto de vista dos surdos, essa situação não é agradável, pois toda criança tem o seu direito a brincar, se divertir, mas necessita permanecer na escola no contraturno para participar no AEE.
Trabalhei três anos em uma instituição do governo em Florianópolis, realizava assessoria nas escolas regulares em que havia sala especial para surdos (do 2ª ano ao 5º ano) e a partir do 6º ano, os alunos surdos estudavam junto com os ouvintes e tinham interprete de LS. Os alunos queixavam-se de que tinham que ficar na escola no contraturno para estudar mais. Admitiam que tinham dificuldade para aprender, compreender o assunto, mas ficavam muito cansados. Vale lembrar que ficar em uma sala de aula durante 4 horas já é cansativo, imagina mais 4 horas? Isso foi em meados de 2005 e 2006.
Neste ano, tive uma experiência incrível em uma pequena cidade gaucha, fui a Horizontina e conheci duas escolas. Ambas são escolas municipais, em cada escola há um aluno surdo. Sendo que uma está no Jardim II e o outro aluno está estudando o 8º ano.
Na escola do aluno surdo, há interprete, freqüenta as aulas no contraturno com uma instrutora surda durante duas vezes por semana. Relatou que não está satisfeito, porque sente-se cansado ter que estudar 8 horas em duas vezes por semana.
E a aluna surda estuda em uma escola de Educação Infantil, sua professora apresenta fluência na língua de sinais, batalhou para conseguir uma monitora nas suas aulas. Porém, a monitora auxilia a professora com os alunos ouvintes, enquanto ela ensina sinalizando para a aluna surda e aos demais. Suas aulas são todas sinalizadas, as dinâmicas também. Todos os colegas utilizam a língua de sinais para conversar com a aluna surda, alguns professores e funcionários desta escola também utilizam língua de sinais. Ao questionar sobre o desempenho da aluna surda, disse que ela acompanha perfeitamente os colegas. E eu pude presenciar o desempenho da aluna surda e dos ouvintes, estão no mesmo patamar.
Mas o resultado varia muito do profissional e do suporte. Na escola de educação infantil, as diretoras aceitaram o desafio de aceitar uma nova língua, uma nova cultura, inseriram a língua de sinais no ambiente escolar, utilizando informações em língua de sinais, cartazes, fotos, divulgando a cultura surda para o restante dos alunos matriculados na escola e para os pais dos alunos também. Tanto que a aluna apresenta uma autonomia incrível em um ambiente dos ouvintes.
A outra escola também tem cartazes, avisos em língua de sinais, porem, os funcionários apresentaram uma resistência em aceitar uma nova língua no ambiente. Os colegas também apresentaram resistência, há pouca interação entre os colegas ouvintes com o aluno surdo. Talvez pela pouca divulgação sobre a importância da língua de sinais para o aluno surdo?  
Para a educação inclusiva ter sucesso, os profissionais precisam ter vontade de buscar novas ferramentas e estratégias pertinentes para trabalhar com o aluno surdo e ouvinte no mesmo patamar. Na escola bilíngüe também é importante ter profissionais competentes para ensinar aos alunos surdos, pois poderão enfrentar um novo mundo ao sair da escola bilíngüe para vivenciar no ambiente dos ouvintes com autonomia.

Beijos, E.

 
De: D.
Para: J.

Escrevo esta carta com a certeza que o que estarei expondo não é novo e sim questionamento de uma pessoa que possui a informação, mas ainda não a compreendeu totalmente.
Politicas nunca foi meu “chão”, teoria é difícil, sendo mais fácil para mim a prática e através desta, começo a entender a teoria.
Penso que o Incluir é justo se pensarmos pelo lado humano. Todos nós temos nossas particularidades, mas precisamos ter o mesmo direito. Quando se iniciou a fala da “inclusão”, logo como qualquer pessoa, comecei a esbravejar: o que? Como farão com os alunos surdos. Coitados, mais uma vez terão sua educação prejudicada por fatores políticos e econômicos. Mas com o tempo pensava: preciso conhecer a proposta, antes de criticar. Para mim a proposta era somente mais uma tentativa de dominar e desestabilizar as estruturas já existentes.
Então comecei minha busca por explicações, ora mais intensamente, ora mais vagarosamente. Quando as informações eram confusas me afastava e me dava um tempo de absorção e logo retornava. No pós(educação especial e inclusão tecnológica: fatores da inclusão) que faço que tem o foco da inclusão, comecei a questionar as educadoras, que tinham em sua maioria a opinião que esta politica veio para reforçar a educação, na tentativa de ver no outro as possibilidades de crescimento de suas competências sendo visto como um sujeito único. Porém, quando questionava sobre a politica em relação ao surdo, todas diziam que recursos já haviam sido disponibilizados, como: interpretes educadoras com Libras, AEE.
Mas sempre esta resposta não me tranquilizava, pois já tinha desempenhado o papel de interprete de ensino médio, e sabia que acabava desempenhando o papel de educadora e que o grupo era mais um na sala de aulas. Então, pensava como seria com um aluno no ensino fundamental. Que direito de ser criança ele teria? Qual o vinculo que formaria com as professoras e colegas? O quanto estaria ganhando com essa convivência? Não teria como possibilitar a mesma coisa de forma diferente?
Nesse interim troquei de instituição de trabalho , e descobri um novo mundo: o das múltiplas deficiências e o fato de pensar que estas crianças poderiam estar no futuro na escola normal, me assustava, pois em alguns momentos tínhamos que nos deparar com comportamentos sociais não aprendidos para possibilitar uma convivência saudável.
Continuava com a opinião que a politica estava sendo interpretada só sobre o viés econômico e que o país estava com “chefias” erradas, e sem ouvir o verdadeiro interessado nisso: o surdo. Mas por outro lado percebia que o sujeito em questão não se organizava para lutar e não se manifestava sobre o assunto publicamente.
Continuei buscando e acabei realizando dois cursos pela Plataforma Freire e que me trouxeram conhecimentos, mas também a certeza que as formações estavam sendo realizadas por interesses políticos e para suprir exigência da lei.
Estudei no AEE  de Surdos e pude me apropriar do conceito da sigla e de suas funções. Na escola em que leciono já existia este recurso e em muitos casos é feito como o facilitador do ingresso da criança em aula, por ser trabalhado a aquisição da língua. Mas também havia outras modalidades de AEE, o que trabalhava com a tentativa de sanar algumas dificuldades pedagógicas do aluno. O que não era um laboratório e sim um recurso que possibilitaria um melhor entendimento sobre o trabalhado.
Bom J, sei que se teria muito mais a escrever, mas algumas coisas já seriam influenciadas pela aula de quarta-feira e eu não gostaria de escrever algo que ainda não absorvi inteiramente. Peço desculpas pela carta tardia, mas não consegui me organizar a tempo.
Abraços D.


 
De: C.
Para: R.

OLÁ NOVAMENTE R!!! 
Se não há duas R na nossa turma, então é a segunda vez que te escrevo! Uhm, coincidência?! Ou a Vida está armando para que aprendamos mais um com o outro?!
Bem, se entendi direito a tarefa R, devo contar para ti minhas percepções frente à Política de Educação Inclusiva.
Como eu já havia lhe contado na outra carta, na época da minha escolarização (1983), que foi anterior à Constituição de 1988, mesmo tendo plenas capacidades cognitivas e de comunicação, e na época ainda de escrita manual, encontrei dificuldades de disponibilidade de inclusão escolar. As escolas de ensino regular - tanto públicas como privadas - negaram minha matrícula dizendo não estarem preparadas para receber alunos com minha dificuldade. Até que uma escola privada me aceitou por um período de experiência.
No entanto, mesmo sem as preconizações das políticas de educação inclusiva, as coisas foram se desenrolando e minha presença se tornou algo natural na escola. Eu conheci a escola e a escola me conheceu. 
Mas naquela época, eu não era um cidadão de direitos, mas um menino de sorte, e muita sorte! Porque enquanto eu estava na escola, aprendendo, brincando e me socializando, incontáveis outras crianças iguais a mim estavam sendo excluídas ou segregadas em ambientes que não as desenvolviam. 
Então, por mais que se queixam da precariedade das condições das escolas comuns em receber alunos com necessidades especiais, eu vejo como um enorme avanço existir a política de educação inclusiva, pois todos tem a oportunidade de estudar.
Já tive salas com degraus, já tive barreiras de acesso ao currículo escolar, já sofri preconceitos e já superei cada barreira. Mas aí de mim ou da minha família que reclamasse, pois era um "favor" poder estudar. E nem tínhamos mesmo que reclamar, pois afinal, já que me aceitaram por desejo solidário e não por obrigação legal, encontrei na maioria das pessoas a disposição e sensibilidade em me incluir. Sem "Diretrizes Operacionais", sem "Resoluções" e sem uma "Política Nacional" que mostrassem o caminho a seguir, os professores iam intuitivamente e empiricamente construindo a sua própria "inclusão", calcada no bom senso que os ajudavam a filtrar os procedimentos que "funcionavam". Desse processo resultou, com o passar do tempo, um 'jeito' de organizar e conduzir o ensino para mim.
Eles se permitiam errar até acertar! Claro que os erros deles eram sofríveis para mim, mas o desejo do coração deles em acertar, não permitia nenhuma semente de mágoa minha germinar, e regava a paciência necessária em minha mãe para dar-lhes o tempo necessário de encontrar o caminho certo. 
Por isso, eu vejo que o maior dificultador para inclusão acontecer não é uma sala com degraus nem barreiras de acesso ao currículo escolar, nem falta de equipamentos nas salas de recursos, mas a falta de disposição de alguns profissionais. Na vida, muita gente sabe o que fazer, mas poucos são aqueles que realmente fazem o que sabem.
Infelizmente, vejo que as preconizações dessa política - apesar de modificar muitas estruturas - não alcança a disposição de alguns profissionais, que fazem de sua própria existência um obstáculo muito maior para inclusão do que a existência de qualquer "degrau". Para esses, a estabilidade profissional que há no funcionalismo público não deveria existir, pois se não há disposição para aprender e receber uma criança deficiente, não tem também a capacidade e humanidade para ser educador.
Claro que esses não são a maioria! UFA!!! Há muitos professores dedicados a fazerem a inclusão acontecer, mesmo lidando com algumas faltas de estruturas e especialistas. 
Eu repito: por mais de existir ainda certo caos (esse caos muitas vezes é porque as escolas, com seus tradicionalismos pedagógicos, não dão conta nem de atender os alunos ditos normais. É só observar seus índices de evasão e repetência) e precariedades das condições das escolas comuns em receber alunos com necessidades especiais, eu vejo como um avanço enorme a oportunidade de estudar!
Tenho visto a demanda de matrículas de alunos com deficiência crescer cada vez mais, não porque nascem mais crianças com deficiência, mas porque nascem mais sentimentos de coragem e mais engajamentos de pessoas que lutam na defesa dessa política.
Mais especificamente aos esforços para acolher alunos surdos, tenho visto poucas ações. Dentre as vinte e três escolas que acompanho, apesar de ver muitos projetos de práticas inclusivas, nenhum deles é para tornar as escolas em bilingues. 
Algumas vezes fui eleito D.e. para defender e contribuir com políticas públicas que garantam os direitos da Pessoa com Deficiência, principalmente no que se refere a escolarização inclusiva. Nas primeiras vezes que estive em Brasília/DF, deparei-me com o movimento apaeano que defendia a permanência de escolas especiais, e via que esse movimento só ganhava força quando se unia com a comunidade surda. E isso me indignava muito, eu achava que a comunidade surda era prepotente e não aceitava misturar-se com as demais pessoas.
No entanto, transformei essa indignação, que se originava em minha ignorância, em estudos e escutas. Me flagrei um verdadeiro leigo quando descobri algo básico e óbvio, que para mim não era óbvio: descobri que Libras não são gestos nem mímicas, mas é uma língua. Pronto, tinha agora uma nova visão! Como psicólogo, e agora Neuropsicopedagogo, entendedor da função da linguagem e sua importância para formação da mente, pude entender que para uma escola acolher um surdo é necessário muito mais do que um tradutor/intérprete, mas é preciso uma visão da Libras como língua primária, é preciso favorecer a esse aluno relações sociais entre seus pares que comuniquem uma mesma língua.
Infelizmente nossas escolas estão longe de oferecer essa realidade. Colocar um aluno surdo na escola comum como hoje se apresenta, mesmo com tradutor/intérprete, ao meu ver seria equiparar a minha primeira série, ou seja, uma situação de isolamento com foco no ensino conteudista, sem uma preocupação com a formação social da mente (vide Vygotsky). 
Então, é por isso que estou nessa disciplina, para conhecer mais sobre a pessoa surda, seus anseios, desejos e cultura.
Abração R!
Do teu amigo, 
CD.


 
De: CG.
Para: K.


   Olá, K, estou feliz em poder escrever mais esta carta e conhecer outra amiga.
Você sabe que nos dias atuais, a inclusão de alunos surdos nas escolas, não tem uma boa aceitação e integração por parte de tudo e todos, principalmente os colégios.  Mesmo com as Leis amparando a inclusão, existem muitos impedimentos a se cumprir por parte das escolas e com razão, pois a Língua de Sinais para se ensinar, tem de ter professores que gostem e entendam dessa área, ainda mais por ser uma língua nova de comunicação em nosso dia a dia. Mesmo com a escrita sendo em português, ela é falada através de sinais, tem toda uma regra a seguir.
Os Colégios Estaduais, Municipais, Particulares e outras Instituições, ao receber alunos de inclusão, contestam em muitas vezes em não aceitá-los, pois dizem não ter condições adequadas para integrar e fazer uma formação correta.
Se a Educação Inclusiva é para todos sem exceção, as escolas têm de se movimentar e exigir dos professores suas qualificações, ir a busca de cursos, conhecimentos, atrás de pesquisas, entrevistas,.. conseguindo acolher e envolver a inclusão de uma forma agradável, compensativa e carinhosa de ambas as partes. Para que isso ocorra, é necessário antes de tudo, que “o professor ame e goste da sua profissão".
A Inclusão é um direito e dever de todo o aluno surdo a frequentar qualquer tipo de escola e educação sem discriminação alguma.
Na época de matrículas em escolas, poderia haver propaganda, comentários e relatos para a conscientização dos pais sobre o quanto é importante a inclusão da criança com deficiência, de entrar na Educação, ficar no meio de crianças ouvintes, conseguindo uma boa integração e convívio social.
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem de andar em parceria com as escolas para ter grandes resultados em benefício da Educação, promovendo formação de professores e ensino comum para comunidade em geral.
O AEE só veio nos ajudar a incentivar a inclusão das crianças com deficiência a frequentar escola, dando apoio com recursos pedagógicos, atividades em geral, ajudando nas dúvidas do ensinamento, partindo barreiras para uma nova geração.
O AEE desenvolve no aluno com deficiência a formação do cidadão com autonomia e independência na escola comum e fora dela.
O atendimento é feito em turno inverso da escola, onde o aluno frequenta e caso a escola não tenha serviço AEE, deverá encaminhar para o centro de atendimento mais próximo dela. 
Sendo assim a gente vê o quanto é importante o AEE andar em parceria com a escola, para conseguirmos formar cidadãos com "Futuro Social". 
                                                                     CG.

 
De: AR

Para: SM


Ola SM
Tenho que te contar algumas experiências que já tive nesta área de inclusão, nenhuma muito profunda, mas todas bem diferentes pelas pessoas vivenciadas.
Primeira experiência que tive foi no ano passado, com uma aluna do 1º ano do ensino médio regular, com deficiência auditiva, tinha perda total em um ouvido e 80% em outro, foi criada e tratada como ouvinte, então,..., eu professora, tinha que dar aula voltada para ela, as vezes era complicado, pois esquecia, e muitos professores se queixavam também, mas já tinha informações sobre alunos que precisavam ler os lábios, fazia um enforco bem grande, eu era acostumada a dar aula só para ouvinte e ainda por cima, sou daquelas pessoas que se mexe pra La e pra cá, me viro pro quadro, explico usando desenhos no quadro,..., nossa, tinha que me policiar sempre, bem, eu consegui e ela também, na medida do possível, atingiu o recomendado.
Segunda experiência que tive e estou tendo é em uma escola de surdos, porem, existe todo o tipo de inclusão: inclusão física, mental, social, racial, em fim, trabalhamos na escola com alunos de 4 até 60 e poucos anos, pois é, pessoas com muita idade ainda cursando o ensino médio, autismo,...., tem!!!! Bipolaridade,...., tem!!!! Problemas diversos mentais....., tem também!!!! Em um sala de aula todos tem primeiramente a mesma deficiência, que é a surdez, mas alguns tem mais uma outra embutida no meio, temos um cadeirante que tem diversos problemas de urina e estomago, toma diversos remédio que em função disso a boca resseca, prefere não comer doces, pois sabe que irá doer o estomago (durante as festas promovidas pela escola, onde tem doces, bolos, balas; passa longe, já acostumou-se neste ritmo). O mais complicado de tudo: é você estando de fora do seio familiar percebe tantos problemas daquelas famílias geralmente carentes, quer ajudar, precisa ajudar, mas as próprias famílias já estão cansadas de lutar diariamente pelo preconceito social, concordo com elas de certo modo, as pessoas ... em geral, quando vem uma pessoa sem cabelo, o que pensa???? Em sair correndo de perto pois pode ser contagioso!!!  Igual acontece com os outros problemas ditos: pessoas não normais:  vou dar um exemplo: minha avó: do lado da casa dela tem uma casa de reuniões de uma religião, de uns anos pra cá , vê acontecendo reuniões especiais para surdos, no começo ela achou estranho, alguns emitiam sons não identificados, depois acostumou, esses dias atrás fui visitá-la, e reparei uns surdos se comunicando, logo pare perto e sinalizei e começamos a conversar, minha avó chorou de emoção: “ nossa que lindo!!!! Como eles são felizes, como eles tem uma alegria de viver, os olhos brilham....acho lindo a comunicação deles COITADINHOS” Eu respondi... coitadinhos nada, eles são iguais a nós, tem que trabalhar, estudar, respeitar a ética da sociedade local e as leis, nada de mais, e a LIBRAS não é linda, é igual a uma linguagem qualquer, uma língua estrangeira por exemplo, tu acha o português lindo? Não né, como explicar o português pra nos ouvintes, é simplesmente o nosso meio de comunicação, não é diferente para eles surdos, a LIBRAS é o meio de comunicação. Não quis ser rude, nem prepotente, quis mostrar pelo menos para uma pessoa que
 inclusão não é apenas chamar de coitadinho, dar as coisas de “mão beijada”, e passar a mão por cima dos erros, não mesmo!!!
Como todos já sabem; precisamos ensinar a pescar, e não dar o peixe, ajudar, sim, mas no sentido de fortalece-lo como pessoa e não de fazer as coisas por eles.
Ta longa a carta já né, mas preciso te contar outras experiências não por mim vividas, minha filha no começo do ano, entrou em uma turma onde tinha um aluno, não sei a deficiência, mas pelas descrições dela, era defeituoso, tinha dentes pretos e não estavam todos dentro da boca, não podia andar, nem falava direito e quando falava se babava, bem essa foi a descrição do colega incluído, ela tinha pavor, achava ele um monstro e todos os colegas tinham medo, mas em seguida o menino saiu, não sei porque, ainda outra experiência com ela, sempre me falava de uma colega que não copiava nada, ficava brincando com bonecas na hora da atividade, bem até a entrega de notas que eu perguntei pra professora por uma aluna com este comportamento estava estudando ainda, daí me explicou que era inclusão, mas.... faltou uma breve explicação aos seus colegas de turma, mas fiz aminha parte explique a minha filha porque a menina não fazia atividade. Como que fica a cabeça dos colegas destas inclusões, nos professores falamos tanto de inclusão, e os ditos normais, o que eles pensam, será que estamos fazendo esta adaptação corretamente?    
            Sobre o próximo assunto, não conheço nenhum tipo de atendimento especializado para estes lugares que trabalhei e trabalho, nesta escola de inclusão havia sim uma orientadora educacional bem esforçada em sanar os problemas, mas estava mais interessada em resolver a evasão, do que a inclusão, já diferentemente desta que é própria para surdos, não existe dentro da escola alguém que possa sanar as dificuldades, tem orientação, tem supervisão, direção e vice direção, tem, tem, tem sim, mas não resolvem problemas particulares individualmente, e nem auxiliam no desenvolvimento psicomotor, nem fonoaudiológico, psicológico, nada, nada, mas conseguimos as vezes encaminhar para FENEIS, temos também próximo a região a APAE, mas do contraio, que seria ótimo se tivesse nos ajudando, não é nos que temos que apóia-la pois não existe pessoas capazes de orientação na língua de sinais. Como já ocorrido algumas vezes por agressões de uma aluna bipolar, a policia da proximidade já foi acionada, e sempre que possível divulgamos os cursos de LIBRAS oferecidos gratuitamente, já fizemos caminhada pela cidade divulgando nossa escola e de como é importante a participação da comunidade nestes cursos, conseqüentemente, orientamos pais/responsáveis de alunos, a informarem seus psicólogos da importância de aprender a língua de seus clientes.  Notamos o interesse das pessoas, mas quando que realmente a sociedade perceberá a necessidade do nome inclusão... precisamos de um lugar maior e resistente para o gordo sentar, já percebeu que as cadeiras, hoje em dia, são vendidas para o peso máximo de 70 kg, que as calçadas são esburacadas, como que a mãe de um bebe com carrinho leva seu filho pra vacinar em um posto de saúde mais próximo? A criança se tiver mamado antes da viajem, certamente com as chacoalhadas irá regurgitar! O cego... nossa, tanta sujeira no chão, telefones na altura do rosto.... falta legende em braile, nos produtos do supermercado.
            Quem precisa de AEE? É as pessoas com deficiência, ou a sociedade?

Um abraço bem apertado
                                                                               AD.               


 
De: G.

Para: N.

Prezado colega N,

            Olá N, tudo bem com você? Meu nome é G e vou contar para você hoje uma história de inclusão no município onde moro, Caxias do Sul. Mas antes de começar, acho importante lembrar que, na minha cidade, vivemos uma situação privilegiada, pois temos uma escola bilingue para surdos, que atua da educação infantil ao ensino médio. Então, tive que optar por te contar uma história de inclusão vivenciada dentro da escola de surdos onde atuei durante dois anos. O caso que irei narrar é de um menino surdo com diagnóstico de autismo, que até hoje estuda nesta escola.
            Diferentemente das outras cartas que escrevi, das quais falei sobre trajetórias de surdos que tive pouco ou nenhum contato, nesta carta vou falar de um surdo que conheci bem de perto, que foi meu aluno na escola de ensino médio. Portanto, estarei narrando também um pouco da minha experiência como professora de surdos.
            Mas antes de chegar até mim, João percorreu uma longa trajetória...(Ah, só para esclarecer, vou chamá-lo de João para preservar sua identidade pois não pedi autorização da família para divulgar sua história, mas este ão é seu nome verdadeiro). Então Nelson, te confesso que antes de conhecer o João eu eu acreditava que somente saber língua de sinais já era suficiente para trabalhar com surdos. Quando na reunião de início de ano me disseram que eu teria um aluno autista tive a mesma reação que a maioria dos professores têm ao receber um aluno nomeado deficiente: me senti despreparada, insegura, e vieram à tona todas as representações que eu tinha sobre o autismo. Pensava que ele ia se isolar, que não saberia me comunicar com ele, que ele não ia aprender etc... apreensões estas que foram desconstruídas no contato com a realidade.
            Nas primeiras aulas fui observando o comportamento de João e fazendo as primeiras tentativas de comunicação. Ele usava a língua de sinais, mas de uma maneira muito peculiar, num ritmo diferente do que eu estava acostumada... à primeira vista pareciam gestos aleatórios, sinais sem conexão e sem sentido. E esse jeito diferente de sinalizar fez com que, muitas vezes, suas manifestações fossem desprezadas por professores e colegas.
            Não sei dizer ao certo se João teve um desenvolvimento espantoso nos últimos dois anos, ou se nós professores é que começamos a olhar para ele de outra maneira, proporcionando assim que ele se desenvolvesse. O fato é que ele passou de um aluno que simplesmente estava "incluído" na sala de aula e começou a participar mais, a demonstrar de uma maneira mais clara o que estava aprendendo, por escrito ou sinalizando.
            Outro aspecto importante de se ressaltar é o apoio que João tinha da família. Eles vivem em uma pequena cidade chamada Nova Pádua, que fica há mais ou menos uma hora de Caxias do Sul. Durante o ensino fundamental, a prefeitura destinava um carro para trazê-lo, mas com a passagem para o ensino médio, a família teve que arcar com o transporte. A mãe, com receio de deixá-lo sozinho, acompanhava-o todas as noites e esperava até às 22h30 para voltarem juntos para casa. Todos se espantavam com o empenho e persistência da mãe. Não foram raras as vezes que ouvi colegas dizendo: “Como é que pode! Ela vem todos os dias nesse frio só para trazer ele!” E João raramente faltava à aula. Além do cuidado e carinho da mãe, o estímulo que ele recebia em casa foi muito importante para seu desenvolvimento. João adorava ler e usar o computador. Mesmo não tendo boas condições financeiras, a mãe economizou o quanto pode e comprou um computador para ele.
            Com o passar do tempo e a convivência com João, fui percebendo que seus sinais não eram desconexos como eu acreditara. Eles tinham sim um significado, eu é que não conseguia acompanhar sua forma diferente de organizar o pensamento e a linguagem. Aos poucos ele começou ter uma participação mais efetiva nas aulas. Talvez em função dessa minha mudança de percepção eu tenha oportunizado mais espaços para ele participar, dado mais atenção as suas manifestações. Passou a participar das atividades que eu fazia com a câmera filmadora e com o blog. A turma em que ele estudava também auxiliou muito pois todos já o conheciam e o acompanhavam desde o ensino fundamental. Em dezembro deste ano, ele se forma no ensino médio, e a preocupação é com o que será dele após a formatura, isolado numa colônia de interior, sem o contato com a língua de sinais e os surdos. Me recordo de, em várias ocasiões, no conselho de classe os professores colocarem em questão a aprovação de João, a fim de que ele pudesse continuar na escola, mas ao mesmo tempo, pesava o fator de, se ele reprovasse perderia o contato com a turma que o acompanhou até então. Conversando com a diretora da escola, parece que ele vai prestar o vestibular no final do ano e pretende continuar estudando. Tomara.
            Bom N, espero que tenha gostado da narrativa que te trouxe e que tenha te trazido reflexões importantes sobre a educação de surdos.
 Um abraço
G.


 
De: G.
Para: CA.
Colega,    
        A inclusão escolar sem a preparação prévia do professor, do corpo discente, da escola da comunidade é um grande tiro que sai pela culatra. Na verdade toma forma de integração, onde o surdo é que deve adaptar-se e integrar-se à estrutura que está ao seu redor e não há a verdadeira inclusão: a escola se prepara para receber o surdo na sua modalidade de comunicação gesto-visual.
Geralmente as escolas sentem-se impotentes diante de tal inclusão≠integração perante os familiares que solicitam vagas. A tendência sempre tem sido encaminhá-lo para uma escola “especial”, dizem não estarem preparadas, se dizem sem condições materiais, dizem que não tem nenhum professor capacitado para atender este aluno.
De fato, faço um relato real que aconteceu comigo. Em 1995, quando foi inaugurada a Escola X, houve a matrícula de uma mocinha com perda auditiva utilizando aparelho, vinda da Escola Frei Pacífico. Obviamente que ela ficou numa turma de Progressão de Alfabetização, com o passar dos anos, com progressos bem lentos esta menina, agora uma moça de 17 anos estava no 1º ano do III Ciclo e, na ocasião eu era professora de Filosofia, tinha feito cursos de LIBRAS pela FENEIS e encarei com naturalidade a presença dela na sala de ouvintes. Eu sabia todos os cuidados que se deveria ter para com esta aluno: sentar na frente, falar devagar gesticulando bem as palavras, perguntar se entendeu, explicar no individual...Porem esbarramos com as demais professoras que não sabendo libras nem a postura que um professor deve ter, davam aula à sua moda sem a preocupação com aquela moça que tinha sua necessidade especial de aprendizagem.             

Os professores em geral estão habituados a “falar” incessantemente e sentem-se paralisados quando se deparam com alunos que não ouvem, aí cai por terra seu planejamento, acostumados a falarem e os alunos copiarem, esqueceu há muito tempo o que é resignificar sua aula com materiais visuais e estimular seus alunos com outros acessórios diferentes que quadro, giz e livros didáticos.
Temos que reprogramar o professor para que reaprenda a tornar a aula um estímulo para todos os sentidos: visão, audição, gustação, tato e paladar.
Talvez a inclusão tenha mais efeito desta forma.
GD

 
De: I.

Para: D.

Olá, D!
Vi que você trabalha com a AC na Escola Salomão. A A. foi minha colega na Especialização do Atendimento Educacional Especializado. Que bom ter tirado seu nome e poder lhe mostrar um pouco do que conheço.
 Tem muito o que falar sobre os assuntos acima, principalmente por estar presente neste contexto e contribuindo para que as mudanças ocorram de forma gradual e com qualidade. Para que a carta não fique formal e teórica, focarei a escrita na minha prática e contexto de trabalho, partindo das mudanças legais e estruturais do sistema e da escola.
 São muitas as leis, decretos, resoluções que vem sendo criadas e a escola regular não pode mais se negar a receber o alunado com Necessidades Educacionais Especiais (NEE).
 Os sistemas de ensino devem matricular os alunos com NEE nas escolas comuns do ensino regular e ofertar o AEE no contra turno, promovendo o acesso e as condições para uma educação de qualidade. Dependendo da quantidade de matrículas dos alunos com NEE, o MEC manda os recursos necessários para serem abertas as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). O município se responsabiliza pela contratação dos profissionais e pela sede da sala (em escola regular).  Resumindo, é desta forma que tem sido organizado o AEE no ensino público.
O MEC tem oferecido cursos para capacitar os profissionais para atuar nas SRMs. Foi um destes cursos oferecidos pelo MEC que terminei recentemente, tendo sido realizado pela Universidade Federal do Ceará. E digo que, infelizmente, há algumas falhas com relação ao que o MEC diz nesta formação sobre o atendimento aos alunos com Surdez. Eu ainda tenho conhecimento e prática nesta área, imagina quem não tem! Mas isto é assunto para a Ana Cláudia explorar no dia que ela trabalhar conosco este assunto, ou para conversarmos em outro momento...
De acordo com a orientação do MEC as escolas especiais passam a ser escola regular ou Centros de Atendimento Educacional Especializado. Nós que somos da área sabemos o quanto as Escolas Especiais de Surdos vem lutando para manter-se, principalmente para que os alunos surdos continuem entre seus pares e tenham garantidas a sua língua, identidade e cultura.
No entanto, minha realidade e toda minha experiência é em escola regular com inclusão de alunos surdos. Trabalhei durante 8 anos em uma escola filantrópica com inclusão de alunos surdos nas turmas de 2ª à 8ª série e 1ª série  com classe especial de alunos surdos. De acordo com a lei a instituição estava adequada e atendia às necessidades dos alunos com relação aos aspectos mencionados anteriormente. Inclusive, havia a disciplina de Libras na grade curricular da escola. Quando saí da mesma em 2008, era eu quem lecionava esta disciplina (além de lecionar no currículo), pois era a professora mais habilitada na área e não havia professor surdo na escola. O maior problema estava na falta de formação de alguns profissionais. A maioria sabia o básico da Libras e muitas vezes não conseguiam dar conta dos conteúdos de suas disciplinas em função da falta de vocabulário e conhecimento da língua. Na época que saí, ainda não havia a atuação de Intérprete de Libras. Espero que este aspecto tenha melhorado, afinal, inclusão é uma construção!
Desde 2008 atuo na Rede Municipal de São Leopoldo e em 2009 iniciei o trabalho em Sala de Recursos Multifuncional. No entanto, neste primeiro ano não houve demanda de atendimento de alunos surdos para mim. Em 2010, atendi uma menina surda de 6 anos no AEE. No entanto, este ocorria somente uma vez por semana, devido à falta de disponibilidade da mãe da menina em levá-la ao atendimento duas vezes por semana (esta era a maneira que estávamos organizados - atender 2 vezes por semana). Eu sentia uma grande angústia, pois era pouco tempo para trabalhar com a menina e mesmo que o atendimento ocorresse mais vezes por semana não seria suficiente se a escola dela não se adequasse às suas necessidades e se a aluna não estivesse entre seus pares. Estive algumas vezes na escola assessorando a professora e supervisão e emprestando materiais em Libras. Porém, percebia-se claramente que não havia interesse por parte da professora em fazer algumas adaptações e mudanças. Em uma das visitas sugeri à professora que fizesse um curso de Libras ou na área da Surdez (inclusive poderíamos tentar junto ao município o recurso para este), mas esta deixou clara a falta de interesse e disponibilidade... No fim das contas, a mãe da aluna percebeu isto (além de sentir a necessidade da filha desenvolver a Libras) e resolveu levar para outra escola do município (a de inclusão que trabalhei) – e eu concordei com sua atitude.
Quando lecionei algumas disciplinas no curso de Professores para Ensino de Surdos, muitos dos relatos dos professores assemelhavam-se com o que vivenciei. A maioria das alunas estava lidando com uma realidade muito complicada em seu município com relação à inclusão dos alunos surdos. Ao mesmo tempo que aprendiam muita coisa interessante no curso, na prática de estágio as dificuldades iam além do que podiam fazer, pois a maneira que o município estava organizado para atender aos alunos não estava dando conta das necessidades dos mesmos. Alguns dos relatos eram: o aluno frequentava o AEE todos os dias, mas na sala de aula ficava “perdido” (sem interação linguística e acesso aos conhecimentos); os professores e escola conhecem pouco a Libras e sobre a didática de ensino; alunos que tinham intérpretes em sala de aula, mas sem fluência na língua, entre outros relatos.
O que percebo é que os municípios tentam fazer o que diz a lei, mas sem ter conhecimento sobre a Educação de Surdos, não adequando às reais necessidades e à sua realidade. E ainda, há municípios que nem sabem por onde começar...
Agora vou contar um pouquinho como está acontecendo o processo de inclusão de surdos na Rede de São Leopoldo.
Atualmente, temos apenas um aluno surdo matriculado na Rede. Há outros surdos em São Leopoldo, mas estes são transportados até a Escola X em Novo Hamburgo - as famílias optaram por que não havia uma estrutura em nossa rede para estes alunos - outros, frequentam uma escola filantrópica (na qual trabalhei) com inclusão de alunos surdos.
Mas vou voltar ao aluno surdo antes mencionado... Para isto, coloco abaixo um excerto da justificativa do Projeto de Escola Bilíngue que elaboramos para a nossa rede, concluído no final do 1º semestre de 2011:
“No ano de 2007, cursou a Educação Infantil em uma escola da Rede Municipal de São Leopoldo e em 2008, ingressou na EMEF..., no 1ºAno do Ensino Fundamental. A família, então representada pela mãe do aluno, trouxe a questão de que não fosse utilizada a Língua de Sinais na escola, pois o aluno deveria aprender a falar. Porém, logo se percebeu na escola a necessidade de resgatar esses conhecimentos do aluno em comunicar-se na sua Língua Materna (L1), que é a Libras, e para isso, a professora titular da turma buscou orientações com o NAPPI (Núcleo de Apoio e Pesquisa ao Processo de Inclusão) e com a Professora do AEE (Atendimento Educacional Especializado) que o aluno frequentava. Essas profissionais trouxeram questões importantes sobre o aprendizado e uso da Libras no contexto escolar do aluno.
 Com a atualização da professora e conhecimentos adquiridos em Cursos de Libras, pode-se trazer essa vivência da Língua de Sinais para a escola, já que o aluno estava em processo de oralização, porém pouco se entendia do que queria comunicar, e aos poucos, seus colegas também se apropriaram do vocabulário mais básico e do jeito de ser, aprender e conviver com este colega.
 Atualmente, o aluno encontra-se no 4º Ano e é crescente a necessidade de resgate da Língua de Sinais, uma vez que seu processo linguístico está comprometido e reflete no aprendizado da Língua Portuguesa (na modalidade escrita, como L2, conforme Lei nº 10.436/2002), já que está fazendo pouco uso da Libras. Sendo o único aluno com surdez matriculado na escola, não pode ter a troca entre seus pares, o que torna a Libras cada vez mais distante.
             No contra turno o aluno frequentou a Sala de Recursos Multifuncional desde 2008 na EMEF ... com a profissional .... Atualmente, está frequentando a SRM da EMEF ... duas vezes por semana com a profissional... . Porém, percebe-se que, mesmo aumentando a quantidade de atendimentos e estímulos, o aluno não está dando conta de todo o processo linguístico e, consequentemente, seu processo de alfabetização está sendo prejudicado.
            Em 2008 foi criada no NAPPI a Comissão da Surdez, composta pelas fonoaudiólogas, Coordenação e professoras do AEE para discutir e pensar a inclusão dos alunos surdos que ingressarem na Rede Municipal. Inicialmente, foram feitas algumas visitas em instituições de ensino e atendimento ao surdo, com o intuito verificar o que havia de propostas.
 Em 2009 as discussões continuaram e o grupo da Comissão se ampliou e foi se fortalecendo, ao mesmo tempo, que foram surgindo mais indagações. No ano de 2010 algumas integrantes da Comissão auxiliaram na criação dos cargos de Professor de Libras, Instrutor de Libras e Tradutor/ Intérprete de Libras, havendo o Concurso Público em novembro do corrente ano.
             Em 2011, estes profissionais estão sendo chamados para atuarem na Rede Municipal de Ensino. Portanto, além do aluno surdo necessitar de uma estrutura adequada, devemos pensar também na atuação destes profissionais.
             No intuito de dar conta desta demanda e proporcionar um ambiente escolar propício à inclusão deste aluno surdo e demais que ingressarem na Rede, justifica-se a elaboração deste Projeto.”
             Portanto, colega, estamos iniciando esta caminhada na Rede de São Leopoldo e fico feliz  em fazer parte desta construção. Espero poder contar mais adiante como está sendo a experiência. Grande Abraço!


 
De: J.

Para: V.

Olá,V.
Tudo bem?
Eis algumas considerações sobre meu trabalho com surdos adultos e deficientes auditivos.
Na minha escola,eles estão fisicamente juntos numa mesma sala mas, cada um num nivel de ensino e com as suas especificidades de comunicação: uns com LS, outros sem SL, outros com leitura labial, outros que chegaram a idade adulta e precisam apontar para os objetos pra se comunicarem. A grande maioria chega na condição de analfabeto funcional nas series finais no Ensino Fundamental.
Penso que a melhoria do processo de inclusão de surdos deva começar com o teste da orelhinha e com preparo de professores nas Faculdades de Educação. Há que existir políticas públicas que garantam a intervenção precoce a partir da criação de creches, maternais, jardins de infância com professores bilingues. Penso que o investimento maior deva ser no início do processo de socialização das crianças surdas.
Um abraço,
J.

 
De: JB

Para: AL

Caro A,

Na temática: POLITICAS DE INCLUSAO ESCOLAR DE ALUNOS SURDOS: QUE IMAPCTOS E MOVIMENTOS PROVOCAM NAS ESCOLAS,   não tenho relatos vividos para narrar. Somente a experiência profissional de quem se preocupa com a educação de surdos  para que ocorra coerente com sua língua, sua cultura e seus pares.
Esses espaços de debate têm sido muito importantes para que outros indivíduos pensem a respeito de como são os mecanismos de aprendizagem e comunicação –NO CASO DA SURDEZ. Só com a discussão ampla e aberta, as pessoas podem entender e se posicionar, e não somente ser CONTRA ou A FAVOR.
Nas POLITICAS DE INCLUSAO ESCOLAR DE ALUNOS SURDOS: AEE, FORMAÇAO DE PROFESSORES E INTÉRPRETES EDUCACIONAIS são inúmeras as questões que eu poderia conversar aqui contigo. A formação de professores é algo que me preocupa de maneira geral, independente se para surdos ou não. Vivemos uma explosão de cursos a distancia, que preparam muitos profissionais de maneira duvidosa. No caso da educação de surdos, parece que só saber LS as vezes cumpre a função de ser o profissional,...
Os intérpretes educacionais também trazem questões como: ética, formação inicial, envolvimento com as questões de aprendizado, descaso da instituição na qual atua,tempo de estudo/preparação para os assuntos das disciplinas... Mas também é uma realidade que pouco conheço.
A respeito do AEE, sinto-me pouco capaz de te relatar... Na forma como o MEC orienta nunca tive oportunidade de observar, quando participo de encontros com professores da rede regular que estão estudando acerca de inclusão, praticamente ninguém sabe ou ouviu falar dessas possibilidades.
A, essa carta se tornou curta em razão de que seriam inúmeras as minhas considerações  para tantos aspectos em destaque.
Espero poder saber mais através do relato dos  outros professores  participantes do curso.
Um abraço,
JB.


 
De: K.

Para: A.


Olá A, confesso que não me lembrava de você e antes de começar a escrever fui até lista de nomes que nos foi encaminhada no começo do curso para ver/ler onde você trabalha.
Escrever através de cartas parece tornar tudo mais claro, mais gostoso e de forma mais leve. Simplesmente digito o meu ponto de vista sobre os assuntos que vamos discutir e isso está sendo uma delícia. Uma coisa que aprendi é que escrever sobre o que você gosta, isto é, sobre o que realmente te interessa é mais prazeroso.
Falar sobre Políticas de Inclusão implica em dar um ponto de vista ao tema da inclusão. Como professora tenho muitas críticas em relação ao assunto, mas queria ouvir outras pessoas antes de começar a escrever essa carta. Porém, antes de começar a escrever sobre o assunto tive algumas dificuldades. Liguei para umas 8 escolas e acredite, dessas somente uma disse que tinha uma aluna surda, que além de estar na sala regular também era atendida pela AEE. Pronto! Pensei que havia achado uma escola para ir e conversar com as professoras e profissionais sobre o nosso tema de Políticas de Inclusão de Alunos Surdos.
Bom, não foi simples assim, porque a Coordenadora me disse o seguinte: “nessa semana está muito em cima (isso era numa terça feira de manhã), na outra não poderemos te receber porque estaremos em festa e todos estarão ocupados em prol da mesma não tendo tempo para mais nada, assim como na outra semana a professora da AEE não estará na escola, pois participará de um curso durante toda a semana. Não me restou alternativa, agradeci a atenção e desliguei o telefone.
 Começo então a escrita sobre o Impacto das Políticas Publicas de Inclusão com uma breve critica ao posicionamento dos profissionais que pensam que não são responsáveis pelos alunos. Parece que esquecem que todo espaço escolar faz sim parte do processo de inclusão e desenvolvimento dos alunos, sejam eles necessitados de atendimento especializado ou não. Tudo relacionado ao tema de inclusão é sempre de exclusividade de quem trabalha de forma direta com ela; isso mesmo, nas próprias escolas existe essas divisões. 
Somente o professor que tem naquele momento um aluno surdo pode te dizer como é atendê-lo, é como se esse aluno nunca  tivesse estudado antes de chegar à série atual. É como se os demais funcionários não tivessem responsabilidades sobre o desenvolvimento intelectual e social daquele aluno.
Não estou entrando no campo da discriminação, entenda não estou dizendo que os demais professores e funcionários discriminam esses alunos, provavelmente devem tratá-los muito bem, com carinho até, mas não se sentem responsáveis  pelo aprendizado deles naquele momento.
Talvez meu discurso esteja parecendo negativo, e contra a inclusão, e sou mesmo contra, ou melhor, não, sou a favor... Calma, já me explico, sou a favor do texto que reje a inclusão... é lindo, tocante e cheio de boas intenções, sou capaz de assinar embaixo.
Porém, sou contra a prática da inclusão da forma como ela é colocada, imposta e entendida. Colocar um aluno surdo em uma sala regular de ouvintes, onde não se fala sua língua e não respeita e nem entende sua cultura com certeza isto não significa ”inclusão” e sim “exclusão”.
O AEE – Atendimento Educacional Especializado é uma oferta da Política de Inclusão que visa complementar o ensino do aluno surdo ou portador de alguma deficiência com um atendimento fora da sala de aula com currículo diferente e materiais adaptados segundo a necessidade do aluno visando eliminar ou diminuir as suas dificuldades.
O atendimento no AEE deve ser oferecido por profissionais capacitados, no caso dos alunos surdos os profissionais/professores devem ter formação na área de LIBRAS e Língua Portuguesa para alunos com surdez.
A proposta do Atendimento Educacional Especializado é muito boa; ruim é o fato que grande parte das escolas no Brasil, principalmente as do interior, ainda não possui profissionais especializados para atuar nesse atendimento.
Para finalizar, podemos dizer que a Política de Inclusão tem como papel principal romper as barreiras e dificuldades enfrentadas pelos alunos que precisam de atendimento diferenciado. Mas é preciso enfatizar que antes de incluir propostas de Políticas de Inclusão é preciso transformar o espaço escolar, em um ambiente acolhedor e propicio, conscientizando e preparando todos que estão a favor e em prol da educação de forma direta e indireta.
K.

 
De: SL

Para: AC

Querida AC
Fiquei muito feliz em poder escrever para ti, AC sobre um assunto que ao longo da minha caminhada na Educação de surdos venho refletindo: Inclusão de crianças surdas e Atendimento Educacional Especializado.
A cidade de Porto Alegre tem uma Escola Municipal de surdos bilíngue, criada em 2008 que oferece o ensino fundamental e atendimento educacional especializado para crianças surdas. Nesta Escola, que trabalhamos ,acolhemos todos os alunos surdos da cidade e alunos surdos com outras deficiências associadas. Acredito muito que a nossa escola é uma escola de inclusão que garante o acesso e a permanência deste aluno com qualidade.
Tu sabes, porém que temos um caso bem emblemático sobre este tema inclusão aqui na Escola X - nosso aluno E.G.  Por opção da família, mesmo depois da avaliação dos profissionais da Escola X que indica que o  E.G. deveria estudar numa escola de surdos,ele estuda numa escola regular de ouvintes.  A  Escola X, referência da Educação de surdos em Porto Alegre, oferece suporte para o aluno com o serviço de AEE e assessoria aos  educadores da Escola.
Este caso vem sendo avaliado constantemente pelos profissionais das duas escolas que o aluno frequenta e a posição da Escola X reafirma a importância do E.G. estar na escola de surdos adquirindo sua língua materna – Libras.
As vivências na Escola X me propuseram reflexões sobre o melhor espaço para a  escolarização dos alunos surdos. Quando uma família faz a opção de colocar seu filho numa escola bilíngue para surdos espera que a instrução seja feita em Libras  e o Português escrito como segunda língua respeitando assim  a identidade e a cultura surda.
Acredito também que a formação dos professores para o trabalho com educação é fundamental. A busca constante deste aprimoramento faz parte da qualificação do professor. As ofertas são multas, mas uma boa formação depende muito do bom aprendiz.
Estas são algumas reflexões que muitas vezes divido contigo.
Um grande abraço
SL.

 
De: S.

Para: ME


Oi B!!!
Te confesso que fiquei feliz e preocupada quando vi seu nome no papelzinho que tirei... Primeiro por escrever a alguém que conheço e convivo no meu ambiente de trabalho, fora a possibilidade de poder retribuir a primeira carta que recebi de você. Mas preocupada porque terei que abordar um assunto (Políticas Educacionais Inclusivas para surdos) tão polêmico hoje em dia, tanto para nós como para os surdos e seus familiares. Além do mais sei o quanto você estudou as leis que foram criadas para assegurar o Direito a Inclusão!
Por meio desta carta pretendo refletir um pouquinho mais sobre “A Inclusão” propriamente dita, no sentido que a própria palavra significa para mim deixando de lado as “Políticas Públicas...” propriamente dita. Abordarei por um viés mais experimental e sentimental baseado naquilo que vivi e ainda vivo hoje. É difícil, ou melhor, não está sendo fácil escrever tudo que se passa na minha mente. Tanto que estou a pensar nesta carta desde o dia que foi proposto a atividade e queria ter começado a escrever antes, mas comecei numa madrugada e voltei hoje para concluí-la. Sei que o assunto não se esgotará por aqui, e penso que apenas estamos retomando questões que precisam ser ajustadas da melhor forma.
INCLUSÃO= ato ou efeito de incluir(-se), estado de uma coisa incluída; INCLUIR= compreender, abranger, inserir, introduzir, envolver, fazer parte... Estes são os significados que retirei do dicionário para iniciar a reflexão pensando primeiramente nestas palavras “Soltas”. E ai pensar que todos nós devemos estar/ser incluídos se não num lugar ao menos em outro. Considerando que cada caso é um caso, precisamos também pensar no coletivo e é ai que vejo as políticas públicas assegurando a inclusão.
E com relação as leis, creio que estamos apenas engatinhando se levarmos em conta quanto tempo faz que a Libras foi reconhecida com todo seu mérito de Língua. Será que podemos dizer que saímos do 8 para 800? Tanto tu quanto eu sabemos que o equilíbrio é a melhor fórmula, mas leva tempo para chegarmos nele. E talvez não seja de total ruim radicalizar para desacomodar, o problema é bagunçar o que já estava “arrumado” quando se tem tanto para colocar em ordem. É neste sentido que vejo baterem na porta das escolas hoje chamadas de “especiais”, especiais por que mesmo? Claro que sabemos, mas devemos sempre nos interrogar se o especial é bom e deve existir sempre.
Na maioria das vezes trabalhei com surdos de escolas especiais, de um tempo para cá tive a oportunidade de trabalhar com aqueles que não iniciaram sua escolaridade numa escola especial e com aqueles que saíram da escola especial para a regular graças a bendita lei de inclusão e seus familiares que de alguma forma querem promover a inclusão. Vejo que há um sentimento diferente, ruim ou bom, depende de como é vivenciado! Mas me faz refletir muito sobre a importância e necessidade de uma Escola de/para Surdos.
Penso que temos muito, muiiiito mesmo que estudar para contribuirmos com a comunidade surda, por isto não se esgota aqui a discussão... Mas para não ficar sem tua cartinha hoje preciso terminar agora, mas gostaria muito de continuar te escrevendo em outro momento, pois sinto que mal comecei a abordar um assunto tão importante para tantas vidas.

Um grande abraço da tua colega e amiga!!!
S.

 
De: RM.
Para: E.

  Oi E!
     Adorei quando retirei teu nome novamente. Na primeira carta, relato algumas experiências com pessoas surdas. Também tive a oportunidade de refletir sobre o processo de inclusão da aluna AL. A partir deste momento, passei a construir uma escola inclusiva, uma nova escola que acolhe e não discrimina, que reconhece e valoriza a diversidade, que luta para ser de boa qualidade para todos os alunos, colocando novos e grandes desafios para o sistema educacional.
    Atualmente por conta da legislação e da luta dos movimentos sociais representativos dos mais diferentes segmentos da sociedade, um número cada vez mais expressivo de alunos com deficiências, está frequentando escolas comuns. Isto tem levado a uma profunda reflexão, acerca do papel e das finalidades da escola e me fazendo perceber que as diferenças na sala de aula, podem se tornar um fator de qualificação e de enriquecimento do ensino.
     A inclusão de AL com os ouvintes tem proporcionado um ambiente maravilhoso de trocas de experiências, de novas aprendizagens, enriquecendo as práticas pedagógicas no dia a dia.
     AL frequenta o AEE (Atendimento Educacional Especializado), duas vezes por semana, no turno oposto ao da escola, com uma profissional da área (AC), na qual identifica as necessidades e possibilidades da aluna, elabora sugestões de atividades, visando o acesso e a participação na escola. Esta profissional, bastante interessada pelo caso, mantém seguidamente o contato conosco, nos orientando, nos indicando materiais, recursos didáticos, acompanhando o uso desses recursos em sala de aula, verificando sua funcionalidade, sua aplicabilidade e a necessidade de ajustes.
     O AEE enriquece o currículo, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas e recursos de tecnologia assistiva, dentre outros.
     Acho que foi muito válido a inclusão de AL na Educação Infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físico, cognitivo, emocional, psicomotor, social e a convivência com as diferenças, favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança.
     O AEE está sendo fundamental no apoio ao desenvolvimento de AL.
     Foi um prazer escrever para ti e espero que possamos nos conhecer melhor!
     Um beijo e um forte abraço! Com carinho:

RM.

 
De: R.

Para: C. 

C,
Para te escrever é difícil, pelo menos escolhi amiga surda, pela primeira vez. Pois para completar a carta sobre Políticas de Inclusão Escolar de alunos surdos: os impactos e movimentos provocam nas escolas? E Políticas de Inclusão Escolar de alunos surdos: Atendimento Educacional Especializado (AEE), formação de professores e intérpretes educacionais, para falar com você, fiquei limitada, porque sei que está com esta pesquisa mais aprofundada do que eu, durante anos de estudos e eu só alguns semanas de obter esta pesquisa de volta. Na época que trabalhava na FADERS, alguns meses antes de eu fazer a licença, tinha uma equipe educacional da FADERS que exigia na área da educação focando AEE, precisei fazer cursos para entender estas diferenças além da surdez (Autismo; Baixa Visão; Cegueira; Deficiência Auditiva; Deficiência Física; Deficiência Intelectual; Deficiência Múltipla; Deficiência Visual; Altas Habilidades/Superdotação; Comunidade Surda; Dificuldades de Aprendizagem; Condutas Típicas; Surdez; Surdocegueira; Transtorno Global de Desenvolvimento; Paralisado Cerebral; Profissionais da educação) para poder trabalhar, como comecei este curso em 2009 e fiquei insatisfeita com esta ideia, então fugi, risos!
No começo de trabalho, antes da AEE, comecei atender uma surda que tem mais de 30 anos, não sabe pelo menos escrever o seu nome, sinalizando “meio soltas” e não sabe o que quer. Só uma coisa que ela sempre ia para aula caprichosa, se arrumava bem para ir as aulas, atendia ela uma vez por semana em 2 horas. Comecei trabalhar só as figuras e ensinando os sinais assim como fosse os seus primeiros sinais e aos poucos aproveitando também fazer-a saber o seu nome próprio e o seu sinal também. E como depois exigência da equipe para trabalhar AEE, não funcionou para ela continuar, é uma pena! Depois disso não sei mais de nada, mas com certeza que você possa nos ajudar com este tema muito aprofundado e delicado, para finalizar.
Falo a minha opinião assim como acabei de ler o artigo da LUNARDI e MORGENSTERN sobre Dispositivo curricular de controle: governamento da surdez no cenário educacional que o governo preocupa na aera de educação que sempre diz esta palavra há muito anos atrás EDUCAÇÃO PARA TODOS como é significa esta palavra na educação de surdos, que precisa com que a surdez faz a parte multicultural e não somente para quem sabe falar com as “mãos”, é sim usar os materiais visuais fora na sala de aula, por exemplo: mural nos corredores? Funcionários da escola, por exemplo, sabem a Língua de Sinais? Adaptações para facilitar para os surdos, luminária nos horários. E tem mais que acontece fora na sala de aula, isso que as escolas não imaginam assim, sempre preocupa com meio de comunicação com uma professora que sabe sinalizar e/ou intérprete para acompanhar as aulas, isso é muito dependente dos outros, em termos individuais ou coletivos, isso não é espaço para as pessoas surdas que tem sua subjetividade e liberdade da sua escolha assim como usou as palavras da LARROSA que refletiu “a própria experiência de si não é senão o resultado de um complexo processo histórico de fabricação”.

Beijos da colega
R.

 
De: MC.

Para: J.


Prezada  J.
Escrevo para contar-te sobre minha experiência no Curso de Atendimento Educacional Especializado na Universidade Federal de Santa Maria. A UFSM desde 2009, tem ofertado curso nessa área a diversos estados brasileiros, e em 2010 ofertou a duas  turmas em Cabo Verde  na  África.
Como professora Pesquisadora  do Módulo de Surdez fui convidada a ministrar aulas presencias nesse  país. Além disso diante da demanda proposta pelo Ministério da Educação Caboverdiano começamos um projeto de orientação na educação e aquisição da língua de sinais dos surdos de Cabo Verde.
Cabo Verde é um país insular africano, arquipélago de origem vulcânica, constituído por dez ilhas. Está localizado no Oceano Atlântico. Cabo verde é um estado arquipélago com uma economia subdesenvolvida e que sofre com uma carência de alternativa de recursos e com o crescimento populacional. Os principais meios económicos são a agricultura, a riqueza marinha do arquipélago, a prestação de serviços que corresponde a 80% do PIB, e mais recentemente o turismo que tem ganhado crescente relevância.
O Curso durou uma semana onde estivemos trabalhando com aulas expositivas e oficinas de segunda a sexta feira durante todo o dia. Os conteúdos das aulas presenciais tratam de temas como: Práticas Inclusivas do Aluno Surdo: retratando experiências inclusivas brasileiras, Educação Bilíngue e Aspectos Metodológicos na Sala de AEE,  e Aprendizagem da Segunda Língua na educação dos Surdos.
Durante nossa estada estivemos em algumas ilhas (Ilha de Santiago, Ilha de São Vicente e Ilha do Sal),  para conhecer a realidade vivida pelos surdos daquelas comunidades.  Na Ilha de Santiago, onde está localizada a capital do  País, Praia,  conhecemos algumas escolas localizadas em diferentes bairros que possuem alunos surdos em situação de inclusão. Na  Escola Eugénio Tavares,  os surdos estão reunidos  em  (duas) turmas. Duas turmas de alunos surdos, multisseriadas, sendo que uma delas agrupa as classes do ensino básico. Nesta escola constatou-se dois tipos principais de comunicação, um deles, nas aulas de LGP, como meio de interação face a face, a língua de sinais, mas com a utilização da LP escrita, em outras aulas um misto de comunicação gestual e língua portuguesa oral mistas simultâneas.
Diante da realidade observada e considerando que:
·         O ensino de língua de sinais portuguesa (Língua Gestual Portuguesa, doravante LGP) é encontrado em três turmas de alunos surdos e ensinada em outros contextos individualmente;
·         O relato da existência de sinais caseiros, oriundos…, pela professora surda Helena e por professoras ouvintes, Madalena e Paula;
·         a situação diglóssica, Português (nota europeu) e Crioulo Cabo Verdiano, para fins de alfabetização;
·         a falta de diagnóstico preciso da surdez de vários alunos, deixando dúvidas quanto a sua real perda auditiva ou outros comprometimentos (emocional, psicológico, mental, fisiológico, etc.);
·         o ensino em todas as escolas visitadas, com exceção da Eugénio Tavares, ser feito em língua portuguesa oral, (embasar que já foi feito em…resultando em…contatando-se que esta metodologia não demonstra resultados efetivos);
·         as distâncias e dificuldades estratégicas e econômicas de deslocamento.
Aconselhamos:
·         Formação pedagógica, urgente, de Helena que, no momento, atua como professora de LGP, tendo em vista que esta atua sem a devida formação;
·         Fomentar estratégias para que a professora surda constitua-se como parte oficial do corpo docente, recebendo denominação e cargo como professora;
·         Criação de um espaço pedagógico em que a professora de LGP atue com os alunos de diferentes níveis de ensino criando um espaço linguístico favorável de aquisição/aprendizado não só de aspectos estritamente linguísticos, bem como de promoção de  aspectos culturais (jogos, brincadeiras, contos, piadas, histórias, etc.);
·         Formação de professores surdos de língua de sinais, com a presença de Helena para que estes sujeitos atuem como multiplicadores itinerantes nas localidades mais distantes e nas ilhas, tais como: na associação de surdos, na escola Eugénio Tavares, e nas escolas onde houver alunos surdos para que se contemple as necessidades linguísticas e pedagógicas dos alunos, de sua família, da comunidade escolar como um todo, em especial dos professores, e demais interessados;
·         (envidar) esforços para que a escolarização dos surdos concentre-se, preferencialmente, em uma escola (ampliação das classes de surdos na Escola Eugénio Tavares);
·         Formação continuada dos professores que atuam com alunos surdos e dos novos professores, que deverão ser contratados para esta área, no futuro; considerando que esta formação deve englobar aprendizagem e desenvolvimento da LGP e na parte pedagógica específica na área da educação de surdos;
·         Produção de material didático pedagógico para a língua de sinais (nota: gestual) ancorado na experiência visual dos sujeitos surdos
·         AADIC Assoc Apoio desenvolvimento Crianças Deficiente
·         Pais e comunidade do entorno das pessoas surdas
·         Fomentar ações de política pública onde uma nova racionalidade acerca da comunidade surda seja percebida em uma perspectiva diferenciada, o entendimento de uma cultura surda, a importância da língua de sinais no resgate da família tanto na escola quanto na associação
·         Associação de surdos, geridas por surdos (ouvintes como apoio e auxiliares) para defender os direitos das pessoas surdas,
 O objetivo dessa Carta é trazer um pouco dessa experiência, a meu ver,  tão valiosa que tem causado sensibilização às autoridades de Cabo Verde no que se refere educação das pessoas surdas daquele País. A partir dessa vivência e de todos os estudos feitos após a visita formulamos um dossiê e um documento orientador que foi encaminhado para o Ministério da Educação.
Podemos observar sob essa interface que o Curso de Atendimento Educacional Especializado está indo para além das fronteiras da UFSM e do Brasil, promovendo discussões relevantes e pertinentes sobre  a educação e valores culturais das comunidades surdas.

                                                MC.
 
De: ME.
Para: R.


Olá R!
            É com imensa satisfação que trago algumas memórias e narrativas pessoais sobre o tema “inclusão”, pois foi através de um projeto de inclusão de alunos Surdos no Ensino Médio, em Gravataí, que nos conhecemos. Apesar de termos participado desse projeto, nunca tivemos oportunidade de conversar e avaliar os resultados obtidos. Eis que surge agora uma oportunidade!
            Na verdade, esse tema “inclusão” fez parte do meu trabalho de pesquisa, em 2006, no curso de Pós-graduação: naquela época pretendia conhecer alguns indicadores do processo de inclusão de crianças e jovens adolescentes, com deficiência auditiva, na escola regular. Tais indicadores estavam garantidos pela Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – que estabeleceu a inclusão. Mas estariam esses indicadores também presentes na escola regular inclusiva?
            Selecionei como indicadores o acolhimento, a formação da comunidade escolar para receber os alunos com deficiência auditiva, os serviços de apoio para atender as especificidades dos alunos incluídos (fonoaudiólogo, psicólogo, assistente social, serviço de atendimento às famílias, instrutor surdo, intérpretes), as adaptações curriculares necessárias para garantir o acesso ao conhecimento formal e a formação continuada para subsidiar os professores em suas práticas pedagógicas diárias.
            Através de observações em sala de aula, entrevistas e análise de documentos foi possível avaliar esses indicadores e concluir que as escolas ditas inclusivas não apresentavam condições básicas para o desenvolvimento das relações lingüísticas, sociais e culturais dos alunos  incluídos.
            A falta de comunicação aluno/professor torna-se responsável pelas implicações lingüísticas – a impossibilidade da aquisição da LIBRAS como instrumento de comunicação limita a aquisição de conhecimentos formais.
            Além das implicações lingüísticas também observei algumas implicações sociais como a identidade e a cultura desses alunos incluídos – de um modo geral esses alunos encontravam-se segregados ou isolados dentro das escolas, sentindo-se diferentes daquele grupo social em que estavam inseridos e, em alguns casos, discriminados. A falta de contato com seus pares impossibilitava a construção de uma identidade, um convívio social em condições de igualdade e de respeito às diferenças.
            Nessas escolas também estava presente a tendência de homogeneizar a produção cultural, sem o respeito à diversidade e à especificidade dos alunos incluídos que é essencialmente visual, corporal e espacial – os alunos eram submetidos a rituais de sala de aula que não respeitavam a sua condição.
            Nesse processo a escola inclusiva impõe a cultura do silêncio, estimula o sentimento de incapacidade e proporciona o fracasso do processo educacional. Até aqui, nada de novo!
            Depois de alguns anos, fui convidada para trabalhar no Núcleo de Educação Especial da Secretaria Municipal de Gravataí – nessa época, a cidade implementava sua política educacional inclusiva. Dentro dessa proposta, o MEC enviava recursos para a abertura das primeiras Salas de Recursos Multifuncional e oferecia cursos à distância para habilitar os profissionais que iriam atuar nesses espaços.
            As salas chegaram, mas não havia profissionais para o atendimento especializado; dessa forma, fui convidada para atuar no atendimento especializado para deficientes auditivos incluídos na escola regular. A demanda era grande e ficava impossível atender todos os alunos, famílias e professores como previa o projeto das Salas de Recursos. Muitos alunos moravam longe da sala de atendimento, o que impossibilitava a sua freqüência; alguns necessitavam de audiometria que confirmasse a deficiência e o processo para realizar esse exame era muito demorado; outros chegavam sem uma linguagem de comunicação e suas famílias resistiam ao encaminhamento para a Escola Especial. Enfim, mais uma vez, observei que estavam falhando os pressupostos legais da Constituição e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
                  Nessa mesma época, o grupo de profissionais do Núcleo de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação implementava um projeto arrojado de Inclusão de Surdos no Ensino Médio de Gravataí que, na minha opinião, tinha tudo para dar certo. Meticulosamente elaborado, o projeto previa: turmas mistas de alunos ouvintes e surdos, com a presença de professor-intérprete de LIBRAS para fazer a intermediação lingüística entre os professores ouvintes das disciplinas e os alunos surdos; instrutor surdo para trabalhar a LIBRAS, em conjunto com professor de LIBRAS bilingue; professor ouvinte bilingue para trabalhar a Língua Portuguesa escrita como L2, com o grupo de alunos surdos.
                  Entretanto, faltou vontade política à Secretaria de Educação para aprimorar e levar a diante um projeto inovador de inclusão de Surdos na Escola regular – apenas uma turma se formou! Você deve lembrar do esforço que fizemos para manter esse projeto e como os alunos Surdos gostavam de estar naquela escola, fazendo parte de um projeto que respeitava sua Língua, sua história e sua Cultura. Os alunos ouvintes adoravam aprender a Língua de Sinais e faziam trocas significativas com os alunos Surdos. Muitos professores queriam aprender a Língua de Sinais para comunicar-se diretamente com seus alunos Surdos e dispensar o intérprete. As formações, inicialmente, eram muito bem aceitas e enriqueciam o fazer pedagógico de alguns professores. Enfim, foi muito prazeroso participar desse projeto e ter a certeza de que é possível acolher a todos com igualdade de direitos desde que se respeite as características e necessidades individuais da cada sujeito.
                  No primeiro semestre deste ano tive a oportunidade de assistir à defesa de mestrado do nosso amigo Henrique que apresentou o projeto de Inclusão de alunos Surdos no Ensino Médio de Gravataí; a apresentação e a fala dos professores da banca me fizeram compreender a real dimensão desse projeto que, se tivesse sobrevivido à política de interesses, poderia ter se tornado um modelo de escola inclusiva a nível nacional.
                  Muitas são as memórias, as narrativas e as discussões sobre o processo de inclusão; entretanto, entre idas e vindas, continuamos defendendo o direito do cidadão de escolher a escola que lhe convém! Surdos e ouvintes tem esse direito garantido pela Constituição e pela LDB. Mas, mais uma vez, interesses políticos interferem nos direitos do cidadão e aqui estamos nós lutando pela permanência das Escolas de Surdos... e a história de movimentos e lutas por uma Educação de qualidade se repete!
                  Espero que essa minha narrativa nos possibilite retomar nosso projeto como ponto de partida de novas discussões em busca de novas alternativas!
                  Um grande abraço...
                                                            ME.
                                                                                                                                                                                                                                                          
             
 
De: MC.
Para: V.
Os atuais governantes e as Instituições Federais de Ensino, vem se preocupando cada vez mais com a Educação do Surdo pois estão oferecendo cursos na Área Pedagógica Técnicas e preparando o surdo para o mercado de trabalho, e consequentemente levando os surdos a participar mais ativamente na sociedade, mostrando seu valor e sendo aceito como um ser com Def. Auditiva, porém capaz de estudar e aprender com responsilidade e qualidade, Há 30 anos atrás, existia poucas escolas, em Porto Alegre. O surdo era tratado nas cidades no interior por pessoas leigas, como um doente mental ou uma doença contagiosa se brincasse com outra criança ouvinte esta po deria não falar também. Surdos como eu com de 40 anos de idade passaram muito trabalho porque não éramos compreendidos nem por nossa família. Estou feliz porque trabalho na educação do surdo e posso ver quanta oportunidade há para os surdos pequenos que estão ingressando na escola. Quanto mais nova a criança surda for à escola, melhor será seu desenvolvimento porque chegará mais cedo à Faculdade e ao mercado de trabalho. Através da convivência diário, surdos e ouvintes tem condições de trocar experiências e com isso a formação do surdo ficará mais rica e vice-versa. Com a integração entre surdos e ouvintes, crianças ouvinte vem somar no preparo cultural do surdo e diminuir a rejeição, que no passado o surdo sofreu muito, acredito que o caminho é este oferecer oportunidades dar co ndições a todos sem distinção esta tratar o surdo com Igualdade vai deixa-lo mais seguro para ir atrás do que ele quer, que ele vai conseguir.
A Língua de Sinais, é ótima porque veio nos libertar do silêncio, e agora podemos falar a Língua de Sinais com os nossos colegas surdos, só que ficamos isolados e hoje somos uma comunidade surda separada da sociedade. Queremos que os ouvintes falem mais nossa Língua de Sinais que para nos surdos mais velhos é muito difícil a Língua Portuguesa, mas o avanço na educação do surdo começando bem mais cedo está sendo mais fácil porque ele está mais preparado na Língua Portuguesa que vai facilitar tudo na vida deles tanto na faculdade com na prestação de concurso público. Eu tenho muito dificuldade nos concursos para entender a Língua Portuguesa. Com a inclusão, onde aulas de Língua Portuguesa vão ser ministrada por professores especializados em Letras, é um tr abalho dos governos em prol da cidadania do surdo, preparando os surdos em todas as áreas sob a avaliação de vários professores e Técnicas que vão avaliando o crescimento e desempenho de cada um. A inclusão vai servir para diminuir as diferenças tornando o surdo mais preparado e capaz de enfrentar e competir no mercado de trabalho com outras pessoas sem discriminação sendo mais acolhido e valorizado. Com a oferta da Língua de Sinais – Libras nas instituições de ensino superior haverá cada vez mais pessoas falando Libras e no futuro o surdo não vai precisar de intérprete ou uma pessoa da família para acompanha-lo em médico, psicóloga, dentista, bancos, repartições públicas... É importante que todos os professores que vão trabalhar na inclusão junto ao surdo, saibam falar Libras totalmente. O surdo não deve parar de estudar nunca é um processo contínuo, buscar sempre coisas novas na internete, lendo jornais revistas, procurando estar sempre bem in formado sobre os acontecimentos e principalmente sobre novidades para a cultura surda. Só buscando e rompendo barreiras se preparando cada vez mais e principalmente aproveitando as oportunidades que os nossos governantes oferecem. A Lei de 1º de setembro de 2010 que regulamentou a profissão de tradutor e intérprete veio valorizar este profissional que se por amor e dedicação a prestar esta ajuda ao surdo, muito mais por generosidade do que pelo dinheiro e sem estes professores o surdo não poderia ingressar em universidade, concursos.
POLÍTICA DE INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS SURDOS: QUE IMPACTOS E MOVIMENTOS PROVOCAM NAS ESCOLAR?
REUNIÃO DA EQUIPE
O movimento mundial pela inclusão foi um grande avanço na educação temos de agradecer aos nossos governantes e a Secretaria de Educação. Esta integração vai beneficiar ambas as partes: Def. auditivos e ouvintes. Os Direitos Humanos conjugam a igualdade o que significa que a inclusão deve se dar dentro e fora da escola. As dificuldades vão aparecer devem ser enfrentadas junto com os professores, buscando alternativa para superá-las, pois o indivíduo só cresce com as dificuldades, aprendendo a lutar e vencer barreiras e o def. auditivo vai surpreender com sua persistência e vontade de participar e aprender aumentando seus horizontes e seus conhecimentos.

MC.

 
De: SM.
Para: CL.
Meu nome é SM, sou professora de educação física e minha experiência com este tema é recente, apenas de um ano época em que comecei a trabalhar na rede municipal de Porto Alegre, antes trabalhava em escolas estaduais onde não tive nenhum contato com alunos de inclusão e em escolas que também não discutiam em suas formações ou reuniões pedagógicas as questões relacionadas a inclusão.
Para mim há um questionamento inicial relacionado ao termo inclusão que já nos remete a idéia de agregar algo que não deveria fazer parte ou que não estaria sendo considerado pertencente a um grupo, portanto algo excluído faz-se necessária uma inversão desta lógica. As formas de produção e relações sociais excludentes são arcaicas, preconceituosas, autocentradas e desrespeitam os direitos humanos ou seja não cabem num contexto de sociedade solidária, cooperativa, consciente das múltiplas formas de ser e estar no mundo, onde o acolhimento e o respeito a cada ser vivo seja o principal vetor das mudanças que todos desejamos, para uma sociedade mais igual e humana onde todos sejam vistos como sujeitos de direitos por todos. A escola como espaço de direito deve acolher e estruturar-se da melhor maneira para atender qualquer especificidade, afinal é para todos. No caso dos surdos, é direito que tenham acesso a uma educação que respeite suas especificidades lingüísticas e culturais e isso as escolas regulares não podem oferecer. Principalmente nos anos iniciais, o surdo desenvolve potencialidades, habilidades e competências psico-culturais diferentes das do ouvinte e da cultura ouvinte e que são determinantes do desenvolvimento cognitivo. Estas características devem ser respeitadas para propiciar o desenvolvimento das potencialidades inerentes ao surdo, é um erro colocar a educação para surdos no contexto da educação regular ou especial comprometendo o avanço das escolas para surdos e de uma educação voltada para a cultura surda. Não se pode construir uma educação excludente mascarada de inclusiva, pois não respeita as diferenças culturais ao não adotar a educação para surdos como uma modalidade no ensino, principalmente o público, com referenciais específicos que potencializem o desenvolvimento e o conhecimento da cultura surda. Os movimentos e impactos provocados nas escolas regulares com a inclusão de alunos surdos devem ser em torno das especificidades de comunicação, mas certamente os mais impactados serão os alunos surdos porque terão dificuldades de identificação com a cultura ouvinte além das de comunicação o que pode comprometer seu desenvolvimento. Por outro lado, devemos pensar também em contextos diferenciados, por exemplo, se em Sertão da Mata não houver outra alternativa, a escola regular deverá adequar-se a qualquer especificidade para garantir acesso a educação e de qualidade, que é o que todos sonhamos....Parece-me que a salas de AEE suprem esta lacuna, ao invés da escola adaptar-se as necessidades educacionais do aluno ele é que precisa de atendimento especial para adequar-se a escola. A formação de professores e a disponibilização de mais professores nas escolas podem contribuir para que a educação seja adaptada a todos contemplando suas especificidades educacionais.

 
De: ST.

Para: CA.


Caro colega
Desde maio deste ano começou um novo período na minha vida. Já que até esta data estava trabalhando numa escola da rede municipal de Porto Alegre com crianças ouvintes.   A partir daí comecei a conviver com alunos surdos e conseqüentemente com as colegas da Educação Especial com quem estou aprendendo diariamente. Várias descobertas foram surgindo desde então e quanto mais eu convivo e escuto sobre o trabalho com crianças surdas, vejo que é uma tarefa árdua, mas também compensadora, tanto quanto a com alunos ouvintes.
E é neste espaço que tenho ouvido abreviações de palavras como: EP, AEE, etc. Simplesmente não sabia de onde tudo isso tinha saído, nunca tinha ouvido falar. Mas a minha tarefa neste momento é comentar sobre o AEE e confesso que conheço muito pouco sobre o assunto. Entendo que o AEE é um trabalho desenvolvido com os alunos que precisam atenção especial, por exemplo, tratando-se de surdos, ampliarem sua comunicação em libras, recebendo atendimento fora do horário regular em turno inverso. Acredito que este trabalho pode ser feito por todos os professores que atendem este aluno, pois entendo que a interação entre todos os profissionais contribuirá de maneira mais eficaz para o progresso do aluno.  Na medida em que avançamos, creio estar conseguindo me situar melhor diante dos conteúdos, aumentando assim minha capacidade de entendimento.
  ST. 


 
De: S. 
Para: F.


Prezada F!
            Que bom nos conhecer e poder compartilhar nossos conhecimentos e experiências. Hoje vamos falar da nossa vivência escolar quando ao tratarmos da inclusão de alunos surdos nas chamadas classes regulares. Meu nome é S sou professora de História e intérprete no Ensino Médio na Escola X da cidade de Santa Cruz do Sul.
            A escola onde comecei a trabalhar no ano de 2000 não é a mesma onde hoje estamos eu e os surdos, pois, em 2010 os alunos foram todos transferidos. A escola Y onde antes estávamos era conhecida como uma escola de surdos. As crianças da Educação Infantil à quarta-série eram mantidas nas chamadas classes especiais enquanto os alunos surdos das séries finais estavam incluídos, primeiro sozinhos, sem intérprete, não me pergunte como e se conseguiam aprender.
            Logo em seguida, conseguiu-se a aprovação da Secretária de Estado de Educação das Classes Especiais para Surdos também nas séries finais do Ensino Fundamental. Não sei como isso aconteceu, pois, nesse momento todos os discursos se voltavam para a inclusão, ou a continuação da mesma como já era prática da escola.
            Nesse período o movimento pela não inclusão por parte da comunidade surda se intensificou. Como qualquer renovação dentro da educação houve muita resistência, até o debate era difícil. Havia dois lados, os professores que se diziam despreparados e os surdos que não queriam estar incluídos. Não se sabia ao certo o que iria acontecer e nem mesmo o que seria o melhor, embora se observasse o posicionamento da comunidade surda.
            Os professores que trabalhavam com surdos conhecendo um pouco da cultura dessa comunidade e a Língua de Sinais eram engajados no movimento de não inclusão enquanto aqueles, dentro da escola, que não atuavam com surdos tinham resistência significativa.
            A escola era tida como referência e recebia surdos de toda a região e assim continuou, sem saber como agir com os alunos surdos, outras instituições de ensino por força da legislação faziam a matrícula destes e depois de algum tempo acabavam aconselhando as famílias a fazer a transferência para nossa escola. Os discursos dos professores e também das direções das outras escolas era sempre o mesmo, “eles não aprendem”. Muitos surdos chegavam à escola depois de várias reprovações e das tentativas com poucos resultados positivos de oralização.
            Nossa escola continua sendo referência e recebe surdos de várias cidades da região. Algumas dessas cidades foram contempladas com Salas de Recursos e os municípios que antes disponibilizavam recursos financeiros para o transporte dos estudantes optaram por economizar esses valores, incluíram os alunos surdos com os ouvintes, que no turno inverso frequentam as salas recentemente instaladas.
Sabemos que, o movimento pela inclusão chegou às escolas sem que os profissionais envolvidos estivessem preparados para tal, o que não justifica a resistência ao debate. A formação da grande maioria dos professores pouco ou quase nada tratava sobre o assunto. Com relação à surdez então, não lembro, durante a minha formação se alguma vez foi mencionado o tema, afinal somos preparados para ensinar na usando uma língua, a Língua Portuguesa.
Para concluir colega. Nos últimos anos muito se tem discutido sobre o tema, muitos cursos foram oferecidos, mas continuo observando as resistências. Alguns professores estão dispostos a aprender a Língua de Sinais, embora entendam que somente isso não seja suficiente. Temos professores engajados na luta da comunidade surda enquanto outros se mostram completamente afastados dos movimentos realizados pelos surdos.

 
De: VL.

Para: VN.



Oii VN!!
Primeiro quero dizer que gostei do nome VN, é bem legal o nome.
Bom, aqui vai uma carta falando sobre Políticas de Inclusão Escolar de alunos surdos: Atendimento Educacional Especializado (AEE), formação de professores. Aqui vai começar a escrita com as mãos ou teclando ... risos ... Espera deixa eu pensar ... Estou pensando... Como posso começar uma boa carta ... bla bla ... Sobre AEE, já percebi que já começou com maior força a inclusão, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, que é mais a favor da escola surdos. Infelizmente outros estados têm mais a inclusão escolar, e eu não tenho duvida se é bom ou não, depende de as pessoas conseguirem ou não, não é mesmo?
Na escola de inclusão junto com interprete, o problema é que o interprete não foi formado num curso adequado, interprete conhece pouco a disciplina, fica ruim ... melhor que o professor mesmo explique, mas é uma pena ...
E eu já estudei em regime de inclusão, mas quero esclarecer melhor, eu já estudei e me formei no 2º grau na escola ouvinte, e eu era única surda na escola e não tinha interprete. Foi complicado, e comparando, foi diferente de quando eu estudei na 3 serie ate 6 serie també eu era única surda na sala, esse período foi fácil porque eu morava no interior de Uruguaiana e tinha apoio da minha tia e tinha aula particular. Depois voltei aqui para Porto Alegre e estudei na escola especial de surdo Concórdia, da 7 serie ate 2 ano do 2 grau, aquela época tinha 4º ano do 2 grau, e também eu tinha amigas na vizinhança, que me influenciaram a mudar de escola, e também eu ficava com preguiça de acordar cedo as 6 horas da manha e pegava ônibus T1 para ir escola. E ai perto da minha casa tinha a escola estadual onde todas as minhas amigas ouvintes estudavam. E ai eu decidi e me matriculei na escola estadual, fui me esforçando demais e consegui fazer muitos amigos, foi diferente a vida, mas na aula foi complicado, me lembro que tinha uma professora de Física, era bem chata, era baixinha, risos !! Tudo correu bem e me formei.
Falando sobre AEE, não sei será vale pena, parece prejudicar o tempo dos alunos, os surdos têm mais aula à tarde, falta lazer, cadê o lazer? Ou seria bom aprender mais?
Existe AEE na escola particular ou só estadual e municipal ? Será que vai ajudar surdos a desenvolver bem ?
Na minha opinião acho que seria bom inclusão para surdos de maior idade, no inicio surdos crianças devem ia à escola própria de surdos porque isso ajuda a aprender e conhecer identidade própria, e depois surdos já tem própria identidade e pode começar a conhecer o mundo ouvinte, sei lá se estou certa ou ... afff !!
Política sempre é complicado, e até o MEC complica mais ainda, como já tem próprio lei decreto, tem direto a LIBRAS, mas porque inclusão? Não estou entendendo... Sempre política.
Tem o problema da formação dos professores ouvintes que não conhecem a cultura surda. Por exemplo, na aula, o professor fala pela boca e ai os ouvintes vão anotando e não precisa olhar porque tem orelha ouvindo, e ai, os surdos fazem como ? Interprete vai interpretando e ai os surdos não tem como copiar, por exemplo, eu estudo especialização, e já percebi que tem muitas coisas que eu queria anotar e não consegui. A sorte é que uma colega que está sempre anotando pelo notebok, ela sempre usa na sala aula e eu peço para ela me mandar os emails todos os dias e expliquei para ela a dificuldade eu anotar porque preciso ver interprete ou eu tenho pedir professor dar pause para eu anotar, fica chato não é?
Bom, sempre lutar, nunca desistir !!
Acho que terminei aqui !!

Beijos da VL, nós temos letras igual inicio “V” risos!!

 
De: V.

Para: SZ.


Olá SZ! Estou achando bastante interessante poder socializar experiências e opiniões através destas cartas. Você não acha? Mas confesso que escrever sobre o assunto “políticas de inclusão de alunos surdos e formação de professores” não está sendo muito fácil para mim, pois as idéias vêm em minha cabeça, se misturam e surgem muitas dúvidas. E não estava conseguindo colocar no papel os meus pensamentos. Bom, vou escrever o que penso e desculpe se algo ficar confuso nestas linhas. Não pretendo escrever uma carta longa, apenas expressar resumidamente acerca do que penso, procurando não me deixar influenciar pela última aula que tivemos sobre o assunto.
 Trabalhar com alunos com necessidades especiais tem sido um grande desafio para mim e, atualmente, estar em contato com um aluno surdo na educação infantil tem trazido surpresas e felicidades. Tenho um aluno surdo de 5 anos, e tenho procurado estudar e me preparar para que eu consiga, através da minha prática pedagógica, fazer o possível para incluí-lo aos ouvintes e vice-versa. Pois às vezes não é fácil incluir dois grupos em todas as atividades pedagógicas ao mesmo tempo. E também, sei que não estou preparada como deveria para trabalhar com alunos surdos, mas estou me esforçando! He he...
 E falando em inclusão e despreparo, não posso deixar de citar aqui a Lei de Diretrizes e Bases (LDB nº 9394/1996) que garante o direito aos alunos com necessidades especiais o acesso à rede regular de ensino, bem como estabelece que os sistemas de ensino deverão assegurar professores especializados ou devidamente capacitados, que possam atuar com qualquer pessoa especial na sala de aula. Além da LDB, existem outros documentos que falam sobre o assunto, assegurando a inclusão do aluno surdo na rede regular de ensino e a capacitação dos profissionais. Pois bem! Nós, que estamos diariamente nas escolas sabemos que na prática, tais políticas de inclusão não ocorrem de forma efetiva. A legislação está aí para ser seguida, respeita e colocada em prática, porém o atendimento muitas vezes não ocorre como deveria. Inclusive com alunos surdos. Falando mais precisamente da Educação Infantil, que é a minha área, existem dificuldades em atender de forma efetiva os alunos surdos por motivos como: falta de recursos humanos, falta de qualificação profissional e conhecimento da LIBRAS por parte dos profissionais. Mas não podemos desanimar! Sabemos que se trata de um processo lento.
             O contexto atual evidencia cada vez mais a necessidade de formar professores para atuarem na educação de alunos surdos. Para o professor, hoje, não saber LIBRAS dificulta a comunicação com o aluno surdo.

 
De: LF.

Para: I.
I,
Eu não queria ter que escrever sobre esse assunto... AEE. Sei de sua importância e relevância, porque ouvi falar. Mas não tenho nenhum conhecimento sobre ele. Daí eu não querer escrever. Onde já se viu escrever sobre algo que se desconhece?
Em parte isso é ruim: desconhecer sobre algum tema interessante para a área da educação de surdos. Digo em parte porque meu desconhecimento reflete uma lacuna muito grande na formação de professores. Não queria ter que denunciar essa falta, mas é o mínimo que posso fazer (e essa é a parte boa) para fomentar, ao menos, o debate.
Sou formada em Letras pela UFRGS mesmo. Em nenhuma disciplina que cursei durante toda a minha graduação ouvi falar em AEE. Estranho? Pois é!
Mas daí tu me perguntas se, de repente as disciplinas na Faculdade de Educação – porque somos obrigados, enquanto licenciandos, a cursar algumas...- não forneceriam subsídios teóricos para tal assunto. Não também!
E olha que não foram poucos os créditos obtidos pela referida faculdade. Cursei no mínimo umas oito cadeiras, incluindo "Políticas da Educação Básica" e "Intervenção pedagógica e necessidades educacionais especiais".
Nadinha de AEE.
Aliás, a temática da inclusão, de uma maneira geral, é quase nada discutida e ensinada aos alunos-professores. Não sei se isso se dá devido à complexidade do assunto, suas várias perspectivas e vertentes teóricas, à multiplicidade de abordagens práticas, às diversas e diferentes realidades escolares, mas de uma coisa eu sei, por experiência própria: o desconhecimento é uma das causas. E enquanto houver lacunas na formação de professores haverá alguém atuando e narrando infundadamente sobre o desconhecido (eu, por exemplo).
E, convenhamos, cada área tem seus temas e toda uma complexa arquitetura e uma infinidade de pontos de vista. Não é só na área da Educação que isso acontece. Por exemplo, na área de Letras, não tem uma definição para "língua". Nem para "linguagem". Nesse ponto o mestre genebrino, Ferdinand de Saussure, está certo: o ponto de vista cria o objeto. Teremos tantas línguas e linguagens, quantos pontos de vista houver. Me pergunto, então: quantos olhares sobre a inclusão estão sendo forjados? E porque as lentes não são compartilhadas com futuros professores?
Ok.   Tudo bem que as instituições formadoras de professores tem sua responsabilidade sobre o fato, mas a questão é: o que fazemos quando percebemos nossas lacunas?
Eu quero preenchê-las. Da melhor maneira possível. Com o que estiver ao meu alcance e com o que mais esse curso me fornecer. Principalmente com as experiências dos colegas. Com o que conhecedores do tema tem a compartilhar e para me ensinar. Bem, do que mais a gente precisa quando se tem um atendimento educacional tão especializado e experienciado quanto este?

Um abraço, com as lentes ainda embaçadas, LF.


Cartas encontro 4: O ensino de Língua Portuguesa para surdos no Atendimento Educacional Especializado

- Os nomes nas cartas foram substituídos por suas iniciais a fim de preservar a identidade dos participantes da pesquisa.


 
De: AD.
Para: A.

Olá A! Estamos juntas neste curso e agora temos a oportunidade de nos aproximarmos a partir desta carta, com a temática “O Ensino da Língua Portuguesa para Surdos no Atendimento Educacional Especializado - AEE”.
Sou educadora especial, e atuo no município de Capão da Canoa, em Sala de Recursos Multifuncional para o atendimento dos estudantes surdos em AEE, por isso está temática é do meu cotidiano. No entanto, sinto falta de mais trabalhos publicados na área e trocas entre os profissionais para maior efetivação da política de inclusão, já que o Atendimento Educacional Especializado é a base fundamental para a articulação do processo educacional inclusivo.
Sabemos que para o AEE dos estudantes surdos ocorrer deve-se ter três momentos distintos didático-pedagógicos, assim definidos por Silva (2007, p.25):
Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola comum, em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo. Este trabalho é realizado todos os dias, e destina-se aos alunos com surdez. Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras na escola comum, no qual os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalho é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (...). Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para as pessoas com surdez. Este trabalho é realizado todos os dias para os alunos com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de Língua Portuguesa, graduada nesta área, preferencialmente.
A partir dos três momentos descritos acima, o estudante surdo tem a possibilidade de vivenciar a proposta bilíngue e aprender, interagindo com professores surdos e ouvintes que subsidiem o seu desenvolvimento, oportunizando recursos, dinâmicas, materiais específicos ao seu aprender, baseados na sua língua natural, a Libras.
Ariadne, cabe certamente, muitas reflexões, diante desta proposta, por isso acredito na flexibilização da mesma, sem perder seus reais objetivos, mas sendo necessário que cada instituição de ensino possa organizá-la e direcioná-la segundo sua realidade.
Atualmente, desenvolvo um trabalho de AEE com estudantes surdos e busco oportunizar o ensino bilíngue, um ensino com respeito a diferença linguística e cultural dos surdos, porém encontro muitos obstáculos, um deles seria a falta de um profissional surdo com formação para trabalhar comigo na escola.
A proposta do Atendimento Educacional Especializado para o estudante surdo, no momento do ensino da Língua Portuguesa (L.P.), é contraditório, pois para um surdo usuário de Libras aprender a L.P. pela “oralização”, é não respeitá-lo, é ouvintizá-lo, e assim, se mascara a aceitação ao surdo e se age com discriminação.
Então, A, eu tendo que desenvolver o AEE com um grupo de estudantes surdos incluídos, organizei uma proposta flexível nos moldes dos três momentos pré-estabelecidos, e especificamente no ensino da L.P., realizo o ensino da L2 para o surdo a partir da L1, sempre utilizo como forma de ensino a comparação, análise entre as duas línguas, bem como relaciono e associo Libras a L.P., suas gramáticas e regras.
 No entanto, sem imposições, respeitando o tempo de aprendizagem do estudante surdo, não esquecendo que a Língua Portuguesa é uma segunda língua para a comunidade surda, e lembrando que será a Libras que dará ao surdo a estrutura de pensamentos, pois é a sua primeira língua, e a partir dela o estudante com domínio terá a base para a L2, a Língua Portuguesa.
No caso, os estudantes que iniciei o ensino da L.P., eles já tinham um bom conhecimento em Libras, este foi sendo ampliando conforme suas vivências e maturidade, condição de todo ser humano.
Acredito que educar o surdo através do bilinguismo é educá-lo a partir da sua cultura linguística, sendo que o bilinguismo na escola comum não pode objetivar somente a questão linguística, deve embasar o processo educacional a valorização das relações entre os pares surdos, e assim a escola comum poderá ser um porto seguro para trocas de informações e experiências entre os surdos.
A, espero que gostes da minha carta!
Atenciosamente;                                                                                                   AD.

 
 De: EM.
Para: CL.


Olá CL!
             O tema desta carta é o Ensino da Língua Portuguesa no Atendimento Educacional Especializado – confesso que esse não é um tema sobre o qual eu tenha algum domínio ou conhecimento. Já trabalhei numa sala de Recursos Multifuncional atendendo alunos com deficiência auditiva incluídos na rede regular de ensino e também no apoio pedagógico de alunos surdos incluídos no Ensino Médio, também da rede regular de ensino; entretanto, em ambas as experiências, o ensino da Língua Portuguesa não era da minha competência.
            De qualquer forma, atuando na Supervisão Escolar de uma escola de Surdos, tenho algumas memórias e narrativas sobre o ensino da Língua Portuguesa para surdos e, dentro dessas memórias e narrativas, tenho o registro das inúmeras discussões que se estabeleceram sobre o currículo e metodologias para o ensino dessa disciplina na escola.
            Dentro desses discursos sempre consideramos o fato de que surdos e ouvintes compartilham o mesmo espaço físico e uma série de hábitos e costumes - alguns próprios da Cultura Surda e outros mesclados a aspectos próprios da Cultura Ouvinte, fato que torna os surdos indivíduos multiculturais. Por esse motivo, Skliar (1998: 28) defende que 'é possível aceitar o conceito de Cultura Surda por meio de uma leitura multicultural, em sua própria historicidade, em seus próprios processos e produções, pois a Cultura Surda não é uma imagem velada de uma hipotética Cultura Ouvinte, não é seu revés, nem uma cultura patológica.'
            Apesar de estar inserido em uma sociedade e em um núcleo familiar que, em sua maioria, usa a língua oral, o surdo também está ligado (direta ou indiretamente) a espaços e pessoas que utilizam a Língua de Sinais. Desta forma, reconhecemos a condição bilíngue do surdo e aceitamos o fato de que esse sujeito se constitui e se forma transitando entre essas duas línguas.
            Sabemos que a relação do Surdo com seus pares fortalece sua identidade e lhe traz segurança. É no contato com seus pares que se identificam com outros surdos e encontram relatos de problemas e histórias semelhantes às suas, como suas dificuldades na comunicação com suas famílias ou na aprendizagem dos diferentes conhecimentos que são trabalhados na escola, que muitas vezes também podem estar ligadas à comunicação ou à falta dela.
            No desejo de encontrar e desenvolver uma identidade surda, o encontro de sujeitos surdos mobiliza a organização de uma Comunidade Surda, que discute e luta pelos seus direitos na sociedade: direito à vida, à cultura, à educação e ao trabalho; dessas lutas surgem também os movimentos surdos pelos seus direitos lingüísticos e de cidadania.
            Dentro desse cenário, as escolas discutem, refletem e concluem que a alfabetização de surdos  deve se realizar, inicialmente, em Língua de Sinais, pois esta é a sua primeira Língua. Mas como se dará o processo de aquisição do Português, que para o Surdo é uma segunda Língua, ainda se constitui num grande tema de reflexões, discussões e indagações. Sabemos que, apesar de não ser um processo natural, se faz necessária a aprendizagem da Língua Portuguesa escrita dentro das propostas de aprendizagem formal nas escolas. A leitura, a produção e a compreensão de textos passam a fazer parte do processo de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa com o objetivo de transmitir e contextualizar informações, diante da ausência de trocas orais.
            Nesse processo de aquisição da escrita da Língua Portuguesa, a Língua de Sinais é reconhecida como elemento indispensável – quanto mais efetivo é o acesso do surdo à Língua de Sinais, melhores chances ele tem de se apropriar da escrita da Língua Portuguesa. Portanto, podemos afirmar indiscutivelmente que o encontro desse sujeito com a escrita é precedido e possibilitado pela Língua de Sinais.
            Ao mesmo tempo em que a Língua de Sinais garante a apropriação dos elementos culturais de integração à sociedade e de acesso ao conhecimento, também é instrumento de interpretação e produção de palavras, frases e textos da Língua escrita. Mas como podem esses sujeitos comunicar e produzir conhecimentos em uma língua e serem alfabetizados em uma outra língua diferente sintática, morfológica e foneticamente?
            A partir dessa indagação, penso que a condição bilíngüe dos surdos exige das escolas e dos pesquisadores novas reflexões sobre o processo de leitura e escrita desses sujeitos. Interpretar ou produzir uma escrita estranha à própria língua confronta nossa organização de linguagem e nosso conhecimento gramatical, exigindo uma produção de novas significações que só conseguimos construir a partir da nossa língua materna.
            Desse pressuposto, concluo que essas duas línguas precisam apoiar-se mutuamente para que se desenvolvam em suas características lingüísticas. A escrita da Língua Portuguesa é objeto de conhecimento; a Língua de Sinais deve mediar a relação entre o surdo e a escrita, funcionando como apoio e lugar de reflexões sobre esse novo objeto do conhecimento. Por meio da Língua de Sinais, dos seus parâmetros de composição (principalmente a configuração de mão), o surdo analisa o significante sinalizado estabelecendo relações com o significante escrito. Através da Língua de Sinais o surdo chega a uma compreensão da escrita como representação da linguagem.
            Assim sendo, é fundamental que as escolas promovam uma ação pedagógica capaz de favorecer a compreensão de que a escrita da Língua Portuguesa e a Língua de Sinais são línguas diferentes, com organização morfológica e fonológica diferenciadas. Uma intervenção pedagógica adequada deve contribuir para que as diferenças entre as línguas sejam percebidas e para que o surdo possa produzir uma escrita que respeite a regularidade da Língua Portuguesa. Da mesma forma, escola e educadores devem perceber a escrita do surdo com todas as especificidades que marcam essa construção.
            A partir dessas reflexões, penso que é papel da escola e dos educadores uma avaliação sistemática de suas concepções sobre o processo de escrita do sujeito surdo, a partir de embasamentos teóricos e pesquisas atualizadas, pensando em novas práticas pedagógicas que considerem a realidade bilíngüe do surdo.         Devemos considerar ainda, como ferramentas importantes nesse processo de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa escrita, a internet e o signwriting (escrita da língua de Sinais). Essas duas ferramentas são temas para outras cartas, pois também exigem estudos, pesquisas discussões, reflexões e avaliações de novas práticas pedagógicas.
            Espero que minhas reflexões tenham despertado em ti o desejo de aprofundar o conhecimento sobre esse tema e que possamos um dia, quem sabe, trocar idéias sobre os processos de leitura e escrita de sujeitos surdos a partir de memórias e narrativas de experiências já vividas.
            Um grande abraço,


 

De: EV.
Para: L.

Cara L,
Nesta carta temos que falar sobre o AEE. Passei a ter conhecimento deste assunto por volta de 2005, que foi o ano em que trabalhei em uma instituição do governo. Ao meu ver, o AEE não é tão benéfico para os surdos, pois eles necessitam ir para a escola e no contraturno freqüentar o AEE. Cadê o direito da criança surda em brincar no seu tempo livre? Sabemos que é importante priorizar os estudos, mas a criança também tem que ter seu tempo para brincar um pouco, pois com o brincar, a criança constrói a sua personalidade, descobre como se interagir com outras crianças, mas com a participação no AEE, esta criança terá pouco tempo para usufruir sua infância. O que poderia melhorar é ter uma nova metodologia na grade curricular das escolas de surdos e professores preparados para receber alunos surdos em escolas regulares. Pois assim poderá ser benéfico a educação e ao futuro das crianças surdas. 
EV.

 
De: C.
Para: K.

K, desde que a tarefa de escrever esse tema foi dada, fiquei pensando no quê escrever. Coordeno a Educação Especial em Esteio, mas não sou professor de AEE. Temos na rede municipal alunos com deficiência auditiva, mas não surdo. Temos um aluno da educação infantil, que na verdade ingressou na escola já com implante coclear. Como temos em Esteio a Escola Padre Réus, creio que facilita que o aluno surdo estude lá.
Então, como não sabia o quê escrever, irei escrevendo... vamos ver no que dará! Mas considere minhas reflexões como de um leigo, ok? Pensei em te escrever dúvidas, não conclusões, pontos de vista, não descrição.
Sabe, logo no início dos movimentos inclusivos, eu ouvia nos fóruns, conferências, palestras, e eu mesmo repetia nas reuniões: "agora, não é mais o aluno que deve se adaptar a escola, mas a escola que deve se adaptar ao aluno".
Com o tempo, procurando responder as perguntas dos professores: "mas como?! ", "mas como?!", vi que os governos (federal, estadual, municipal) começaram a emitir respostas, como diretrizes, resoluções, notas técnicas... E precisava disso. Pois há muita gente que precisa seguir uma receita.
Ponto positivo: democratizou o acesso escolar, tornou os alunos cidadãos de direitos. Só que isso teve um ponto negativo na minha visão pessoal. A proposta de inclusão se burocratizou, e se enrijeceu. Ganhou uma estrutura pronta que eximiu o professor e eximiu a escola da tarefa de reinvenção das práticas pedagógicas na perspectiva da educação escolar inclusiva.
Falando em todas as necessidades especiais, e falando dos que tinham "sorte" de estar na escola, lembro-me da época que bastava o professor saber que havia uma dificuldade no aluno para flexibilizar as aulas. Hoje precisa de laudo. Os colegas tinham a incumbência de nos auxiliar, e quando não dava para eles fazerem isso, a família tinha que se comprometer a ajudar a escola. Hoje, ninguém toca no aluno com NEE, senão pode se comprometer juridicamente caso algo aconteça, a tarefa é do monitor.
E por aí vai... não quero fugir do assunto, mas trago algo a pensar:
A quem foi incumbida, ou melhor dizendo, a quem o professorado repassou a tarefa de reinvenção das práticas pedagógicas?
Sabe K, fico pensando o quanto das pessoas que propõem as políticas educacionais, o quanto desses que teorizam paradigmas escolares, quantos desses vem das salas de aula? quantos desses tiveram alunos com NEE na sala, não só na escola? quantos desses vem de movimentos sociais? quantos desses vem do campo de pesquisa? quantos desses vem da vida política?
Quando se fala em educação, e os que merecem mais atenção, são os que vêm de todos esses campos juntos, senão, o risco do discurso é cair na demagogia. Pouco adianta estar no "MEC" (vida política), se não vivenciou pelo menos parte de movimentos sociais; não adianta estar em movimentos sociais se não pesquisou, não produziu conhecimento; não adianta pesquisar e escrever livros se não esteve lá, em sala de aula, vivenciando o dia a dia. O caminho inverso também, para ter “voz”, não adianta ficar no mundinho próprio, vivenciando apenas o dia a dia em sala de aula, e não pesquisar, não participar de movimentos sociais e não saber dos bastidores políticos.
Hoje, o que deveria acontecer na sala de aula, vivenciando-se no mesmo espaço e tempo, resolveram que o melhor é acontecer na Sala de Recursos, e resolveram ainda que é no turno inverso. Resolveram isso dessa forma, chamam isso de inclusão e "agora, não é mais o aluno que deve se adaptar a escola, mas a escola que deve se adaptar ao aluno". Há. Há. Há. Virou clichê.
O professor de AEE, o monitor, até o intérprete e seja lá mais quem for, deviam ter a arte de fazerem-se desnecessários, a medida que o aluno se inclui na escola e a escola o inclui. Mas como não inclui, mas integra, a dependência desses é constante, e será em todo percurso escolar desse aluno.
Claro que estou aqui utopizando, como fazem aqueles que não sofrem o dia a dia na sala de aula. Mas deixa. Quem sabe entremeios a tantas esperanças saia algo real.
E também K, seja lá como estão reinventando a educação, eu vejo como um enorme avanço existir a política de educação inclusiva, pois todos tem a oportunidade de estudar! Já havia dito para R que naquela época, eu não era um cidadão de direitos, mas um menino de sorte, e muita sorte! Porque enquanto eu estava na escola, aprendendo, brincando e me socializando, incontáveis outras crianças iguais a mim estavam sendo excluídas ou segregadas em ambientes que não as desenvolviam.
Mas voltando ao tema, eu muito ouvi e li que: "as crianças surdas aprendam a Língua de Sinais e construam uma identidade surda a partir de sua diferença linguística e cultural, tendo direito a uma educação bilíngue que não entende a surdez como uma deficiência sensorial a ser apagada". Eu não acho que a luta do direito ao bilinguismo seja apenas para que a identidade surda não seja apagada, ao contrário, a luta deveria ser para que fosse difundida, que a Libras fosse democratizada.
Por que ao resolver que o aluno surdo precisa aprender português para estar incluído, não resolveram também incluir Libras no currículo escolar, para todos? A Libras é oficial ou não é? Há escolas que possuem inglês na educação infantil! Por que não Libras?
Ah, já sei K, a escola tem que ser bilíngue só para o surdo, facilitando que ELE que se adapte. Para os demais, a escola pode continuar a mesma. Ao aluno surdo é dada a tarefa de aprender a se comunicar com os demais, na língua dos demais; aos demais, a comunicação com o surdo não é exigida.
Escola bilíngue! Aham!
Se a proposta de uma educação para surdos é que seja bilíngue, não acredito que deva ter essa ou aquela língua na sala de aula e a outra língua no AEE, no turno inverso. Posso estar redondamente enganado, ou ser demasiadamente utópico, mas eu não visualizo um bilinguismo verdadeiro se a criança não receber o mais cedo possível o ensino das duas línguas, português e libras, concomitante, no mesmo tempo e espaço.
Do contrário, uma sempre estará defasada em relação à outra. Não sei se defasada seria o termo correto, mas quero dizer que uma língua será mais natural que a outra. Então me pergunto, porque L1 e L2? Porque não LL?
Sabe, eu me sinto de fora disso tudo. Ainda confuso.
Esses dias, eu entrei na lancheria antes de aula começar, e minha mãe me colocou ao lado de dois colegas da nossa aula, na mesma mesa. Fiquei pensando em como me comunicaria com eles se eu não tenho movimentos que me habilitem comunicar em Libras e se para escrever preciso de recurso computacional. Acho que eles não leem lábios. Então, não nos comunicamos além de "oi" e "tchau". Fiquei comicamente pensando: se existe Libras com o pé, poderia existir com a face! hihi!!
Eu não converso com meus colegas, apenas trocamos atividades. Então, não estou nesse meio, mas discutindo junto como estivesse. Por isso, fique com um "pé atrás" nas minhas colocações, e nas colocações de tantos outros que estão na mesma situação.
Outra coisa que me confunde nesses debates, é a “cultura surda”. Preciso muito entender isso, ler mais, fico tentando entender, mas uma hora cai a ficha. Fico pensando como que uma pessoa se acultura. Uma criança surda com pais ouvintes nasce numa cultura surda?
Eu não visualizo que na tentativa de eu entender isso eu possa categorizar a cultura surda no mesmo conjunto do termo "cultura", usado para indígenas, negros, judeus, etc. No caso da surdez, esse termo "cultura", para mim, tem outro sentido, difícil de explicar e entender, que talvez a palavra cultura não seja nem a mais adequada. Talvez sim, se entendermos como "cultura" a mesma significação usada quando se fala em "culturas juvenis", por exemplo. Daí fica mais fácil entender. Mas a mesma significação usada quando se fala em "culturas indígenas", "cultura negra", "cultura judia", isso não. Surdez não é etnia, nem é religião.
A cultura surda se cria justamente por falta de um bilinguismo nos espaços sociais?
Outra coisa que eu ainda não entendo K, é o debate sobre o surdo ser ou não deficiente, ou ser sujeito integrante de uma comunidade linguística. É óbvio que é as duas coisas, pelo menos até eu me convencer do contrário. Muitas vezes me disseram: "eu não te vejo um deficiente, para mim tu é normal, igual a todos". Claro que eu entendia o sentido humano e solidário dessa frase. Só que eu sou igual no sentido universal, mas sou diferente e deficiente sim, e a aceitação minha disso é que me dá uma identidade coerente com o real e me insere no respeito a minha diferença. A questão da surdez é muito mais ampla do que só linguística, cultural e social. Não é como um português que não fala grego na Grécia. Há a questão de ambiente, ambiental. Olha só:
- Se uma pessoa está em perigo, e alguém fora do seu campo visual gritar "CUIDADO!", ela reagirá. O surdo não. Se um ouvinte estiver fora do país, tanto faz se alguém fora do seu campo visual tocar uma buzina ou gritar "VORSICHT!", "¡TEN CUIDADO!", "SOYEZ PRUDENT!", "BE CAREFUL!", "ATTENZIONE!", "VAR FÖRSIKTIG!" ou "BUDTE OPATRNÍ!". O sujeito irá reagir não por questão linguística, mas pela entonação da voz, algo/som que vem de traz e o alerta. Então, a questão é ambiental.
- Afora os sons como trovão, o vento batendo a janela, uma frenagem de carro etc, não são sons linguísticos, culturais ou sociais, mas ambientais.
Então, para mim, a surdez é sim uma deficiência, sensorial, que limita a sensopercepção do sujeito biológico frente a estímulos ambientais, principalmente aqueles que estão fora do campo visual. Vai, portanto, além de uma limitação linguística, cultural e social.
Bem, escrevi demais. Cinco folhas. Que folhas pequenas!
Enquanto isso, se relatam casos de experiências mal sucedidas de um ensino inclusivo. Ora, se foram mal sucedidas é porque as abordagens foram excludentes, não inclusivas. Uma coisa é seguir um protocolo ou programa da política de inclusão, outra coisa é esse protocolo ou programa ser inclusivo e servir de fato para determinada pessoa. Até quando os professores ficarão replicando o sistema? Sem criatividade e consciência política de fazer diferente? Demagogia de minha parte.
Abração K!


 

De: CG.
Para: V.

OLÁ, Querida V, estou feliz em escrever mais uma carta para uma amiga.
O atendimento especializado para a Lingua Portuguesa junto á Língua de sinais, tem de ser feita por profissionais qualificados, que dominam o conteúdo nas duas formas de ensinar e gostar de aplicar atividades diferênciada, chamando a atenção dos alunos para o aprendizado.
A Língua Portuguesa para ter uma boa compreensão é fundamental a frequência do aluno surdo em sala de aula, juntamente com o A E E em horários contrários da aula, se tornando um melhor ensinamento na língua Portuguesa.
A importância do aprendizado na Língua  Portuguêsa é para que o aluno surdo consiga um bom desenvolvimento e aprendizagem numa escola regular, tornando assim uma boa inclusão, sentindo-se á vontade, participando, contribuindo com seus conhecimentos e vivências para o grupo, mas também para que isso ocorra o professor tem de ter um maravilhoso relacionamento entre professor e aluno (vice-versa).
Para ver se teve avanços com aluno surdo na Língua Portuguesa, será feita uma avaliação assim  conseguindo saber até que ponto ele aprendeu os conteúdos dados em sala de aula, por que se não o professor tem de sentar, pensar, planejar mudar as aulas para um entendimento melhor se for necessário, pois como sabemos é o professor que tem sempre de estar mudando, renovando através de cursos, palestras,pesquisas... isso tem de ser um pensamento para todos os professores de qualquer escola regular ou bilingue,por que não podemos ficar parado no tempo, o mundo está sempre se renovando, precisamos mudar juntos e não ficar só no mesmo feijão com arroz.
Enfim sabemos da importância do A E E junto ao aprendizado na sala em horário inverso da escola, tornando possível um momento de grande conhecimento a Língua Portuguesa, pois é uma língua complicada cheia de regras, quanto mais auxílio e cedo frequentarmos a escola, mais fácil se tornará para compreende-la.

Com muito carinho que estou lhe escrevendo esta carta
CG.

 

De: AD.
Para: AL.

Querida e simpática AD,
 O que dizer para uma pessoa que sabe e vivencia diariamente sobre o assunto?
 -Só realmente o meu ponto de vista, a minha experiência como docente, mas já aviso e afirmo (QUE VERGONHA) nunca tinha nem ouvido falar no “tal AEE”!
 Bem primeiramente, desculpa o atraso da minha carta! Pra mim até foi bom, pois pude primeiro ver a palestra da Carolina e do Riguel e antes disso também, observei suas ligeiras palestras sobre o assunto, você sempre disposta a colocar a sua experiência, expondo os pontos positivos do seu trabalho, isso me transmite uma pontinha de esperança e que me motiva a continuar a desempenhar meu trabalho.
 Preciso te contar um rápido resumo da minha vida profissional, se não, não conseguirei chegar ao raciocínio. Sou professora formada em matemática, desde março assumi uma escola para surdo, sem saber LIBRAS, e vesti a camisa, por isso que quando te falei que nunca tinha ouvido falar em AEE, não estava negligenciando o seu trabalho, mas eu que vivia em outro mundo mesmo.
 Vou começar a carta, antes que você desista de ler, é bem simples e objetiva:
 Ouvi você dizer muitas vezes, que o trabalho feito é diferente do que é recomendado pelo MEC, ok!!!mas.....
-Existe os 10 mandamentos de Deus;
-Leis sociais; - Leis políticas; -Regras de convivência de um certo grupo; -Regras de um condomínio; -Prazo para pagamento de contas -Planos telefônicos, Tv por assinatura  -Pensão alimentícia; -Promessas dos governadores, vereadores, senadores,......
QUEM CUMPRE??????????????
Por que quando estamos(você) descumprindo uma regra/lei/ordem, mas que é para o bem geral, sem prejudicar ninguém, temos que ver como ERRADO; não senhora, sou da opinião, que se estiver visando o bem, você estará fazendo certo!!! Continue fazendo o seu trabalho maravilhoso, te admiro, beijos fica com Deus.
AD.

 

De: G.
Para: AD.

Prezado colega,

O tema desta carta é, para mim, muito instigante, afinal, como professora de surdos de ensino médio e também como intérprete no ensino superior a questão da língua portuguesa interfere diretamente no meu trabalho. Antes de começar a te escrever sobre o tema, gostaria de ressaltar que a realidade em que transito pode ser considerada privilegiada no quesito ensino de língua portuguesa, pois, temos uma escola Bilingue para surdos, onde a língua de sinais é a primeira língua ensinada às crianças assim que ingressam na escola, e a língua portuguesa é a segunda língua. Por termos essa escola bilíngüe que atende surdos de ensino fundamental e médio, no município de Caxias do Sul não possui casos de surdos que freqüentam o AEE voltado ao ensino de língua portuguesa. Não temos surdos “inclusos” na chamada rede regular de ensino. Por isso vou tratar do ensino de língua portuguesa em uma escola bilíngue.
À primeira vista pode parecer muito mais fácil tratar do ensino de língua portuguesa para surdos num contexto de bilinguismo. Entretanto, através das minhas observações cotidianas e da pequena pesquisa de campo que fiz para te escrever esta carta, pude notar que a situação ainda está longe de ser satisfatória. Segundo a atual diretora da Escola Municipal, MR, o maior enfrentado pela escola ainda é o ensino da Língua Portuguesa. Mesmo havendo um avanço muito grande no conhecimento produzido em Língua de Sinais e da adoção desta como língua de instrução na escola, a Língua Portuguesa continua representando uma grande dificuldade tanto para professores quanto para alunos. É interessante perceber que, no discurso da atual diretora, e dos surdos com quem tenho conversado, transparece uma grande esperança de que os formandos do Curso de Graduação em Letras/Libras trarão novas contribuições para a educação de surdos, com os estudos, as pesquisas e as metodologias utilizadas no próprio curso. Acredito que isso represente a possibilidade da emergência de outros discursos na educação de surdos, pois, se antes, o educador surdo era colocado de fora das políticas e práticas educativas dentro das escolas de surdos, hoje são justamente esses que tiveram suas opiniões por tanto tempo desprezadas, que representam a esperança da construção de uma outra escola, de um ensino de mais qualidade às crianças surdas.
Além disso, atualmente a escola tem uma infra-estrutura que conta com professores surdos e professores ouvintes que sabem a língua de sinais. Uma experiência que acho interessante ressaltar é ao que chamamos internamente de “Área”. Desde 1994, baseando-se na experiência trazida por Carlos Sánchez, da Venezuela, a escola implementou o projeto que ficou com o nome de “Área”, um espaço destinado para o convívio e interação entre crianças de diferentes faixas etárias e com surdos já adultos. As atividades baseiam-se em temas escolhidos pelos alunos e professores e essas são desenvolvidas todas na Língua de Sinais. A princípio, participavam da “Área” também os professores ouvintes, mas, com o passar do tempo, a “Área” começou a se constituir em espaço somente dos surdos. Tanto os professores quanto os alunos acordavam que esse deveria ser um lugar de trocas entre os surdos. Isso estava, de certa forma, em consonância com o projeto inicial, cuja função desse espaço seria criar condições para os desenvolvimentos cognitivo, emocional e da linguagem na criança surda, abrindo a possibilidade de essa criar hipóteses sobre o mundo e a realidade que a rodeia. As dificuldades enfrentadas no início da experiência incluem desde a falta de instrutores surdos (até 1996 havia apenas um instrutor contratado) até as discussões ocasionadas pela insistência de alguns dos professores ouvintes em conversarem oralmente entre si durante esses momentos, que deveriam ser dedicados ao aprendizado e à prática da Língua de Sinais. Nas “Áreas” os alunos são estimulados a desenvolver peças teatrais, a trocar experiências com os colegas surdos (de outras séries e idades) e com o professor surdo. No início, as próprias crianças surdas tinham uma certa resistência em participar das atividades, tinham vergonha, mas quando viam os maiores sinalizando, sentiam-se estimuladas a participar também. Todo este trabalho com a língua de sinais contribui para o aprendizado da língua portuguesa na medida em que possibilita uma fluência na primeira língua e o entendimento da realidade que a rodeia. Antes de aprender a ler a escrita, a criança precisa aprender a ler o mundo, e isso só é possível quando ela tem uma língua estruturada, capaz de fazê-la expressar-se e entender as formas de se expressar dos outros.
Entretanto, vale ressaltar que as atividades da “Área” somente passaram a ser de total responsabilidade dos instrutores surdos por volta do ano 2000. Antes disso, eles sempre eram supervisionados por professores ouvintes. A partir das reivindicações do grupo de instrutores e dos próprios alunos surdos, a “Área” passarou a ser responsabilidade dos surdos, o que incluía também representantes dos alunos de turmas mais avançadas para auxiliarem no planejamento das atividades. Tanto as atividades de “Área” quanto a presença do instrutor surdo na escola foram de grande importância para a implementação da proposta bilíngue e para a autopercepção dos surdos e da surdez de maneira diferente. Aliás, algo que ainda não foi superado, por questões administrativas, é a ideia de separar professores e instrutores. A escola de ensino fundamental possui apenas instrutores surdos, os quais, mesmo atuando como professores, recebem o salário de instrutores, cargo para o qual foram concursados. Além da questão salarial, ser chamado de instrutor institui determinadas práticas e relações de poder, que de certa maneira hierarquizam profissionais surdos e ouvintes dentro da escola.
No ensino concerne ao médio, no regimento escolar em vigor a partir de 2001, estão entre os objetivos da escola, além de oferecer uma formação com base nos princípios democráticos, éticos e morais, a ideia de ser um espaço que se constitua como um ambiente linguístico favorável ao desenvolvimento da Língua de Sinais. Na grade curricular, além das disciplinas comuns ao Ensino Médio tais como Matemática, Física, Química, Literatura, Língua Portuguesa, História, Geografia, Sociologia, Psicologia, Artes, Educação Física e Inglês, foi incluída a disciplina de Língua de Sinais, que seria ministrada por um professor surdo. Ou seja, a escola de Ensino Médio foi criada em um momento histórico onde já haviam se passado mais de quarenta anos de experiência na educação de surdos e quando já estavam bastante avançados os estudos na área da surdez, os quais permitiram que essa fosse criada e estruturada da maneira como foi.
 O público de alunos que chega ao Ensino Médio é bastante heterogêneo dos pontos de vista socioeconômico, cognitivo e de níveis de linguagem. Trata-se de alunos vindos de contextos familiares muitas vezes desestruturados, que não oferecem condições mínimas ao desenvolvimento da criança e do jovem surdo. A grande maioria dos alunos consegue se expressar de maneira satisfatória em Libras, devido à ênfase que a escola dá desde os primeiros anos à aquisição da Língua de Sinais. Entretanto, quando se olha para o quesito Língua Portuguesa, a defasagem é muito grande, e os níveis de proficiência são muito distintos entre os estudantes. Existem desde alunos que mal conseguem ler e escrever no terceiro ano do Ensino Médio, até aqueles que dominam com fluência as duas línguas. Somam-se a isso as diferentes de faixas etárias e os alunos com outras deficiências associadas à surdez que também estão agrupados nas mesmas turmas.
Percebo que os professores ainda têm muita dificuldade, nas questões metodológicas, quanto à forma de trabalhar conteúdos e conceitos abstratos em nível mais aprofundado, desenvolvendo habilidade e competências pertinentes ao Ensino Médio. Falta o conhecimento de sinais específicos das disciplinas, dificultando o andamento das aulas e da aprendizagem dos alunos. E isso não ocorre porque os sinais não existem ou porque os professores não tenham interesse em aprendê-los, mas devido à falta de diálogo com a comunidade acadêmica surda, com professores surdos das diferentes áreas de conhecimento para fornecerem estes sinais, já existentes e convencionados, mas que não chegam até a escola.
Tudo isso mostra que encerrar os alunos dentro de uma escola bilingue não significa a possibilidade de dar um tratamento igual para todos ou que a comunidade surda seja um grupo homogêneo, cujos alunos surdos aprendem e se expressam da mesma forma. Tenho a impressão de que mesmo depois de todas as discussões e estudos desenvolvidos nos últimos anos, a educação de surdos permanece sendo um território de muitas incertezas, onde os professores ainda não transitam com muita clareza e segurança. Essa insegurança pode ser um ponto negativo se significar a desorientação e a cristalização de práticas, mas pode também ser uma oportunidade para novas experimentações, para a abertura a outras maneiras de pensar e fazer a educação de surdos sem se restringir a formulas rígidas, a modelos tradicionais pretensamente seguros.
            Bom, espero ter trazido algumas questões que façam você refletir sobre este tema tão importante para a educação de surdos, que é a o ensino de língua portuguesa.
Um abraço
G.

 

De: GD.
Para: AN.

Colega,
                   Tive oportunidade de fazer a formação em AEE através da Plataforma Freire / MEC em 2009. Adorei o Curso na modalidade EAD. Senti falta, na verdade da prática. Não me basta somente a teoria, tirar boas notas, saber responder, ser criativa nos exercícios. A prática é o que ensina de verdade.
                   Observando a listagem vi que o procura era muito maior que o número de vagas. Também constatei que nem sempre quem começava o curso terminava, assim tirando a vaga de quem ficou na fila de espera.
                   Realizar uma formação destas, mesmo em modalidade EAD, demanda tempo, criatividade e organização para dar conta das atividades nem sempre fáceis de realizar. SE vamos procurar esta formação em universidade particular o gasto neste investimento é alto.
                   Especializar-se em atendimento educacional significa ter conhecimentos singulares e específicos sobre determinadas dificuldades dos alunos e tornar-se um especialista. Devemos estudar muito, manter-nos atualizadas e praticando, buscar na pesquisa, as melhores soluções para cada caso.
                   Ao contrário do que os surdos apregoam, nenhum ouvinte deseja tomar o espaço que está destinado a eles, muito antes pelo contrário, se eles não estão assumindo estes papéis alguém deverá assumir porque as crianças estão aí e não podem ficar esperando até que os surdos se formem e resolvam se vão ou não trabalhar com educação de surdos. Não vejo que haja disputa, como alguns surdos declaram em facebook e outras redes sociais para que quiser ler, nenhum ouvinte que o “lugar deles” até porque não existem “lugares demarcados”, os ouvintes que simpatizam com a causa surda como eu (se é que querem que  simpatizemos) querem apenas encaminhar as coisas facilitando a troca de informações, queremos ser um meio e não um fim. Ninguém quer tomar os poucos lugares que existem, que na verdade não são poucos. Mas falta-lhe a garra para a luta. Em cada 100 talvez uma média de 5 ou 6 chegam à Universidade com auxílio de ouvintes (interpretes).

GD.


 

De: I.
Para: DZ.

Nossa! Que coincidência! Fiquei contente por pegar seu nome novamente!!
Esta carta não deixa de ser uma continuação da carta anterior que lhe escrevi mas, desta vez, especificando um dos momentos do AEE.
De acordo com a orientação do MEC no fascículo "Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com Surdez", o AEE para estes alunos é diferenciado, pois deve ocorrer, preferencialmente, todos os dias. O AEE para as pessoas com surdez possui três momentos didático-pedagógicos: AEE em Libras, AEE para o Ensino de Libras e AEE para o Ensino da Língua Portuguesa.
O AEE para ensino da Língua Portuguesa acontece na Sala de Recursos Multifuncional (SRM) no contra turno. É desenvolvido, preferencialmente, por um professor formado em Língua Portuguesa e que "conheça os pressupostos linguísticos teóricos que norteiam o trabalho, e que, sobretudo acredite na proposta estando disposto a realizar as mudanças para o ensino do português aos alunos com surdez". (p.38)
            Neste atendimento pretende-se “desenvolver a competência gramatical ou linguística, bem como textual das pessoas com surdez, para que sejam capazes de gerar sequências linguísticas bem formadas”. É focado o estudo do Português “nos níveis morfológico, sintático e semântico-pragmático, ou seja, como são atribuídos os significados às palavras e como se dá a organização nas frases e textos de diferentes contextos, levando os alunos a perceber a estrutura da língua” (p.40).
            O espaço deste AEE deve estar repleto de recursos visuais com legendas em Português e acervo de Língua Portuguesa. Podem ser organizados dicionários, glossários, cadernos de estudo com termos específicos e contextos de usos (com palavras, frases e textos). Também são importantes momentos em que o aluno traduza textos (do Português para a Libras) e que produza textos, aprendendo a incorporar as regras gramaticais da Língua Portuguesa.
            Este AEE também pode ser organizado para alunos que optaram pela aprendizagem da LP na modalidade oral.
            É importante salientar que este atendimento é preparado em conjunto com o professor de Libras e o da sala de aula, analisando o desenvolvimento do aluno, em relação ao aprendizado e domínio da Língua Portuguesa.
            Como já comentei, em São Leopoldo temos apenas um aluno matriculado na Rede recentemente. Seu AEE acontece três vezes por semana, sendo que estes momentos não são trabalhados separadamente. Somente em um destes dias que a professora de Libras trabalha com o aluno conversação e alguns conteúdos de e na Libras. Nos outros dias é uma professora de Currículo com curso de Inclusão e alguns cursos de Libras que trabalha com o menino, inclusive, ela foi professora dele em outros anos. Portanto, não é uma professora de Português que trabalha com o aluno, até porque, ele estando no 4º ano (antiga 3ª série), penso que ainda não seja necessário um professor de área.
            Esta professora tem trabalhado de forma que o aluno tenha mais recursos de apoio e vocabulário como a confecção de dicionários por assunto com gravuras, sinal e palavra. Além disso, tem sido realizadas produções textuais relacionadas a situações do seu dia-dia. Percebeu-se algumas dificuldades comuns aos surdos como o emprego de verbos. A partir disso a professora também tem trabalhado os diferentes verbos com vídeos do aluno sinalizando além de atividades escritas.
            Acredito que com relação a este e aos outros momentos do AEE, estamos no caminho correto, sempre partindo de onde está o aluno e dos objetivos que precisa alcançar. Além disso, o AEE para ensino da LP é trabalhado em Libras, ou seja, a comunicação e ensino é em Libras e não em LP oral, conforme recomenda o MEC. Talvez, para alguns alunos que utilizem a oralização esta recomendação seja adequada mas para os demais casos não vejo uma finalidade.
            Vou terminando por aqui a minha carta... Ufa, consegui escrever somente duas páginas! Até uma próxima escrita! Abraço e boa semana!


 

De: J.
Para: SM.

Olá,S!
Pouco tenho a opinar sobre Ensino da Língua Portuguesa para Surdos nas salas de AEE porque nunca vivenciei essa situação.Sempre trabalhei em Escolas da Rede Pública Estadual,onde, independente de quem comanda a Educação Estadual no momento, a carência é total.Falta tudo.A Escola oferece professores,alunos, classes, quadro verde,giz,apagador e banheiros sempre mal cheirosos.A maior preocupação dos administradores das Escolas sempre foi com a pontualidade e assiduidade dos professores!É importante,mas é um dos fatores que interferem no sucesso da aprendizagem,segundo minha visão.Os pais,muitas vezes consideram as Escolas depósitos de seus filhos e o  local que deve se encarregar da educação integral dos mesmos,pois como trabalham,não possuem tempo para tal.
Recebemos muitos Surdos ,às vezes já adultos, com outros comprometimentos além  da surdez.Há inexistência de Equipe Multidisciplinar para ajudar o professor lidar com tais problemas.A rede básica de Saúde não consegue atender a própria demanda,menos ainda os encaminhamentos escolares;os pais, em muitos casos, sentem-se ofendidos quando o professor solicita um encaminhamento especializado para seus filhos.
Mas,nem tudo está perdido!Há que se suprir com recursos humanos e físicos as Escolas,há que se valorizar mais os professores e demais funcionários envolvidos no processo,há que se iniciar na Pré-Escola o atendimento aos SURDOS.
Penso que salas de AEE só funcionam com surdos que foram alfabetizados no bilinguismo e estimulados precocemente.
Um abraço,
J.

 

De: J.
Para: CA.

Colega C,
Para conversar contigo a respeito do ENSINO DA LP PARA SURDOS NO AEE, antes preciso pensar no que oficialmente esse ensino propõe:
  • ·         Atribuir significados
  • ·         Relações com própria experiência
  • ·         Relação leitor/autor
  • ·         Produção de significados
  • ·         Outros sentidos
  • ·         Articulações
  • ·         Teorias/redes
  • ·         Competências ampliadas
  • ·         Sujeitos de saber e poder
  • ·         Apropriação
  • ·         Práticas de interação
  • ·         Professores formação teórica especifica e condução na diminuição do  uso da LS.
 A partir desse rápido olhar no AEE não posso deixa de refletir contigo as seguintes questões que me remete essa proposta:
Pode o ensino da LP se tornar uma oposição a plenitude da construção da idéia ou do pensamento e se transformar em mera repetição, se configurando  em mais uma prática esvaziada ou estanque?
Que lugar essa  língua oferece/demanda para esse sujeito surdo?
 O que querem  ? PENSAR OU REPETIR
O QUE e QUE LUGAR o sujeito quer ocupar nesta língua.
Quando cito sujeito,  a razão é que penso que ele existe e busca conhecimento.
Sei que não podemos ver formas absolutas de existência: ou isto ou aquilo,  mas é necessário considerar  que a escrita desses sujeitos vai estar retroativa a uma língua e a um pensar e que a demanda vai ser a de entendimento e produção em outra modalidade.
Não gostaria de ver os sujeitos surdos em risco a partir de uma exigência que reduzisse seu pensamento. Mas também reconheço a importância do conhecimento e do acesso ao conhecimento que a LP pode oferecer.
Até a próxima discussão,
J.

 

De: JN.
Para: JL

Oi JL!
Antes de tudo, mil desculpas por não ter entregue a carta na data que devia. Eu lembro que na última edição deste curso eu mal sabia libras mas compreendia muito bem a expressão das pessoas que não recebiam cartas.
Eu estive em um período conturbado de escrita do TCC e acabei não sendo muito responsável nessas escritas, mas agora estou tentando retomar.
Bem, a temática desta carta não é muito fácil, você deve lembrar de como foram entusiasmados os questionamentos para a Carolina Sperb sobre o ensino de português. Acho que o ensino de português para surdos sempre foi uma discussão central quando se fala em ensino para surdos, independente da concepção de surdez de cada época.
Agora estamos vivendo perante as políticas de inclusão do MEC, no meu TCC da especialização estive pesquisando o “Movimento Surdo em favor da Educação e da Cultura surda” através de vídeos postados no youtube. Alguns surdos nesses vídeos foram enfáticos em dizer que “não aceitam dupla matrícula” e de certa forma eu concordo com eles, pois acho que as crianças precisam de tempos para a infância. Sei que algumas escolas que tem proposto Atendimento Educacional Especializado possuem propostas interessantes, que não seguem exatamente a proposta do MEC, pois pensar que o ensino de português deve partir do português, que o professor deva evitar o uso da Libras, isso ao meu ver é algo fora de cogitação.
Outros surdos, em outros vídeos, apontaram o AEE como uma possibilidade quando não há como existir uma escola específica de surdos, como em cidades do interior por exemplo e eu também concordo com isto. É melhor do que nada:
Na proposta do AEE de língua portuguesa a Mirlene inventou que é proibido o uso da língua de sinais dentro da aula de português por ser uma outra língua. Por exemplo, nós aprendemos inglês e é proibido falar em português e ela pensa que igual na aula de língua portuguesa proibir a Língua de Sinais. É um absurdo! Como o surdo aprenderá a língua portuguesa sem a LS? Como? Aqui é preciso melhorar o AEE, precisamos de fiscalização, de pesquisa. Porque tem muitos problemas mas ninguém vê, não é só em Ribeirão Preto mas também em outras cidades do interior. Não há fiscalização, nem avaliação do que é bom ou ruim [...] Precisamos ter melhores estratégias no AEE de São Paulo e em todo Brasil com urgência. Melhorar as horas de ensino e é importante o uso da Língua de Sinais para os surdos se desenvolverem, melhorar a profissionalização (Vídeo: Movimento Surdo em favor da Educação e da Cultura Surda- http://www.youtube.com/watch?v=bXK1q4G6e4Q&feature=related)
Eu não tenho muitos conhecimentos sobre a proposta do MEC, devo dizer que essas aulas de quarta-feira tem me instigado a conhecer mais e mais, mas eu ainda não me organizei para ampliar meu tempo de leitura.
Vejo que o AEE tem sido muito daquilo que as escolas fazem dele, há professores comprometidos que se propõem a fazer o máximo pelos alunos que encontram, mas mesmo assim eu duvido que esse contato possa substituir o valor do contato com a comunidade surda existente na escola de surdos.
Vejo também que muitas vezes a escola de surdos deixou/deixa a desejar, não possibilitando ao surdo um ensino de qualidade verdadeiramente. E a proposta do AEE parece comprometida ao ensino. O que me preocupa é que as vezes me parece que a educação do surdo vai acabar se dando no AEE e não na escola regular. Lá, na escola regular ele estará se “socializando” (???), mas os aprendizados relativos aos conteúdos programáticos e ao desenvolvimento da linguagem permanecerão no espaço da escola de surdos vista então como espaço de AEE.
A realidade que presencio em meu trabalho é de pais que muitas vezes não acreditam nas capacidades de seus filhos, apenas por serem surdos, ou que tem dificuldades de trazer seus filhos à escola, devido ao trabalho, etc. Não vejo dentro desta mesma realidade a possibilidade de esses alunos estudarem em dois turnos em escolas diferentes. E se não for assim, não haverá como todas as escolas estarem devidamente preparadas a receber esses alunos, tendo profissionais capacitados (realmente) para o trabalho no Atendimento. Isso só é possível (???) através de escolas polo.

Sei que a carta ficou um tanto quanto confusa, mas é que minhas ideias sobre esse assunto ainda não estão muito claras mesmo.
Abraços
JN.


 

De: K.
Para: N.

Olá N, é muito bom poder conhecer e escrever para mais uma amigo.  Você sabe que com essa proposta de inclusão cada vez mais professores devem se aperfeiçoar. Após o aperfeiçoamento vem o grande desafio, transformar o conhecimento teórico em prática e assim, montar estratégias de ensino que estimule e que de prazer ao educando durante o ensino.
O tema sobre o ensino da língua portuguesa para surdos nos leva diretamente ao encontro da última aula, onde se falou sobre a proposta e a oferta do AEE. Ao ler o texto e pesquisar sobre o assunto compreendi melhor a proposta do AEE; porém acabo voltando a uma pergunta que sempre faço: estamos preparados para atender todas as diversidades que temos nas escolas hoje? Vou deixar minha pergunta polêmica e focar para o nosso atual assunto.
Na carta anterior falamos sobre políticas de inclusão, e o importante papel do AEE no desenvolvimento e estímulo aos alunos atendidos. Às vezes se tem o sentimento que fora da sala de aula a maioria dos alunos surdos se desenvolve melhor, não que falte qualidade na aula dada em sala, mas a atenção na AEE é que proporciona um retorno maior aos alunos surdos.
O ensino da língua portuguesa na AEE deve ser dado por um professor de língua portuguesa que deve ser dinâmico e criativo; além disso, deve ter vontade de ensinar e respeito à cultura surda.
O ambiente também deve ser bem diferente da sala de aula comum. Além do profissional capacitado deve ter na sala do AEE muitos materiais e recursos que possibilitem ao educando um contato direto e indireto com a língua portuguesa.  O uso de materiais visuais é de grande importância, o atendimento deve ser diário e sempre no turno inverso ao da escola.
Sabemos que quanto mais cedo o surdo tiver a oportunidade de ter contato com a escrita da língua portuguesa, maior facilidade ele terá de ser incluído na sociedade, e lógico, no mercado de trabalho. Isto por que, embora a língua portuguesa não seja sua primeira língua, é a língua corrente no nosso país, o faz com que o surdo tenha necessidade de aprender a lê-la e escrevê-la.
Dada essa necessidade destacamos o importante papel do AEE no ensino da língua portuguesa. É preciso que haja um comprometimento entre escola, professor da sala comum de ensino, professor da AEE e intérprete (quando houver), para que juntos consigam proporcionar ao educando um ambiente leve, tranqüilo e acolhedor.

Atenciosamente.
K.


 

De: LR.
Para: JC.

Prezada JC,

            os carteiros pedem desculpas pela demora. Havia muitas "cartas" a serem entregues. E eles encontraram algumas dificuldades para entregá-las (cães bravos, temporais, e principalmente endereços desconhecidos).
            Dado o recado, vamos ao que interessa. E interessa muito. O ensino de Língua Portuguesa para surdos no Atendimento Educacional Especializado. Ao redigir minhas cartas anteriores, percebi que, sempre, antes de discorrer sobre o assunto especificamente, eu digo e reafirmo quem sou. Talvez seja porque esta é a primeira carta que endereço a ti, mas vou fazer o mesmo e isso se justifica também pelo tema em discussão aqui: Língua Portuguesa. Eu sempre gostei muito de ler, de estudar, de português e de literatura. De inglês eu também sempre gostei. Línguas em geral (por isso talvez fui atrás de aprender a Libras). Esse gosto me levou à cursar Letras Licenciatura Português-Inglês na Universidade. Porém, nenhum gosto ou caminho me levou a estudar o AEE. Por isso o terreno era desconhecido para os carteiros (digo, para mim!). Mas conversando com uma colega e professora do nosso curso (oi, Liége!) fui incentivada justamente a escrever sobre o que não sei. De novo (afffff!). Se isso fosse uma conversa ao vivo entre você e eu, Juacema, talvez pudéssemos contruir nossas ideias juntas, talvez esse esforço, para mim, seria mais fácil de ser feito. Mas não estamos conversando e provavelmente você não irá retornar essa minha carta (snif, snif, snif!). Chega de choramingos e vamos ao que, de fato, interessa.
            Eu achei muito legal a apresentação da profª Carolina Sperb sobre o O ensino de Língua Portuguesa para surdos no Atendimento Educacional Especializado. Até depois da explicação dela fui trocar umas ideias com ela. Falei que me preocupa muitíssimo, e aí voltamos ao tema da carta anterior, a formação de professores!!! Você há de concordar comigo (e a Carol também achou interessante) que se não há uma efetiva formação de professores para atuarem nessa área, não haverá um ensino consolidado. Não achas? Eu comentei com ela que em toda a minha formação no curso de Letras, nunca ouvi falar em AEE, muito menos que haveria uma disciplina no AEE extremamente importante para ser ocupada pelos futuros professores de português. Eu fui meio que  protagonista da minha própria formação no que tange à Libras, interpretação, edu. de surdos, etc, mas penso que se meus colegas - que não tinham esse interesse que eu tinha (POR QUÊ???) - tivessem tido oportunidade de ouvir sobre o AEE de Língua Portuguesa, talvez mais gente faria coro comigo sobre a necessidade de uma BOA formação. Como as coisas estão parece que há um distan                      cia                                               me                                                       nto muito grande entre universidade e escola. Grande novidade, haha! Digo isso porque fiz meu estágio de Língua Portuguesa no Frei, foi muito boa a experiência e, modéstia a parte, a atividade com short films da Pixar que bolei ficou muito legal e os alunos amaram as atividades. Ok, ok, aluno tem que aprender, não precisa amar, eu sei. Mas o resultado foi muito positivo, pra turma, pra mim, e para minha professora orientadora, que nunquinha na vida havia entrado em uma sala de aula de surdos. Posteriormente, com os relatos dos estágios para os colegas, senti que diminuí um pouquinho essa distância. Mas ela continua porque se eu te contasse a MEGA quantidade de conhecimento e coisas legais que aprendemos, estudamos e criamos no curso de Letras, tu ias ficar espantada! Sou suspeita pra falar porque amo tudo isso (óh o amor de novo aqui), mas tem que haver esse diálogo. Se nossas colegas que já trabalham com Língua Portuguesa no AEE em suas escolas (lembro aqui da nossa colega de Capão da Canoa) além de ter um contato com esses conhecimentos que são produzidos na universidade, pudessem contar suas histórias, experiências e projetos, como fazem, o que dá certo e o que não dá, como efetivar o ensino de português para surdos a história seria outra, ah, seria beeem diferente. Talvez eu não precisaria encerrar minha carta levantando o punho e dizendo:
C. e colegas entendidas, palestrem sobre o AEE de Português nos cursos de Letras!!!
Att, LR.

 

De: LC.
Para: CH.

Querida CH!
É com prazer que escrevo esta carta pra ti, pensei muito sobre o tema do ensino da língua portuguesa para alunos surdos no atendimento educacional especializado, mas confesso que não tenho conhecimento deste assunto e se a proposta é -escrever mesmo sem ter conhecimeto profundo sobre o tema,  pretendo compartilhar contigo minhas reflexões a cerca do ensino da língua portuguesa no contexto escolar e não especificamente sobre este ensino no AEE.
Trabalho em uma escola que atende alunos surdos e neste contexto encontramos uma série de dificuldades para trabalhar o ensino da língua portuguesa na modalidade escrita. Sinceramente, não sei onde esta a apeça que falta para o quebra-cabeça encaixar, prefiro não falar em erros pois estes trazem a idéia de culpados e na verdade neste porcesso de avanços e retrocessos na educação de surdos não existem erros, mas equivocos que comprometeram o desenvolvimento dos sujeitos surdos ao longo da história.
Em nossa escola enfrentamos dificuldades em trabalhar a língua portuguesa escrita, nossos alunos tem dificuldades de compreender a que está escrito  e transpor para a língua de sinais e o contrário também acontece. Mesmo com o domínio dos assuntos trabalhados no momento da escrita,  da organização em língua portuguesa, acontece um bloqueio e isso me faz refletir.
Trabalhamos a aquisição dos conhecimentos utilizando a língua de sinais em todos os momentos do processo de aprendizado e mesmo assim no momento de trabalhar a escrita nossos alunos não conseguem organizar o conhecimento. Desta forma, penso que seria ainda mais complicado se isso fosse trabalhado de forma descontextualizada da sala de aula, de forma isolada. Entretanto, temo em fazer tal afirmação pois desconheço este trabalho, estou interessada para conhecer esta porposta e, quem sabe, possa a colaborar para nossa prática na escola de surdos.
Estou muito feliz com o andamento do curso e espero que você sinta o mesmo. Somente a reflexão e a prática de compartlhamento de saberes pode melhorar o rumo da educação.
Abraços,
LC.
 

 
De: R.
Para: I.


Querida amiga I!
     Espero em breve poder te conhecer pessoalmente. Estou achando muito interessante o curso de Memórias, Narrativas e Experiências na Educação de Surdos, onde estou tendo a oportunidade de conviver com diferentes pessoas (ouvintes e surdas) e poder enriquecer e ampliar conhecimentos na área.
     Através das trocas de cartas e experiências vivenciadas, podemos refletir temas significativos sobre a Educação de Surdos no Brasil.
     Sabemos que através da regulamentação da Lei de LIBRAS de 2002, houve uma mobilização dos surdos pelos direitos humanos, pela garantia de uma inclusão social, reconhecendo a LIBRAS como a língua dos surdos brasileiros. Houve a reivindicação do direito ao uso dessa língua própria, passando esta a ser a língua de instrução nas escolas de surdos, onde a aprendizagem do português se dá como segunda língua.
     Com esta conquista da comunidade surda, pelo direito a ter uma educação bilíngüe, houve a garantia do “direito de todos” no ensino regular.
     Esta Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva de 2008 tem como objetivo ofertar o AEE (Atendimento Educacional Especializado).Um dos objetivos do AEE é para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para os alunos surdos.
     Acredito que este trabalho bilíngüe, ao estabelecer a Língua de Sinais como primeira língua para surdos, favorece o desenvolvimento lingüístico, pois é através dela que a criança surda constrói sua identidade, aprende sobre a cultura e compreende a sociedade ouvinte.
     Muitas escolas estão aderindo a este modelo de ensino ao perceber grandes e significativos avanços na aprendizagem e na formação intelectual, social e emocional dos surdos.
     Destaco a experiência vivenciada com a inclusão de uma criança surda em minha Instituição, na Educação Infantil, o quanto a aprendizagem da LIBRAS está sendo significativa para se comunicar e se expressar. Através da Língua de Sinais, com certeza a aluna terá condições de aprender melhor a Língua Portuguesa.
     Tudo o que espero e desejo para A (aluna surda) é que ela possa ter a continuidade no AEE e o acesso a esta proposta de ensino bilíngüe, onde a aprendizagem do Português parta da LIBRAS, pois se tiver uma boa base nesta língua, a aprendizagem da Língua Portuguesa se tornará mais fácil e com grande significado.
     Foi um prazer escrever para ti!
     Um forte abraço com carinho... 
     R.

 
De: SD.
Para: JN.

Querida colega JN!
            Já de início te peço desculpas por escrever tão pouco, pode até parecer um bilhete? Mas pelo menos não ficarás sem carta hoje... Pois sei que todos temos expectativa de recebê-la pelo nosso correio universitário no começo de nossa aula.
            Bom, mas vamos lá, o assunto que devo abordar nesta carta é “A escrita da Língua de Sinais”... Tenho uma vaga lembrança de como passei a ter contato com o sistema “signwriting”, que nos foi apresentado pela colega de trabalho Marianne Stumpf, na época em que era professora, faz tempooo ou melhor alguns bons anos. Ela pesquisava na PUC esses códigos que mais nos pareciam uma escrita japonesa. Muito estranho e pior extremamente difícil para o nosso entendimento na época, mas os alunos aos poucos se mostravam interessados e até pareciam entender melhor que nós professores.
            Com isso, a escola que era na época era vista como pionera, foi “enfeitando” com algumas etiquetas os lugares e até objetos (salas de informática, biblioteca, refeitório, mesa, cadeira, quadro, etc...). Nessas etiquetas tinha a escrita no português e na língua de sinais. Mas pena que o projeto não foi levado adiante. Talvez pelo sentimento dos professores ouvintes e até mesmo de alguns professores surdos que logo no primeiro contato ficaram APAVORADOS, com certeza por terem dificuldades de entender. E para isto ser levado adiante precisaríamos estudar muito.
            Lembro que na época seguíamos a filosofia da Comunicação Total, que como sabemos, usava todos os recursos para o surdo melhor entender o mundo e se comunicar. Mas nosso foco sempre foi na necessidade do aluno escrever o Português, imagina, pensávamos que já era difícil escrever aquela língua que a sociedade exigia pior seria “perder” ou ter tempo para ensinar aquilo que nem nós sabíamos. Foi bem polêmico, e acho que algumas vezes ainda é...
            Mas depois com o tempo, as pesquisas ficaram mais distantes da escola, e nós professores na época esquecemos um pouco o assunto. Mas ainda bem que colegas antigos e novos seguiram com os estudos nesta área. Meu contato de um tempo para cá vem sendo com os livros infantis publicados, que se beneficiam com as duas línguas escritas (Port. e L.S). Confesso que tenho dificuldades, mas sei bem que elas surgem pela minha resistência em aprender essa modalidade.
            Penso que a comunidade surda ganharia muito se projetos fossem levados a sério e adiante em termos de investimento para que se pudesse realmente saber o valor que a escrita da língua de sinais tem na alfabetização das nossas crianças e nossos jovens surdos.          Era issooo! Oh... até que deu 1 página, melhor do que um bilhete né? Beijos SD.

 

De: SM
Para: EV

Olá EV,
Meu nome é S e sou professora de Educação física na  escola X, não trabalho diretamente com AEE e o ensino de português, mas tenho acompanhado e observado alguns pontos interessantes nas aulas das colegas que além de algumas leituras me fizeram refletir sobre o processo de ensino de português na modalidade escrita. Estas observações foram feitas num grupo de alunos de 05 a 10 anos.
O ensino da Língua Portuguesa, tanto para alunos ouvintes como para surdos, depende dos processos de desenvolvimento  linguísticos e cognitivos, de metodologias e estratégias que contemplem as diferentes formas de entender o mundo seja por faixa etária ou por especificidades cognitivas. É necessário ter em mente que alfabetizar, hoje, é mais que saber decodificar símbolos e desenhar letras, é atribuir significado e estabelecer relações.  Deve-se considerar como dado importante o desenvolvimento do nível lingüístico na L1, Libras,  para o letramento em Português de alunos surdos, porque para alcançar o nível de abstração necessário a escrita em português é preciso que o aluno tenha como base os conhecimentos adquiridos anteriormente em Libras nos quais buscará sentidos, significações e estabelecerá mais facilmente as relações para a construção da L2, o dialogo com sua primeira língua é pré requisito para o processo de letramento e quanto mais cedo forem iniciados na L1 mais facilmente se apropriarão da L2. Nas etapas iniciais, uma das fases importantes do letramento se observa durante as tarefas de produção escrita, muitos alunos complementam com desenhos ou intercalam palavras e desenhos. O uso dos desenhos deve ser incentivado e entendido como recurso utilizado pelo aluno para significar, relatar, transferir seu discurso, buscar sentido superando assim a dificuldade do pouco domínio da segunda língua. Valorizar as produções e socializar com colegas, família e outros professores de referência para o aluno o faz protagonista e autor no processo. Devemos dar  liberdade de criação e não priorizar correções gramaticais evitando assim inibir o aluno, mas fazê-las  de forma gradual e elas ocorrerão também naturalmente com o amadurecimento do nível lingüístico, nas relações com as leituras e outras produções.
O AEE para o ensino de Português deve ter como objetivo o desenvolvimento linguístico na modalidade escrita, mas sem perder de vista a contextualização e a significação desta aprendizagem o que garantirá a efetiva apropriação.

 

De: SZ.
Para: FB.

Olá F!
Nosso assunto agora é sobre o Atendimento Educacional especializado (AEE) e a formação de professores e intérpretes educacionais.
Na Escola X esse atendimento acontece de duas formas. A sala de recursos multifuncional instalada na escola no ano de 2010 atende todos os alunos que por uma ou outra razão a ela são encaminhados. Alunos com laudo médico que conste o tipo de dificuldade que esse aluno apresenta nas áreas cognitiva ou neurológica. Por falar em laudo médico, nunca as escolas se movimentaram tanto para conseguir laudos como nos últimos tempos. Constatada uma dificuldade, a família é chamada, a criança ou adolescente é encaminhada para avaliação médica e depois se houver necessidade, conforme diagnóstico então, a sala de recursos. Os alunos surdos da mesma forma.
Em nossa escola, os alunos da Educação Infantil as Séries Finais do ensino fundamental estão em classes especiais para surdos enquanto que os alunos surdos do Ensino Médio estão incluídos. O Estado não possui intérpretes para os mesmos. A direção da escola então remanejou professores bilíngues que se encontram em desfio de função, são esses os intérpretes do Ensino Médio, do 1º ao 3º Ano, lotados na sua vida funcional como atuantes em Salas de Recursos. Essa foi a forma encontrada para atender as necessidades dos surdos e da própria escola.
Os professores que atuam especificamente com surdos buscaram nos últimos anos a capacitação exigida e necessária para o trabalho que desenvolvem com os alunos. Embora o Prolibras seja uma forma de certificação, temos na escola apenas uma intérprete com formação específica. A escola dispõe de apenas uma professora surda responsável pelo Componente Curricular de Libras para surdos e ouvintes. Nossa escola possui na sua grade curricular Libras como Componente curricular para 5ª, 6ª e 7ª séries e para o 1º e 2º Ano do Ensino Médio.
Finalizando colega. A direção da escola tem buscado junto a Coordenadoria Regional de Educação mais recurso tanto humano (mais intérpretes, por exemplo) quanto material. Essa não tem sido uma tarefa fácil, fazer os órgãos públicos entender tudo que envolve a educação de sujeitos surdos. Fazê-los reconhecer principalmente a diferença linguística e cultural da comunidade surda seus movimentados e sua luta em defesa dos seus interesses. Para as autoridades a quem compete a destinação dos recursos parece resolvido o problema quando resolve oportunizar uma escola para todos, apresentando um discurso de “igualdade” sem observar os detalhes que permeiam as diferenças.


Cartas encontro 5: A escrita da Língua de Sinais como produção cultural e política da comunidade surda: qual o espaço dessa escrita nos currículos escolares?


 

De: EB.
Para: AD.

                      Olá A!

                    Hoje vou falar um pouco sobre o tema “Escrita da Língua de Sinais”, que para mim é um tema fascinante pelas possibilidades que nos apresenta para reflexões, discussões e, principalmente, pesquisa.
            Sabemos que a escrita da Língua de Sinais foi introduzida no Brasil por volta de 1996 pela Marianne Stumpf (primeira surda a escrever os sinais da LIBRAS), a partir de estudos e pesquisas realizadas com o Dr. Antônio Carlos da Rocha Costa e a professora Márcia Campos na PUC. As primeiras informações que recebi sobre a existência de “uma escrita para a Língua de Sinais” vieram através do meu trabalho na Escola Especial Concórdia, onde tive o privilégio de compartilhar minhas primeiras experiências na Educação de Surdos ao lado de colegas excepcionais como Marianne Stumpf e Lodenir Karnopp, entre outras que lá estavam.
            Nessa época eu e Marianne trabalhávamos com disciplinas extra-curriculares, que eram oferecidas aos alunos: eu com desenho arquitetônico (sou formada também em Engenharia Civil) e a Marianne com a informática. Numa determinada época, resolvemos desenvolver um trabalho paralelo entre essas duas disciplinas: os meus alunos produziam projetos e maquetes de residências e os alunos da Marianne reproduziam esses projetos no computador. Dessa parceria surgiu a possibilidade de estarmos mais próximas e trocarmos mais idéias sobre a Língua de Sinais e a sua escrita.
            Fiquei fascinada com a história da escrita dessa língua: em 1974, uma dançarina (Valerie Sutton) desenvolveu um sistema de escrita de línguas gestuais, inspirada no sistema escrito de danças (Dancewriting) que utilizava para ensinar seus alunos. O DanceWriting é um sistema de representação de coreografias, aplicado ao ballet e à dança em geral...fantástico!
            O signWriting, por sua vez, utiliza símbolos visuais que representam as configurações de mão, os movimentos, as expressões faciais e os movimentos do corpo da Língua de Sinais (utilizado também para escrever movimentos de qualquer língua no mundo). Ouvindo as falas empolgadas da Marianne sobre esse “sistema” tão complexo de escrita da Língua de Sinais, não fazia a menor idéia de como seria possível, através de sinais gráficos, representar configurações de mão, agregando ainda as expressões faciais e movimentos do corpo. Entretanto percebia que, aquela escrita que era tão difícil para minha compreensão, era naturalmente compreendida pelos alunos (Marianne já trabalhava, penso que desde 1997, a escrita da Língua de Sinais com os alunos da Escola Especial Concórdia).
            Marianne nos falava também sobre as possibilidades que a escrita trazia para a comunidade surda, de registrar qualquer outra forma de escrita como as produções literárias, dramatizações, histórias infantis, poesias, piadas e a própria história do surdo.
            Esses momentos de proximidade com a Marianne, suas falas, seu trabalho e o trabalho dos alunos com a escrita da Língua de Sinais despertaram o meu interesse em aprofundar meus conhecimentos sobre esse tema, bem como os resultados que o uso dessa escrita pode produzir nas produções culturais da comunidade surda.
            Sei que há um projeto (SignNet) de pesquisa e desenvolvimento para adaptar as tecnologias da informática (especialmente a internet) para o processo da Língua de Sinais na forma escrita que ela adquire quando se utiliza o signwriting. Portanto o SignWriting passa de um sistema escrito à mão para um sistema possível de ser escrito no computador.
            Há alguns anos atrás pude acompanhar um trabalho de pesquisa que foi realizado na escola em que trabalho atualmente: como o sistema Signwriting pode facilitar o processo de alfabetização e  letramento de crianças surdas usuárias da Língua Brasileira de Sinais. Com o recurso das tecnologias da informática (um programa desenvolvido pela própria pesquisadora) crianças da Educação infantil e primeira série (de quatro a sete anos de idade), numa primeira etapa da pesquisa, tinham que relacionar palavras em signwriting com seus respectivos desenhos, evidenciando o reconhecimento do significado de cada sinal gráfico apresentado. Numa segunda etapa, deviam realizar a leitura de uma pequena história em signwriting, que envolvia o vocabulário trabalhado na primeira etapa.
            Fiquei impressionada como as crianças dessa etapa de escolarização, que nunca haviam tido contato com o sigwriting, identificaram facilmente o vocabulário representado pela escrita da língua de sinais – olhavam o sinal gráfico e rapidamente representavam o sinal com suas mãozinhas, sem precisar do recurso visual dos desenhos.
            As conclusões da pesquisadora, com as quais concordo plenamente por ter acompanhado o desenvolvimento da pesquisa, indicam que a escrita de Língua de Sinais incorporada à educação das crianças surdas pode significar um avanço significativo na consolidação de uma educação realmente bilíngüe e aponta para a possibilidade de novas abordagens ao ensino da língua oral como segunda língua.
            Não sei ao certo quantas escolas de surdos tem a Escrita da Língua de Sinais em seu currículo, mas penso que é hora de nos posicionarmos sobre a importância dessa escrita e criar metodologias de ensino que permitam que o surdo possa aprender a ler e escrever na sua própria língua. Obviamente, nós profissionais da área da surdez (surdos e ouvintes), também precisamos nos apropriar do conhecimento dessa escrita para que possamos também interagir com nossos alunos nos diferentes espaços da escola.
            Todos sabemos o quanto a invenção da escrita foi importante para o desenvolvimento da cultura da humanidade; portanto, me parece óbvio que essa escrita de sinais poderá trazer avanços significativos para essa comunidade em relação à sua cultura e ao conhecimento de mundo.
            Espero que possamos no próximo encontro, aprofundar essas discussões e abrir novos caminhos para introduzir essa escrita, de forma oficial, em todos os currículos das Escolas de Surdos!
            Até lá!
                                                    E

 

De: AL.
Para: VV.

Olá V! Que bom ter sorteado você!!
Esta carta traz a temática da SignWriting, ou seja, a escrita da Língua de Sinais, que representa além de uma língua, a cultura, a luta e a identidade do povo surdo.
Tratar deste assunto é refletir sobre um tema que necessita ser mais pesquisado, divulgado e até desmistificado, assim como a Língua de Sinais e sua utilização em diferentes contextos sociais.
Fazer uso da SignWriting, é oportunizar a comunidade surda uma língua gráfica legítima e propulsora do desenvolvimento dos surdos. Logo, ao utilizar a SignWriting nos livros de literatura, dicionários e demais instrumentos de leitura estamos equiparando a língua de sinais as demais línguas com igual status.
Ao longo dos tempos, a Língua de Sinais não teve uma marca, um registro o que ocasionou muitas perdas quanto à história da comunidade surda, fato esse negativo que repercute na atualidade.
V, ao pensarmos no desenvolvimento e aprendizado dos surdos através de sua língua, devemos pensar na SignWriting como propulsora desses aspectos de forma positiva, por isso acredito que a escrita da língua de sinais é um instrumento autêntico do povo surdo. No entanto, não deve substituir o ensino e o aprendizado da língua portuguesa escrita, uma vez que o bilinguismo é propiciar a L1 – Língua de Sinais, podendo esta ser escrita e gestual-visual e a L2 – a língua portuguesa escrita, sendo que elas se complementam e embasam a construção integral do surdo.
Acredito que estudos nesta área são importantíssimos para ampliarmos os conhecimentos, estratégias, metodologias de ensino e aprendizagem, analisando os pontos significativos da SignWriting para os surdos.
V, espero que gostes da minha carta!
Atenciosamente;                                                                                                   AL

 
De: CH.
Para: J.

    Olá, querida J!
    Estou muito feliz em fazer parte do curso Memórias, Narrativas e Experiências na Educação de Surdos, abrindo novos conhecimentos e idéias sobre a forma de pensar e agir com alunos surdos, tornando importante para o meu crescimento junto da minha escola. Para mim está sendo muito bom, pois estou tendo outro olhar com a minha aluna surda, onde está se envolvendo, interagindo e se comunicando através de sinais. Nesta troca do dia a dia, estamos todos aprendendo muito com Ana Luíza e está sendo muito gratificante ver a evolução da aluna.
   Através de estudos notamos o quanto é importante para o surdo aprender primeiro a Língua de Sinais, depois a Língua Portuguesa.
   Para a criança surda conseguir se desenvolver melhor e ter uma boa inclusão na escola e na sociedade, é preciso aprender a Língua de Sinais, onde ela vai começar a conhecer o meio em que vive de maneira melhor.
   É através da Língua de Sinais que a criança surda inicia a alfabetização, aprendendo que sua língua é por configurações das mãos, gestos com o corpo e expressões faciais, assim trabalhando bastante a visualização.
   Sabemos também o quanto é importante aprender a Língua Portuguesa, que é obrigatória e cheia de regras tornando difícil seu aprendizado, em sala de aula. Com minha aluna surda, tentamos trabalhar o máximo possível a visualização, onde todas as atividades são bem chamativas em Língua de Sinais, mas sempre acompanhada da Língua Portuguesa, mostrando que existe duas Línguas e que a sua Língua é a de Sinais. Tenho maior prazer de passar o que aprendi em cursos que venho me qualificando, por que quero que a minha menininha surda tenha um belo caminho pela frente, conseguindo frequentar a escola, dando continuidade ao nosso trabalho, formando um cidadão de futuro. Sei o quanto é complicado para sua família humilde e cheia de problemas, mas com a força de vontade da mãe, temos a esperança de que a Ana conclua a escola e alcance vários objetivos na vida, por que sabemos da sua potencialidade e perseverança.
     Por isso a importância do afeto entre professor e aluno, assim formando um vínculo de amizade com a responsabilidade de ensinar e aprender novos conhecimentos.
     Com muito carinho que estou escrevendo esta carta. Um abraço!
     C.

 
De: K.
Para: CH.

Olá, CH já recebi uma carta sua, agora é minha vez de escrever para você. Espero contribuir com tema sobre a escrita da língua de sinais, assim como contribuiu para mim. Cada carta que recebo, percebo formas e pontos de vista diferentes dos meus, o que acaba deixando os temas sempre mais interessantes e enriquecedores.
Sabe C, infelizmente não trabalho em uma escola de surdos, também não tenho contato direto com surdos, o que dificulta o meu avanço no domínio da língua de sinais. Por isso, todos os temas dos quais tivemos de escrever até agora busquei informações através de ligações, emails, conversas e claro, nossa amiga inseparável: a internet.
Para mim, a escrita de sinais ainda é uma incógnita, gostaria de  saber e entender mais sobre ela. É uma pena! Já fiz alguns cursos relacionados à educação de surdos, porém, em todos a escrita de sinais foi dada muito superficialmente .Em outros sequer citaram essa escrita.
Já li e ouvi muita coisa em relação a Signwriting, mas o que não podemos questionar, é a importância que essa escrita tem. Como ouvinte, é claro que acho que para o surdo, quanto melhor ele dominar o português escrito mais oportunidades ele terá na sua vida profissional, uma vez que o português falado e escrito é a primeira língua do nosso país.
Mas como querer uma boa escrita em português, se a língua falada do surdo é gestual e não oral? Basta ler um texto escrito por um surdo! Sempre faltam verbos ou conexões na escrita, e isso não significa que ele não sabe escrever. Significa que é forçado a escrever numa língua que não é a sua. Qualquer um teria essa dificuldade,  seja surdo ou ouvinte.
O sistema de escrita SignWriting expressa as formas das mãos, os pontos de articulação, os movimentos e as marcas não manuais. Da forma como é expressa a SignWriting  mostra que essa escrita retrata a fala do surdo,
Em busca de informações para lhe escrever essa carta, conversei com uma professora da escola X, onde atualmente faço um curso de Libras. Perguntei a ela como funciona a escrita de sinais, como é ensinada e a partir de qual idade a criança começa a ter contato com essa escrita.
Ela me disse que quanto mais cedo incluir a escrita de sinais no ensino para as crianças melhor será, pois a criança tem uma facilidade maior para assimilar a  escrita. Porém, não existe a proposta do ensino da Signwriting no currículo escolar, e apenas algumas professoras trabalham a escrita de sinais com as crianças por iniciativa própria.
Enfim, acredito que ainda falta muito para uma educação de qualidade para os surdos, e infelizmente isso não é uma exclusividade dessa comunidade. Todo o ensino no Brasil precisa de melhorias, tais como um currículo que condiz com a realidade, melhor remuneração e capacitação dos profissionais.
Mas, existem profissionais que amam o que fazem, e claro acabam fazendo a diferença. Não podemos esquecer também que os surdos já ganharam muitas batalhas ao longo dos anos, como o reconhecimento da sua língua, lugar no mercado de trabalho, e direito à intérprete, entre outros.
Essas vitórias ajudam a fortalecer os direitos da comunidade surda, e claro, serve de exemplo para outras lutas. Quando um grupo se une de forma coerente e verdadeira as barreiras dão passagem para mais uma bela vitória.

Atenciosamente
K
 

Para: K.

Querida K.,
            A forma escrita da língua de sinais me era desconhecida até o início deste ano quando tive oportunidade de observar o trabalho de algumas professoras na Escola onde sou professora de Educação física, a princípio me pareceu indecifrável, um mistério, mas aos poucos pude perceber a coerência com os sinais e as configurações e me dei conta de que se pudesse aprender mais sobre ELIS poderia utilizar em alguma atividade com os alunos, o que ainda não aconteceu. Pude observar também durante as aulas de minhas colegas o interesse dos alunos em aprender e significar graficamente os sinais, como perguntavam, como vibravam ao incluir uma nova representação gráfica no seu dicionário.
            Ao ler os textos e baseada nesta experiência, concordo com as colocações das autoras sobre a importância das escolas incluírem a ELIS em seus currículos, mas me parece que há um descompasso entre a demanda necessária para implementar esta mudança e professores capacitados aptos a desenvolver este conteúdo, porque para tal deve também ser fluente em LIBRAS e conhecer muito bem os aspectos intrínsecos assim como os culturais desta língua.
            A representação gráfica dos sinais tem base alfabética linear e utiliza os parâmetros configuração de dedo, orientação da palma, pronto de articulação e movimento como base para representa-la graficamente, além de muitas outras especificidades como as descritas nos textos.  Ao ter que lidar com todas estas informações e representar mentalmente o objeto e o sinal a ser colocado na forma gráfica o aluno estabelece relações e novas redes de pensamento que contribuirão para o desenvolvimento linguístico e cognitivo.

 
De: JL.
Para:JM.

Cara colega,
Durante meu tempo  de trabalho, ainda não tive a experiência vivida do intérprete dentro de sala de aula. Sei da necessidade desse profissional para além das escolas e universidades, assim como, as demandas que essa profissão requer: boa formação, concursos, espaço e reconhecimento salarial,...
Sei também, por leituras, das mais diferentes  situações  que passam alunos, professores e profissionais intérpretes em sala de aula!
Como professora do ensino fundamental, me questiono como essas questões podem ser resolvidas, em quem  uma criança com o aprendizado da língua em processo vai ter referência ? Como entender e experimentar essa língua somente com um indivíduo? Esse profissional será professor também? Ele entende como essa criança aprende?
Também me reporto a necessidade do profissional intérprete em anos mais avançados, o acesso a informação e conhecimento pelo adolescente e pelo adulto. Sem isso como avançar na vida estudantil?
Vivemos uma fase de muitos questionamentos na educação de surdos. Vivemos um período que tem aberto outras interfaces  que necessitamos debater, estudar e reconhecer mudanças e ajustes.
J,
A construção do conhecimento é algo grandioso.
Participar da aquisição de conceitos e estruturação do pensamento de uma criança é algo fabuloso!
Tenho visto de longe a escrita de sinais há algum tempo, porém, há aproximadamente 2 anos convivo com uma colega que traz conhecimento do curso de Letras Libras, e venho sendo expectadora de um trabalho de iniciação a SW bem interessante que ela faz juntamente com outra  colega de ciclo.
Essa construção que faz a criança surda pensar a respeito de sua língua, sua primeira língua! Pensar sobre o movimento, sua estruturação e caracterização para posterior representação gráfica.
 Isso é construção de língua, de identidade, de aquisição de conhecimento,...
Bem, foi um prazer trazer essas breves narrativas para ti.
Um abraço,
JL.

 

De: JM.
Para: JN.

Prezada JN

Sou JM.Trabalho com surdos adultos no NEEJA CP MENINO DEUS (antigo Supletivo Estadual).Lá a maioria dos surdos está cursando o Ensino Médio.Poucos estão concluindo o Ensino Fundamental.
Quanto à escrita SIGNWRITING (escrita funcional para surdos) pouco sei ,além de algumas  leituras.
Penso que é algo que deve ser direcionado aos surdos que dominam a LS,LBS,LP e LPE.
Com um forte abraço,
JM.

 

De: IG.
Para: ST.

Olá, S! Vi que você também trabalha na Escola x, assim como a D para quem já escrevi duas cartas e A que foi minha colega na Especialização do AEE. De certa forma, já sinto uma proximidade com você!
Desta vez a temática desta escrita sai um pouco da área da inclusão e entra na área da linguística. Apesar da minha área de atuação no momento ser em escola na Sala de Recursos, no Curso Letras Libras – Bacharelado, no qual sou aluna, estamos mergulhados na linguística e estudos da Língua de Sinais em todos seus níveis gramaticais. Dentre as disciplinas cursadas – estamos terminando o 7º semestre - já tivemos também 3 disciplinas de Escrita da Língua de Sinais. Portanto, vou te contar um pouco do que aprendi e como foi a experiência.
Para lembrar um pouco de como foi este aprendizado fui até meu note na pastinha do 2º semestre do curso (já faz dois anos e meio que iniciamos este aprendizado). Bah, logo de início aprender SignWriting foi realmente assustador, como se fosse um teste para encarar o curso ou desistir de vez! E o polígrafo, então nem se fala: 210 páginas!! Mas acabou tornando-se instigante!!
Para explicar um pouco como surgiu esta escrita tirei uma citação do polígrafo:
“Valerie Sutton, do Center for Sutton Movement Writing, é uma especialista em sistema de escrita de movimentos. Os dois principais sistemas de representação de movimentos que ela desenvolveu são o DanceWriting (um sistema para representação de coreografias, aplicado ao ballet e à dança em geral ) e o SignWriting ( um sistema para representação de gestos, aplicado às línguas de sinais).” (p.3)

            Uma das grandes pesquisadoras que contribui nesta área aqui no Brasil é Marianne Stumpf. É importante deixar claro que este sistema de representação
“pode servir de base para essa forma escrita, mas que são as comunidades surdas de cada país (caso decidam realmente utilizar esse sistema para dar corpo à idéia de uma forma escrita para suas línguas de sinais maternas) que vão conduzir o processo de assimilação do sistema, processo que vai inevitavelmente introduzir modificações no mesmo.” (p.4)

            Portanto, ele não é oficial e definitivo, mas hoje se apresenta como o mais adequado para representação da língua de sinais.
            Três fatores básicos no aprendizado da Escrita de Sinais: 1º - é preciso ter um bom conhecimento da língua; 2º - é como se estivesse iniciando o processo de alfabetização; 3º - se não praticar a escrita e leitura você esquece. Foram 3 semestres que aprendemos (na verdade é um constante aprendizado!) sobre ela. A cada escrita, aquele baita polígrafo precisava ser consultado para lembrar de cada símbolo, configuração de mão, etc. Ah! Além disso, há um programa chamado SW-Edit desenvolvido através do Projeto SignNet (CNPq/ProTeM – UCPel/PUCRS/ULBRA) onde podemos formar sinais, frases e textos. Não é complicado de usar seus comandos, mas demanda tempo para apropriar-se da localização de cada símbolo que compõe esta escrita.
Com minhas palavras vou tentar te explicar um pouco como funciona. Um princípio básico: Você lê e escreve os sinais como se você estivesse olhando para suas próprias mãos, da sua própria perspectiva. Há um símbolo para cada configuração de mão, orientação da mão, dedos, movimento, contato, expressão facial e corporal, pontuação, etc. Outro detalhe importante: as frases são escritas na vertical e não na horizontal como a escrita comum. Portanto, o mais difícil é lembrar de tudo, necessitando consulta aos materiais. Este é um exemplo de frase que escrevi em uma atividade do Letras Libras (mas escrevi na horizontal quando estávamos começando a conhecer e exercitar a escrita):

Uma questão que me intriga: pra mim é mais difícil ler a escrita da língua de sinais do que escrevê-la... Nunca perguntei no Curso, mas hoje me deparei pensando nisso. Espero ter alguma resposta da palestrante desta temática em uma das próximas aulas.
            O que ficou bastante claro neste aprendizado: é que ainda há pouca divulgação e conhecimento desta escrita; já existem algumas publicações de literatura infantil; algumas escolas começaram o ensino da mesma; há usuários da língua que não aderiram nem querem aderir à esta escrita; acredita-se que a partir do Curso Letras Libras novas pesquisas e traduções podem surgir.
            Espero que tenha gostado da carta e que tenha lhe esclarecido brevemente sobre o assunto... Uma ótima semana!
I.

 

De: AR.
Para: LR.

Olá colega L!
Teria que te contar a minha experiência com S.W., mas como não tenho, fui atrás das pessoas que conhecem e encontrei dois pólos distintos:
Perfil 1: Mulher, surda, trabalha em escola estadual para surdos, outra particular para ouvintes, outra particular também, mas para surdos e em uma faculdade para ouvintes: Dedicada a LIBRAS, conhecedora fluente do português e também é oralizada. Perguntei então sobre S.W.: resposta rápida: NÃO GOSTO.... Acho difícil, perde o foco no português, se trabalhamos com o visual, precisamos das expressões (corporal e facial). A S.W. fica em 3º lugar pois 1º a LIBRAS depois o português e por fim, somente por apoio usa-se a S.W. e não como escrita.
Perfil 2: Homem, surdo, trabalha escola estadual para surdos, faculdade de ouvintes e professor de S.W.: Dedicado a crianças e a paciência da função docente, fluente e rápido em sinais. Perguntei porque gosta de S.W. : respondeu que para trabalhar com alunos que ainda não dominam o português fica mais fácil exemplificou que CASA e CARRO, são palavras facilmente trocadas pelos alunos, confundem, pois as duas começam com a letra C, usando os sinais e S.W. fica fácil distingui-las . Afirmou também, que precisa usar S.W. juntamente com o português e LIBRAS, sozinha não funciona.
Minha opinião: nunca tive contato, de longe parece difícil, mas a LIBRAS também, pra quem olha de fora, parece difícil, mas a duvida é: se eu conheço tantos surdos que tem pavor da S.W., será que vale apena tentar aprender e desvendar o “bicho papão”?
                                                          AR.
 

De: AD.
Para: ME.

Olá colega ME,

            Desculpe-me a demora, mas acabei me confundindo nas cartas e escrevi uma carta da para os dois assuntos da temática de Políticas de Inclusão Escolar de alunos surdos, o primeiro “que impactos e movimentos provocam nas escolas” e o segundo, com o conteúdo desta carta, “Atendimento Educacional Especializado (AEE), formação de professores e intérpretes educacionais”, então vamos começar a nossa experiência/narrativa.
            Recentemente participei do curso de Atendimento Educacional Especializado para pessoas surdas, promovido pela Universidade Federal de Uberlândia, o referido curso em sua terceira unidade, intitulada, Atendimento Educacional Especializado, remetia uma pergunta que não entendi muito bem, a pergunta é a seguinte: Atividade 18: Qual a finalidade de se enfatizar o “Especializado” se continuamos a pensar em um contexto pedagógico, com finalidades pedagógicas e com profissionais da pedagogia, pondo essas práticas antigas em funcionamento? Não estamos falando de um outro espaço, continuamos na escola. Inicialmente, não sabia se concordava ou discordava e teria outra briga com a minha tutora, mas no fim dei a seguinte resposta.
            Ultimamente grande parte das propostas de qualificação na educação e cidadania tem reservado uma atenção especial às nomenclaturas, algumas modificações gramaticais fazem real diferença no contexto dirigido, no entanto, penso que perdemos muitas oportunidades e tempo discutindo nomenclaturas, enquanto muitas atitudes  não acompanham a evolução gramatical.
            Acredito que as nomenclaturas seriam melhor entendidas se estes termos fossem articulados com mais ações intersetoriais e de cidadania/valores morais e civis. Entendo que uma das maiores dificuldades da inclusão está na transformação do sujeito, no respeito ao outro, que hoje em dia, parece uma virtude em extinção.       
            Quanto a palavra “especializado”, acredito ser perfeita para indicar o trabalho especifico  de qualquer profissão e/ou atendimento, pois é um indicativo de qualificação. Não vejo o termo de forma diminutiva ou pejorativa, e sim, como uma valorização e qualificação do trabalho.
            Penso que toda pessoa que trabalha e/ou convive com o deficiente deve conhecer o sujeito na sua totalidade para melhor trabalhar entendê-lo, isso inclui nomenclaturas de todas as áreas: sociais, educacionais, saúde, psicológica, etc. Afinal, a inclusão procura desenvolver o sujeito na sua integralidade.
           
            Hoje acho que responderia de uma forma diferente, primeiro, para situar o meu entendimento desta “finalidade” da pergunta faria uma citação do M. F.

A analise dos conteúdos léxicos define tanto os elementos de significação de que dispõem os sujeitos falantes, em uma dada época, como a estrutura semântica que aparece na superfície dos discursos já pronunciados; ela não se refere à prática discursiva como lugar onde se forma ou se deforma, onde aparece e se apaga uma pluralidade emaranhada – ao mesmo tempo superposta e lacunar – de objetos. (...) Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse “mais” que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever.

            O espaço/ambiente de ensino e aprendizagem é a escola e neste espaço tentamos fazer pequenas revoluções, não tentamos mudar o sistema, mas refletir sobre ele e desenvolver a inteligência coletiva.
            Não sei se respondi certo na época, mas agora eu tenho mais convicção no que defendo, é você, como responderia a esta pergunta?
            Abraço, até a próxima.
AD.

 

De: SD.
Para: JL.

Colega JL!
            Nem te conto que escrevi para outra colega sobre o assunto que deve ser abordado nesta carta para você. O que aconteceu foi que na “ânsia” de não deixar minha colega sem carta, me antecipei no assunto, ou seja, me atrapalhei um pouquinho... Por isto, te reencaminho quase a mesma carta escrita há semanas para nossa colega J.
            Bom, mas vamos lá, o assunto que devo abordar nesta carta é “A escrita da Língua de Sinais”... Tenho uma vaga lembrança de como passei a ter contato com o sistema “signwriting”, que nos foi apresentado pela colega de trabalho Marianne Stumpf, na época em que era professora, faz tempooo ou melhor alguns bons anos. Ela pesquisava na PUC esses códigos que mais nos pareciam uma escrita japonesa. Muito estranho e pior extremamente difícil para o nosso entendimento na época, mas os alunos aos poucos se mostravam interessados e até pareciam entender melhor que nós professores.
            Com isso, a escola que era na época era vista como pionera, foi “enfeitando” com algumas etiquetas os lugares e até objetos (salas de informática, biblioteca, refeitório, mesa, cadeira, quadro, etc...). Nessas etiquetas tinha a escrita no português e na língua de sinais. Mas pena que o projeto não foi levado adiante. Talvez pelo sentimento dos professores ouvintes e até mesmo de alguns professores surdos que logo no primeiro contato ficaram APAVORADOS, com certeza por terem dificuldades de entender. E para isto ser levado adiante precisaríamos estudar muito.
            Lembro que na época seguíamos a filosofia da Comunicação Total, que como sabemos, usava todos os recursos para o surdo melhor entender o mundo e se comunicar. Mas nosso foco sempre foi na necessidade do aluno escrever o Português, imagina, pensávamos que já era difícil escrever aquela língua que a sociedade exigia pior seria “perder” ou ter tempo para ensinar aquilo que nem nós sabíamos. Foi bem polêmico, e acho que algumas vezes ainda é...
            Mas depois com o tempo, as pesquisas ficaram mais distantes da escola, e nós professores na época esquecemos um pouco o assunto. Mas ainda bem que colegas antigos e novos seguiram com os estudos nesta área. Meu contato de um tempo para cá vem sendo com os livros infantis publicados, que se beneficiam com as duas línguas escritas (Port. e L.S). Confesso que tenho dificuldades, mas sei bem que elas surgem pela minha resistência em aprender essa modalidade.
            Penso que a comunidade surda ganharia muito se projetos fossem levados a sério e adiante em termos de investimento para que se pudesse realmente saber o valor que a escrita da língua de sinais tem na alfabetização das nossas crianças e nossos jovens surdos.          
Foi só isso que escrevi, percebi relendo que foi mais do que um recordar! Oh... talvez um desabafo? Assim te mando tal e qual escrevi há algumas semanas.
                
                                      Um abraço, SD.

 

De: L.
Para: DE.
D!
Pouco conheço sobre a escrita de sinais, mas acredito que seja um caminho que possa atingir bons resultados na educação dos surdos. Na escola em que desenvolvo minha prática docente não utilizamos a escrita de sinais no processo educativo, mas as discussões a este respeito nos indicam significativas mudanças para os alunos que conhecem este sistema de escrita.
Gostaria de saber como desenvolver as atividades em Sing Writing, na escola desenvolvo a compreensão do vocabulário com desenhos dos sinais, mas não se compara com o sistema escrito, entretanto percebo uma facilidade em realizar atividades posteriores com partir do entendimento e visualização do material de apoio de forma clara.
Espero que você possa compartilhar tuas experiências e contar como tua escola trabalha e se já utilizam da escrita de sinais poderia me ajudar a desenvolver junto dos meus alunos outra possibilidade de perceber o mundo gráfico.

Abraços.

 
 De: JN.
Para:  ALD.

Ola A!
Antes de começar o assunto tema desta carta propriamente dito, gostaria de dizer que tenho admirado as colocações que fazes  em aula. Pareces alguém bastante esforçada em fazer o teu melhor dentro das possibilidades que tua escola oferece.
Quanto a questão da escrita de sinais (SW) eu não tenho muito conhecimento ou experiência na área. Bem, na verdade acredito que sejam poucas as pessoas que tenham esse conhecimento por enquanto.
Bem, tenho algumas opiniões, mas que não passam disto, pois acredito que sem um conhecimento especifico sobre um assunto fica complicado argumentar. Sei que há divergências na comunidade surda sobre o assunto, alguns são totalmente a favor da escrita de sinais, enquanto outros tem uma visão semelhante a minha.
Primeiramente eu vejo que o ensino do SW não pode substituir o ensino do português escrito para o surdo, pois afinal esta é a língua que está nas legendas, nos rótulos, placas, livros, bem, é a escrita que está em todos os espaços da sociedade. Acredito que a escrita de sinais no futuro poderá ser encontrada em mais espaços, como nas escolas de surdos, em alguns livros, mas não creio que possa se mostrar tão presente como o português.
Compreendo que a língua de sinais escrita diferentemente do português tem uma relação direta com a língua de sinais e que portanto teoricamente há uma facilidade em apreender esse código de escrita e  vejo que pode ser útil para os registros dos surdos, mas não creio que facilite o processo de tradução para o português.
Vejo que o SW auxilia no processo de registro da língua de sinais, uma estratégia para além da filmagem, ou dos desenhos dos sinais, que neste último caso, dependem de habilidades que nem todos o possuem.
Na escrita de sinais encontra-se registrado o sinal completo, com movimento, locação, expressão facial, enfim, nesta escrita está o sinal tal e qual ele é. No entanto ainda não conheço surdos que apresentem facilidade na leitura desse código.
Bem, minha carta finaliza por aqui, quase um bilhete, sei disso, no entanto eu não teria muito mais a dizer e não quero me estender sem necessidade.
Acho que a escrita de sinais vai dizer a nós suas possibilidades e méritos, pontos negativos e positivos, ao longo do tempo. Acho que ela poderá ser vista no currículo das escolas de surdos em pouco tempo. Agora, a questão será se ela permanecerá nesses espaços ou não, isso depende muito dos usos que fizerem dela e dos resultados que ela trouxer ao aprendizado dos alunos.
Abraços, JN.

 

De: LR.
Para: ML.
Oi M!
                        Quisera eu redigir essa carta em língua de sinais, mas, como não tenho um programa computacional para isso (existe, não?!) e também só tenho uma brevíssima noção do sistema notacional, fica pra uma próxima (Sonha, L., sonha!). Me restringirei a assinar meu nome, mas isso é só lá no final da carta: espere, haha! Bah, falar sobre a escrita da língua de sinais...tem zilhões de vertentes sobre o assunto: como fazer, como ensinar, pra quê ensinar, onde circula, recepção e produção, importância dela no ensino, acessibilidade, e assim por diante. Bem esperta que sou (ho ho ho) vou deixar tudo isso pra Érika explicar pra gente quando for a vez dela. Vou me restringir (de novo) a falar sobre uma experiência que tive com a E (ou Signwriting). vou usar a sigla E pra não precisar ficar escrevendo toda a hora por extenso, e ao utilizá-la, não estou me referindo ao sistema que tal sigla comporta (porque tem uma diferença, né?). Tipo, E é uma coisa, Signwriting é outra, e assim por diante (É: me corrija se eu estiver errada!). Aqui vou usar a sigla descomprometidamente .
            No ano passado participei do II Congresso de Pesquisas em Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais, na UFSC. Foi muuuuito legal. Lá, a R e outros, fizeram, com muito orgulho, propaganda da edição nº 26, vol. 2 (2010), do Cadernos de Tradução. Pois bem, a bendita edição trata especificamente da tradução de Língua de Sinais e temas afins. Legal, né? Aproveitei a oportunidade para adquirir meu exemplar fofinho. Qual não foi minha surpresa, e aí começa minha história mesmo, ao me deparar com um dos artigos, intitulado "Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais: Formação e Pesquisa", que, à exceção do título, resumo e abstract, era TODINHO E!!! M: te coloca no meu lugar, louca pra ler o artigo da R e da Marianne...como você reagiria?
(   ) 1ª opção  Surpresa, contentamento - "Puxa, que oportunidade de divulgação da ELiS!"
(   ) 2ª opção  OOoOoOps, desconfiança - "Aimeudeus! Como eu vou ler isso aqui?!"
(   ) 3ª opção  Nenhuma das anteriores - "Que ótimo! Um artigo interessante para eu praticar   minha leitura da escrita da língua de sinais."


Pois eu passei pela 1ª e 2ª opções. Se você marcou a 3ª, direi pra mim mesma: Morra de invejaaaaaa, L!!! Hehe! Não botei como opção, porque trago agora como reflexão final o que realmente, pensando bem, me ficou e marcou ao ver esse texto: impotência. Impotência por não poder lê-lo; por ficar privada de informação, conteúdo e conhecimentos; por desejar e não conseguir lê-lo; por ficar à margem; por ser discriminada pela ausência de conhecimento da modalidade escrita de uma língua. Ressentimentos à parte, passei e senti o que muitos surdos sentem e passam ao quererem, tentarem, ou terem que ler um texto em língua portuguesa. Bah, M, é muito difícil. Uma vez, ouvi alguém dizer que a E não tinha utilidade nenhuma: "Você já viu uma Veja, IstoÉ ou Zero Hora, escritas em Língua de Sinais?". Naquela época concordei. Hoje discordo e diria ao sujeito para que ele tomasse umas boas doses de empatia. Na veia, pra ver o que que é bom pra tosse, digo pra consolidação de um lugar político, cultural e educacional.

Bom, querida M, eras isso o que eu tinha pra te contar.


E, agora: tchanãnãnãmmmmm ...


 
De: MG.
Para: CS.


AEE, este trabalho Pedagógico, sendo realizado em Escolas com professores preparados com Libras, e principalmente que gostem de enfrentar desafios e tenham junto no corpo docente professores surdos eu acredito que vai ser uma troca muito rica de conhecimentos.
As aulas devem ser sempre planejadas apartir do conhecimento do aluno na Língua de Sinais. Temos hoje bons Livros didáticos para Surdos, que com certeza auxiliam os professores na elaboração dos conteúdos.
Escrita da Língua de Sinais

Perfil - 01
É importante o aluno surdos aprender a Escrita da Língua de Sinais assim como o Português quanto mais novo ele começar a aula melhor.

Perfil - 02
Quando o aluno entre na escola com mais idade, sem estímulo da família, as vezes com falta de concentração, muito agitado, tem mais dificuldade para aprender a
Escrita da Língua de Sinais, e exige mais atenção do professor, que tem que criar na sala de aula exercícios que estimulem este aluno e chamem a atenção dele.

 

De: R.
Para: AD.

    Oi novamente, AD!
    Que legal! É a segunda vez que te escrevo!
    Nesta carta a tarefa é de refletir sobre a escrita existente para os surdos e o quanto ela é significativa.
     Entendo que a escrita da língua de sinais é necessariamente aprender a ler e a escrever em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), onde permite que a criança tenha a possibilidade de contar com uma representação mental indispensável para seu desenvolvimento cognitivo.
     As crianças surdas ao escreverem expressam suas ideias graficamente conforme a sua compreensão da língua de sinais, ou seja, elas escrevem de acordo com a língua sinalizada. Juntamente com o sinal, existem outros componentes significativos como: configuração de mão (CM); locação de mão (LM); movimentos da mão (M); orientação da mão (OM) e expressões não manuais (ENM) que significam expressões faciais e corporais. A expressão facial e os movimentos com o corpo são muito importantes para as línguas de sinais e também podendo ser representada na escrita de sinais.
     Para as crianças surdas, a compreensão da estrutura da língua acontece naturalmente no contato com a língua. Elas têm mais interesse na escrita de sinais porque representa a própria língua.
     Na escola a alfabetização na escrita de sinais pode ser desenvolvida, pois possui semelhança visual à língua de sinais, podendo ser gradualmente adquirida através da utilização de códigos de comunicação e do processamento do aprendizado que se inicia com o alfabeto. Neste momento é muito importante à introdução da escrita da língua de sinais como apoio a esta alfabetização, visto que para os alunos surdos o visual torna-se necessário.
     O uso da língua de sinais como forma de comunicação dentro da sala de aula é condição indispensável para que a educação aconteça. Aprender a escrever nas duas línguas seria uma consequência lógica para a criança surda. É muito importante que os alunos surdos tenham acesso às duas línguas, a língua portuguesa e a língua de sinais, mas isso só poderá ser bem alcançado, quando a escrita do português for introduzida depois da escrita de sinais, estimulando assim, a leitura e a escrita.
     Para finalizar, acredito que as escolas de surdos precisam colocar a escrita de sinais no currículo. Ela deve ser ensinada, estimulada, proporcionando oportunidades importantes para os surdos aprenderem também a língua de sinais.
     Foi um prazer escrever para ti sobre este assunto! Gostei muito!
     Um abraço e Boas Festas!
     Com carinho... R.
      
 

De: S.
Para: AT.

Olá
Vou fazer um pequeno relato da minha experiência com a escrita de sinais...
Este ano, na Escola S a proposta de trabalho para os alunos do 2º ciclo foi à escrita de sinais.
As professoras, referentes das turmas, iniciaram o trabalho partindo da escrita espontânea dos sinais dos alunos. Os resultados foram surpreendentes!!
A cada hipótese criada pelos alunos desafiava mais as professoras que buscaram sempre novas propostas de atividades.
Sempre que podia participava das aulas, indagando, questionando esta escrita que para mim era uma coisa nova.
Acredito que a capacitação e conhecimento do processo de aprendizagem da escrita dos sinais que as professoras têm, fizeram a diferença para os nossos alunos.
Mas o que mais me chamou a atenção foram os relatos das professoras:
“ o aluno D. surpreendeu .... com as dificuldades que tem na aprendizagem conseguiu“
“ ficou mais fácil a leitura para os alunos”
“estamos transcrevendo os livros em escrita de sinais ... os alunos estão com mais interesse na leitura.”
Finalizo destacando a importância da formação do professor que trabalho com aluno surdo.
Um abraço
S
 

De: ST.
Para: SZ.

Colega ST!

Desta vez me pareceu menos difícil escrever a carta, por que já sabia para quem iria enviar. Ao mesmo tempo, o que dificulta a escrita é o pouco conhecimento sobre os assuntos abordados no curso. Acredito que tenho sido repetitiva quando escrevo isto, mas é o que sinto até este momento.
Ao precisar falar sobre as Políticas de Inclusão Escolar de alunos Surdos, vejo que se referem aqueles alunos que estão matriculados em Escolas regulares, onde estarão estudando alunos ouvintes e não ouvintes na mesma sala, tendo o mesmo atendimento, com a diferença que o segundo aluno terá o apoio do intérprete para traduzir o conteúdo que professor estiver trabalhando com a turma.
Parece-me que essa forma de atendimento não está sendo bem aceita pela comunidade surda, que é o principal interessado. Por que dessa maneira, quando haverá troca entre seus pares, se estão em várias escolas, convivendo principalmente com alunos ouvintes?
Entendo que o contato com seus iguais fortalece a sua identidade e o desenvolvimento da libras, principalmente para quem ainda precisa ampliar tais conhecimentos. Sendo que frequentemente o contato dos alunos com a libras se dá apenas na escola. Como ficariam esses alunos nas escolas regulares? Será que não ficarão esquecidos nas salas? Será que encontrarão professores preocupados com essa realidade? Talvez!
Termino aqui a minha carta com estas interrogações.

Um abraço!
                             SZ.

 

De: VG.
Para: JU.

Oi JU, já te conheço, mas não convivemos em todos os momentos. Assim, achei ótimo quando te sorteei para contar histórias.
Pensei primeiramente em histórias contadas institucionalizadas e conhecidas por todos nós que trabalhamos muitas vezes nas mesmas escolas.
No entanto, a história que agora divido contigo, por infelicidade  é certamente triste e realmente não sei o seu desfecho.
Talvez, por este motivo tenha sido a escolhida, por ainda me causar desconforto.....
Conto a ti algo que lembro vagamente.
Desde que me entendo, tenho minha mãe trabalhando na febem, hoje fase.
Durante meus 10 ou 9 anos lembro de uma moça, um pouco resmungona chamada maria odete ramos. Era interna da fase e a pouco minha mãe ajudou-me a saber mais sobre ela.
Em minhas lembranças, recordo uma moça negra, agitada, que confiava em poucos, residente da febem, gostava realmente muito de música, vivia entre os internos com deficiência mental do instituto cônego de nadal em viamão.
Naquele período minha mãe trabalhava na cozinha deste local, e odete, por ser mais esperta e rápida que os demais era convidada a participar dos afazeres da cozinha em troca de um salário organizado pela instituição.
Sei, com clareza, que não existia forma de comunicação adequada. Lembro que ela repetia muito bem as funções que lhe eram ensinadas, participava de algumas brincadeiras e era bastante observadora.
Hoje, pergutei mais sobre ela para minha mãe, que me esclareceu que odete viveu até seus 10 anos de idade em nova esperança, onde ajudava a família em serviços domésticos na casa dos patrões de sua mãe. Talvez sofresse de maus tratos (pois tinha várias marcas em seu corpo) e com certeza era abusada sexualmente. Motivo este que autorizou o estado ter o poder legítimo de sua guarda. Neste período ela iniciava o trabalho em prostíbulo da região, com a orientação de sua mãe.
Recordo de ver a odete, minha mãe explicando afazeres na cozinha e como realizá-los e de algumas vezes ela ter a autorização de passar um dia ou final de semana conosco.
Soube outros relatos ainda:
Ela nunca gostou de usar aparelhos auditivos, gostava de música, não gostava que mostrassem namorados ou de ver brigas, era ótima cozinheira, e tantas outras histórias que não soube.
Acredito que esteve em casa para deficientes mentais porque era brava em muitos momentos, e principalmente porque funcionários das instituições, juizes de direito, acessores e assistentes sociais realmente não a compreendiam por nunca existir o acesso, para eles, na instrumentalização de uma língua viável ao entendimento de ambos.
Perto de seus 30 anos, ela retorna a sua cidade de origem e realmente não sei mais de sua história.
Fico agora com um vazio, por compreender um pouco mais de sua vida realmente muito, muito mais tarde e por não haver conseguido auxiliar em nada.
Desperta-me também o entendimento de que no interior de nosso estado ainda possam acontecer outras histórias parecidas com esta, e isto preocupa-me.
Bem, acho que nosso papel é esse: o entendimento e a capacitação. Para que menos histórias tristes possam ser contatas.

Grande beijo!
Com carinho,VG.

De: SZ.
Para: RE.
Oi R!
Tudo bem com você? Eu sou a S e é um prazer escrever esta carta para falar sobre a escrita da Língua de Sinais.
Na escola onde trabalho a língua escrita de sinais não é utilizada. Foi no curso de capacitação na área da surdez que aconteceu meu primeiro contato, foi também o momento que entendi que aqueles aparentes “desenhos” que via nos trabalhos dos alunos, eram na verdade o sistema de escrita para a línguas de sinais, o SignWriting. Um sistema pouco conhecido e da mesma maneira pouco utilizado.
Os trabalhos aos quais me referi anteriormente eram o resultado de um projeto da Universidade de Santa Cruz do Sul que foi aplicado na escola. O projeto tinha como objetivo “investigar como se processa a construção do conhecimento de crianças surdas através de tecnologias disponíveis para o uso de SignWriting em ambientes telemáticos” (THOMA e PELLANDA, 2006, p. 131). Porém, os professores ouvintes se mantiveram distanciados, talvez porque a Língua de Sinais consiste em um sistema complexo diferente da Língua Portuguesa, que demanda estudo e muito conhecimento, ainda muito estranha para esses professores.
O projeto foi aplicado em duas oportunidades, porém, não teve mais sequência, assim, muitos alunos acabaram esquecendo essa prática.
Sempre tive curiosidade a respeito da produção diferenciada da escrita do sistema de sinais. Como já te falei, conheci superficialmente essa escrita, mas o suficiente para compreender que existe a possibilidade de escrita para a língua natural dos sujeitos surdos e não apenas a língua ortográfica/alfabética. Pois todos sabemos da importância dos registros escritos da cultura de um povo. Percebi através de leituras as contribuições que essa escrita apresenta na aprendizagem dos sujeitos surdos em autores que tratam do tema como Capovilla (2004) e Stumpf (2004).
Nesses últimos dias fiz algumas leituras a sobre SignWriting e observei que debates aconteceram entre os alunos do curso de Letras Libras da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Nesses debates aparecem as defesas da sua utilização e aplicação da mesma nas escolas de surdos e suas implicações na escrita da Língua Portuguesa.
R, penso que, se os debates estão acontecendo é porque os movimentos também estão em pauta. Compartilho da ideia de que o conhecimento desse sistema seja muito importante para os surdos, por consistir: “(...) uma produção cultural que, segundo investigações tem comprovado, promove a linguagem, o pensamento e a aprendizagem dos surdos de forma mais efetiva do que a grafia da língua oral tem permitido” (THOMA e PELLANDA, 2006, P. 152).
A escrita para as línguas de sinais se mostra como uma possibilidade e requer juntamente com a língua visual, profundo conhecimento por parte dos envolvidos na educação de surdos. Demanda investimento e especialização, e quem sabe o fator mais importante: a presença de professores surdos.
A presença de professores surdos nos ambientes de aprendizagem, como a sala de aula, oportuniza o contato da criança surda, com um surdo sinalizador, mais do que usuário da mesma língua, mas o contato com o agente que se constituiu em um sujeito cultural.
Se existe a possibilidade da introdução do sistema de escrita própria das línguas de sinais, cabe aos profissionais envolvidos em educação de surdos estudá-la e colocar em prática uma experiência que pode contribuir como o melhor aproveitamento da capacidade cognitiva do sujeito surdo. Podemos continuar essa nossa troca, gostaria muito de saber teu posicionamento. Um grande abraço.

 
De: VV.
Para: R.
Olá, querida colega R!
             Desculpa pela demora da carta!
             Para que pudesse escrever sobre a temática da SwingWriting, ou seja, a escrita da Língua de Sinais, realizei algumas pesquisas e leituras acerca do assunto. Antes de saber do que se tratava, eu pensava que a escrita de sinais eram os formatos das mãos do alfabeto escrito e sinais desenhados. Surpreendi-me quando tomei conhecimento do que é realmente a SignWriting.
 A estrutura do sistema de representação do SignWriting inclui informações referentes às mãos, movimento, expressão facial e corpo. A expressão facial e os movimentos do corpo são muito importantes para as línguas de sinais. A estrutura do sistema abrange:

  • Orientações e posições de mãos
  • Tipos de contatos
  • Configurações de mãos
  • Movimentos de dedos
  • Movimentos de braços e apontação (retos, curvos, flexões rotação, circulares)
  • Expressões faciais
  • Localizações de símbolos da cabeça
  • Movimentos de cabeça
  • Orientações de olhar
  • Movimentos de corpo
  • Símbolos de pontuações
  • Dinâmicas de movimentos           
            O SignWriting representa uma língua, cultura e identidade da comunidade surda e, quanto mais for utilizada e divulgada, mais será desmistificada.
            Concluo com duas citações de autores, que encontrei sobre a escrita de sinais:
Valentini (2005), diz que o sistema SignWriting pode servir de suporte a uma nova proposta pedagógica ao ensino da escrita de língua de sinais e letramento para crianças surdas usuárias da Língua Brasileira de Sinais – Libras”.  E Dallan (2009), no II Congresso Nacional da Surdez, ocorrido em São José dos Campos – SP, colocou que através de seus estudos, percebeu o sistema SignWriting como um poderoso aliado  “no processo de ampliação de conhecimento de mundo por parte desses sujeitos aprendentes, capaz de produzir ganhos cognitivos significativos, uma vez que é adequada à escrita de uma língua visual/espacial como é a Libras”. 
R, espero que tenha gostado da minha carta. Continuarei a pesquisar e realizar mais leituras acerca do assunto, pois achei muito interessante!
Grande abraço!
            V.
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